Manuel Igreja
Aumente a Natalidade. Desligue a televisão
Mantendo viva uma tradição que já vem de longe, o governo da Nação encomendou mais um Estudo. Alguém com cargo elevado a dado momento deve subido mais um degrau de escada, e vendo um pouco mais além no horizonte, visualizou que daqui a uns anos a demografia nos pode vir a matar.
Nem precisava de olhar para o que há-de vir. Bastava que olhasse para o que já foi, aprendendo um pouco com os ensinamentos da História, essa proscrita nos curtos limites mentais de alguns sabichões, para inequivocamente se aperceber que sem renovação geracional, de imediato o deserto grassa e os fantasmas se espalham.
Não sei, mas tenho para mim, que a páginas tantas, num belo momento, na governação se tropeçou com uma interrogação: Mas porque é que não nasce mais canalha? Ter-se-á douto senhor interrogado entregue aos seus botões em profundas reflexões como é timbre de quem superiormente decide. Isto, utilizando um regionalismo para apelidar os petizes, pois canalha da propriamente dita, nasce para aí quem nem cogumelos em terra nutrida e húmida como bem sabem.
Mediante tal dúvida e tão suprema inquietude, nada melhor pois então que se fazer encomenda a quem é sábio em assuntos da estatística e muito pensa nas causas das coisas do campo social. Ver o que se passa e descobrir maneira de se não continuar a passar, deve ter sido o serviço encomendado para bem de Portugal e das suas gentes actuais e futuras.
Deve ter sido difícil perceber as razões da queda demográfica, fenómeno com meio século e infelizmente nada exclusivo da lusa pátria, de resto já objecto aqui e ali, em alguns concelhos do interior esquecido, de medidas avulsas e obviamente infrutíferas, pois ninguém procria mais a troco de migalhas, assim tipo redução na conta da água, uns trocos para os cueiros que agora são fraldas, ou uma reduçãozinha nos impostos.
Ao longo das últimas décadas, redesenhou-se a sociedade configurando-a com as tintas da precaridade, da insegurança, do desemprego, da falta de rendimento disponível e da incerteza quanto ao dia que vai nascer. Levaram-nos a um ponto em que casar e constituir família é um acto de coragem, um dobrar do cabo das tormentas depois do embate com o Adamastor, mas não sabem por que é que não vêm mais cegonhas de Paris.
Quanto a isso nada escreveram as sumidades, que no fundo ao que me parece pelo menos, pouco mais encontraram do que aquilo como panaceia para o mal que começa a afligir e que a não ser cerceado muito nos irá corroer enquanto país equilibrado económica e socialmente. No entanto, veja-se bem, deu-se um caso digno de espanto. O líder do maior partido do governo aplaudiu as ideias, mas o chefe do governo, a mesma pessoa noutro papel, atirou-as para o que se há-de ver, porque os tempos não estão para gastos e elas afectam as contas.
Parece difícil mas não é fácil, como costuma dizer um amigo meu. Certo e sabido, é que quando os meus filhos tiverem a minha idade, a relação entre os activos e os desactivos será de igual para igual. Para cada jovem, vai haver um idoso, no que pode vir a ser um terrível desastre estrutural de consequências imprevisíveis para tudo e para todos.
Resta-nos a esperança no nosso jeito para desenrascar. Não me admirava nada que alguém parta do princípio de que a falta de filhos a nascer, advém da falta de oportunidade para os encomendar, dando de barato que Deus Nosso Senhor ainda nos não tirou a ideia. Vão ver que alguma figura brilhante vai sugerir que a partir das dez da noite se desliguem as televisões, ou assim. Como antigamente. Sei lá.