Batista Jerónimo

Batista Jerónimo

Bicicletas - Opção ou Necessidade?

Quando escrevi sobre, as obras nas Avenidas Sá Carneiro, João da Cruz e Praça Cavaleiro Ferreira (desta pouco se tem falado, mas esperem para ver), as ciclovias nos passeios ou como alguns gostam de dizer - passeios partilhados, alguém questionou-me se sabia como era nas cidades, onde a bicicleta é o meio de transporte urbano mais utilizado. Eu, sabia do que li, principalmente em Amesterdão, mas conviver com a realidade “in loco”, não. Como sou um dos que acreditam que vamos ter problemas de segurança e constrangimentos no trânsito, quando estas obras terminarem (ver os III anteriores artigos), tentei aprofundar como era a convivência das bicicletas, carros e pessoas, nas cidades onde esta realidade no dia-a-dia convive. Quem chega a Amesterdão, de carro, uma hipótese é estacionar perto do Johan Cruijff Arena, apanhar o TRAM com destino a Amsterdam Central Station.

Ao sair da estação, qualquer um fica boquiaberto – tanta bicicleta! São milhares, alinhadas, com ou sem cadeado, todas bem “coçadas”, o que revela muito uso, algumas abandonadas (pneu no chão), com parque próprio numa área de mais de duzentos e cinquenta metros quadrados.

Depois da estupefacção do primeiro impacto, quem fizer um passeio turístico pelos canais, estes fazem lembrar Veneza, mas diferentes, assemelham-se nos canais, nas pontes, mas em Amesterdão existem ruas onde circulam carros (poucos) e os canais são mais e mais largos. Durante o passeio turístico e depois a pé, é uma constante, ver bicicletas aos magotes, mas organizadas (parques com dois andares!), a conviver e partilhar as ruas com os carros, respeitar os sinais de trânsito e nunca, mas nunca circular nos passeios, embora (algumas) estacionem em cima deles, quando e havendo algum espaço, sem perturbar os peões. Nalgumas avenidas ou ruas mais largas, existe uma via em exclusivo para as bicicletas, neste caso, temos um passeio largo encostado às casas, uma faixa para árvores (nem sempre), em plano inferior (cerca de 12 a 15 centímetros em relação ao passeio e à faixa destinada aos carros – porque será que é assim?) a via para as bicicletas e depois as faixas para carros. Em bairros do Luxemburgo, na periferia das cidades de Amesterdão e Roterdão, inclusive na Bélgica é possível, ver ao mesmo nível o passeio reservado aos caminhantes e a via dos ciclistas, bem identificados pela diferença de cor, mas sempre, fora dos centros urbanos das cidades.

Não é necessário esforçar-se muito, quem visitar Amesterdão, para perceber o porquê de tanta bicicleta a circular. Trocando opinião com uns e ouvindo outros, formulei uma razão pessoal, que passo a desenvolver. Quando falamos de Amesterdão, temos de distinguir a parte antiga com a zona nova, pois é na zona antiga que as bicicletas proliferam como “cogumelos”. A zona antiga, onde os canais substituem, em parte as ruas, tem edifícios no máximo de quatro andares, porque estão especados em estacas de madeira (possivelmente de pinho conforme na baixa de Lisboa), como não podem ter estacionamentos subterrâneos, ao nível do solo não é rentável e nas ruas, com a sua pouca largura não é possível estacionar. Então, que transporte poderiam utilizar os milhares de Holandeses que se deslocam ou entram em Amesterdão? Que transportes públicos teria de ter a cidade acrescentando os milhões de turistas?

Podemos estar na evidência de que a bicicleta não é uma opção, mas de uma necessidade que a cidade impõe aos seus habitantes. Acresce que os transportes públicos, não conseguem cobrir toda a cidade, por razões anteriormente aduzidas.

Até poderia ser esta a conclusão se em cidades como Roterdão, Haia, Delft e outras, não se utilizasse também a bicicleta, utiliza, mas em muito menor escala.

Falta atentar na orografia destes países, e depois, devemos questionar-nos – antes de gastar dinheiro numa aberração, não seria inteligente aprender com quem tem um “know-how” ímpar?

Baptista Jerónimo


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