Luis Ferreira

Luis Ferreira

Bom leite, bom rebanho

As crias bem alimentadas suportam muito melhor as agressividades do crescimento de que os vírus viajantes, são causa principal, interferindo constantemente e deitando por terra toda a esperança de sobrevivência dos novos reixelos. Esta constatação, nada tem de novo.

Sabemos bem que em tempos de magros recursos em que as colheitas estavam sujeitas às intempéries de um clima inconstante e a um fraco desenvolvimento agrícola, a fome sobrevinha e os mais atingidos eram os mais indefesos. As mães, mal alimentadas e mal nutridas, pouco podiam dar aos filhos que apenas tinham o leite materno para se manterem vivos. Contudo, se esse leite era fraco e não lhes dava os nutrientes e vitaminas necessárias para debelarem os males que andavam pela Europa, adivinhamos facilmente qual o desfecho destas criaturas. Foi preciso melhorar todas as técnicas agrícolas e introduzir novos desenvolvimentos para que a qualidade da alimentação fosse substancialmente melhor e proporcionasse às crianças condições para enfrentar as maleitas que atacam quando se tem uma idade bem tenra. Nessa altura, a demografia europeia sofreu uma autêntica revolução. Houve um crescimento fantástico, ao ponto de alguns analistas dizerem que a Europa tinha atingido “um Mundo pleno”. Estavamos então no século XVIII. Já lá vai muito tempo!

Hoje a Europa continua aos sobressaltos e passa por problemas demasiado sérios em termos demográficos e económicos. Em 1951, em Paris, tentou-se criar algumas defesas, mais económicas que sociais e juntaram alguns países à volta do interesse que tinha o carvão e o aço. A partir de 1957, alargou-se a comunidade de países com interesses mais diversificados, o que chamou mais nações para essa comunhão. Daí até à União Europeia, foi um salto fantástico. Faltava simplesmente limar arestas e dar a quem fosse eleito para representar cada país e decidir em nome da União o que lhe interessava, condições de sustentabilidade. O leite de que necessitam os que fazem parte deste imenso rebanho, para poderem sobreviver. Sobreviver bem, claro, que isto dá muito trabalho e é preciso ser bem alimentado.

Pois é verdade, parece que o leite não é mau já que todo o rebanho não desiste e quer continuar a fazer o seu trabalho e a alimentar-se com o melhor leite que lhes é distribuído.

Dentro de dias temos aí as eleições para decidir quais os elementos do rebanho que permanecem ou os que, não conseguindo sobreviver às intempéries, têm de abandonar os companheiros. Não porque o leite seja mau. Nada disso. Somente porque sendo demasiado bom, é preciso alimentar os que dão mais garantias de sobrevivência. Só assim se consegue manter o rebanho em crescimento e muito forte.

Metáforas à parte, é bem verdade que os eleitos, são bem remunerados e têm regalias que, numa Europa em que existem carências de toda a ordem, não se compreendem. Não se trabalha por amor à camisola, que é como quem diz, em defesa do país que os elegeu, mas somente em defesa dos interesses de cada um. É uma constatação. É caso para se questionar se o leite que os alimenta fosse mau, se eles iriam para longe das famílias e se dariam a “tanto trabalho”!?

Claro que nem todos os deputados europeus estão no mesmo patamar de avaliação. Os que passam neste crivo, são poucos e estou a lembra-me, por exemplo, dos deputados dos países nórdicos, onde as mordomias, são menores e até escassas, e eles sobrevivem. O leite é muito forte! Não necessitam de tanto para enfrentar as intempéries! Mas não desistem.

A campanha está na rua. Campanha para as eleições europeias. Portugal, este ano, tem de se expressar duas vezes nas urnas e dizer o que realmente quer e quem quer colocar nos lugares disponíveis. Quase parece haver só uma eleição já que todos falam de tudo, e de todos e deixam a Europa um pouco de lado. Porque será? Afinal ela é a mãe de todo o rebanho!

Perante tais factos, corre-se o risco de haver cada vez mais desinteresse pela Europa e entrarmos num túnel demasiado escuro e sem conseguirmos ver a tal luz ao fundo que traga novamente a esperança que tinham os que pensaram numa Europa unida há quarenta anos atrás.

Agora não é uma questão de haver muito ou pouco leite. É uma questão diferente. Há leite a mais para um rebanho que tem interesses muito específicos e que vai esquecendo o país que lhes deu o ser. Encontraram uma mãe com melhor leite. Uma madrasta que os pode castigar quando menos esperarem.

Cuidado com as intempéries. Elas vêm aí. Andam por aí. O bom leite, faz o bom rebanho, mas é só enquanto se vai crescendo! Depois o leite acaba-se.


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