Barroso da Fonte

Barroso da Fonte

Até no Futebol Trás-os-Montes mostra o que vale

A Casa Regional de Trás-os-Montes e Alto Douro, com sede no Porto, através do seu Presidente da Direção, João Rodrigues, natural de Vinhais, enviou uma calorosa saudação a toda a Comunidade dispersa pela Diáspora, pela subida do Grupo Desportivo de Chaves da II à I liga de Futebol.

«Ainda esta semana colocaremos a bandeira do Chaves, bem alto» na varanda da nossa Casa.

O Orgulho de sermos Transmontanos e Alto Durienses passa por estarmos com os que honram, dignificam, promovem e defendem os nossos valores nos diferentes campos de actividade. Bem hajam!»

Desceu em 2019 e acaba de ascender, pela 17ª temporada, depois de uma época madrasta pela pandemia. Na época passada foi afastado pelo Tondela e, este ano, só a meio da segunda volta, ultrapassada a carrapata da COVID-19, se aproximou do Rio Ave e do Casa Pia que subiram diretamente.

Esta subida representa uma promoção regional, através do Futebol e a região Transmontana apesar de não dispor de parques industriais, de um comércio forte e diversificado e de das vias de acesso, do rigor dos invernos e do menosprezo sistemático das arbitragens que temem as longas e incómodas vagens, Vítor Campelos superou-se e fez da equipa Flaviense uma família desportiva que desde há muito não se via, nem se sentia, em Trás-os-Montes. Essa declaração de interesses revelou-a, imediatamente, a seguir ao jogo, em Moreira de Cónegos, em conferência de imprensa. Aí nascera e crescera. Uma coerência desportiva que aos 47 anos de idade, em poucos clubes essa humildade se confessa. De resto esse jogo pela sua importância para ambos os clubes, pelas boas relações técnicas, desportivas e cívicas, foi um verdadeiro hino ao desporto. Uns chorando de alegria, outros de tristeza. E sem qualquer ocorrência negativa.

Esta época vai fazer parte da história do Grupo Desportivo de Chaves, por diversas razões. A primeira pelo facto de marcar os 73 anos de vida do Clube Transmontano. Nasceu em 27 de Setembro de 1949, da fusão de dois clubes locais e rivais: do Flávia e do Atlético. Entenderam os promotores que resultaria no Grupo Desportivo de Chaves. Na época de 1972/73, por falta de meios financeiros e de dirigentes interessados, o então presidente da Câmara Agostinho Pizarro, convidou os chamados Amigos do Desportivo, para uma reunião na Câmara, à espera que surgisse uma lista que aguentasse o clube por mais um ano. Perante a dificuldade de se extinguir o clube quando faltava cerca de um mês para se iniciar a época 72/73, dois professores de educação Física do Liceu, um Licenciado e efetivo e outro oficial miliciano Ranger, regressado da guerra em Angola, e docente eventual, foram incentivados a formar uma lista de entre os presentes. Só que o Prof. Ascensão Mendonça, mais calejado, no mesmo dia, disse ao eventual que não aceitava liderar a lista e que iria comunicar ao autarca a sua desistência.

É claro que o ex-combatente, com aquele espírito de Transmontano que foi sempre a sua melhor qualidade, assumiu o encargo e constituiu a lista que formara e que levou o Desportivo, pela 1ª vez, da 3ª à 2ª divisão. Mais grave: nessa mesma temporada, o Desportivo de Chaves ganhara o Campeonato da sua zona. Mas o Lourosa, que ficara em 3º lugar, «comprou» os dois resultados que perdera com o Valpaços. E a Federação Portuguesa de Futebol, deu cobertura à fraude, o que provocou em: Chaves, na Vila das Aves, em Stº Tirso e em Lourosa, o 25 de Abril, antes de dar no Pais, 2 anos depois. em 25 de Abril.

 Quarenta anos depois, em 2013, o ex-Combatente que assumira a formação diretiva que levou o Desportivo da III à II divisão, em 1972/73, reuniu, no livro «Da Humilhação à Glória, o caso que abalou o futebol Português, na época1972/73», os documentos, recortes, entrevistas e histórico do Grupo Desportivo de Chaves.

Este mesmo Transmontano, foi processado pela Federação Portuguesa de Futebol, por ter ido à Praça da Alegria exigir, com outros, o alargamento de 12 para 16 clubes, de modo «encobrir» o maior escândalo que até essa data, se tinha dado a nível nacional. Neste livro se publicam todos os elementos, as provas e decisões desse escarro desportivo de que o referido combatente era Em 15/5/1974 a FPF respondeu a esse processo nestes termos: «cumpre-me comunicar que o Conselho de Disciplina na sua reunião de 15 do corrente deliberou, ao abrigo do despacho do diretor geral dos Desportos, de 3 do corrente, considerar amnistiada a falta de que era acusado».

O cidadão que assina este ensaio desportivo,meio século depois de ter protagonizado, com outros, o percurso do Grupo Desportivo de Chaves, nutre pelo Clube Transmontano e por tudo aquilo que envolve este espírito messiânico da Terra, das Pessoas, das crenças e dos usos e costumes, os mesmos valores, as mesmas crenças e o mesmo orgulho.

 Ao fazer esta confissão, meio séculos depois, pelas mesmas causas e pelos mesmos motivos, exaro nesta tribuna do Diário de Trás-os-Montes, a minha solidariedade, respeito e estima pela satisfação que busco em tudo o que me identifica com as raízes.

Dia 29 de Maio, a maneira cordata, serena e coerente com que assisti ao orgulho de ser Transmontano, chegou-me pela letra e pela música do Hino do Desportivo de Chaves que foi a minha prenda do 25º aniversário do Clube. Ao ver e ouvir a música e a Letra que escrevi em 27/9/1974, para Desportivo emocionei-me. O mesmo que sinto pelo Vilar de Perdizes, pelo Montalegre. Todos os mais próximos do meu gosto desportivo.

Barroso da Fonte


Partilhar:

+ Crónicas