Manuel Igreja
As portagens do nosso descontentamento
Neste nosso país, dotado de uma das mais excelentes redes de autoestradas da Europa, logo também do mundo, de oras em quando levanta fervura a questão do pagamento de portagens em algumas delas.Agora, por estes dias com nova governação a coisa anda de novo na baila. Não admira.
Por interesse de alguns que colocaram os recursos financeiros inventados lá fora, e para jeito de muitos, de nós todos no fundo, rasgou-se o território de lés -a- lés com rodovias muito rápidas e muito cómodas. O problema é o resto. O quanto se paga para circular nelas, algo completamente fora de mão e de posses.
No fundo, podemos dizer que temos belos e modernos automóveis, de um modo geral, temos vias que apetece andar nelas, mas custa caro. Muito caro. Gasta-se tanto em portagens como em combustível. Daí em parte os protestos. Uns liberais de pacotilha, ou defensores de quem no momento governa, dizem estar certo, porque quem utiliza, deve pagar. Outros, por serem contra a situação, ou por convicção, dizem-se arreliados afirmando-se injustiçados e roubados.
Para nos situarmos melhor na questão, temos no entanto de fazer marcha atrás indo ao ponto em que a coisa começou. Em tempos que já lá vão, quando as vacas pareciam gordas mas mais não estavam do que inchadas, construíram-se vias rápidas, que não propriamente autoestradas nas zonas tidas como mais isoladas e longínquas sem que fosse necessário pagá-las através de portagens.
Era a época da discriminação positiva. Dizia-se. O interior, com os seus residentes tinha de ter acessos potencializadores de desenvolvimento económico e social de forma a não mirrar. Infelizmente em grande parte aconteceu o contrário por razões que não vêm agora ao caso se vossemecês me permitem. Foi bom no entanto para cada um individualmente, já que se pode ir laurear a pevide com muita rapidez e comodidade.
O pior é o resto, onde a porca torce o rabo. Pagar ou não, eis senhores meus a questão que se coloca. Quanto a mim, no caso concreto das antigas SCUT´S defendo que sim e defendo que não. No meu modesto modo de ver, a questão tem vindo a ser mal colocada desde o início. Julgo que se perdeu e se perde a contenda, quando se defende que se não deve pagar seja o que for.
Partindo do pressuposto evidente de que com o desenho das novas centralidades estas vias mais não são para os residentes do que meras estradas para a circulação dentro da urbe que se alargou nasrespectivas comunidades, estes devem estar isentos de portagens, não na totalidade da autoestrada, mas somente nos troços que fazem parte integrante da cidade descontinuada no território.
Hoje em dia, qualquer observador mais atento se apercebe de que o largo da aldeia se estendeu para lá dos limites locais mais exíguos e chegou até à cidade de média dimensão imediatamente próxima em distância e em identidade. Andar para cá e para lá para tratar de assuntos quotidianos ou em momentos de lazer, integra o quotidiano dos cidadãos. Os muros do local vão caindo à medida que o universal se vai estendendo. É a vida em progresso. Urge pois que haja também desenvolvimento ao dispor de todos.
Nós no interior pagámos impostos que ajudam a suportar infraestruturas e equipamentos ao dispor no litoral e nos grandes centros urbanos. Nada mais justo então que nos diferenciem positivamente. Se outros no conjunto que é o todo pagarem um pouco para nós, não estará mal. Digo eu.
Injusto e insano é o que se está a passar, nomeadamente no caso concreto da A 24 para falarmos no que nos toca mais directamente. Dizem para aí que por falta de carros o negócio não rende o que devia render e dado isso, quem manda cortou nas despesas apagando as luzes para poupar. A segurança troca-se pela poupança na coluna da folha de Excel.
Bem sei que os dias vão sendo cada vez menos para as pessoas e mais para os números. Mas por favor, lá longe lembrem-se que uma nação é feita e de para os cidadãos. O resto são vias para lado nenhum mesmo que pareça o contrário a quem enxerga muito pouco e só ao perto.