Barroso da Fonte
Braga teve arquivo sobre Camões no Século XIX
Na introdução ao número 17 da Revista Aquae Flaviae, saída em Junho de 1997, lê-se que «mergulhando na documentação de um obscuro mas rico arquivo particular, na cidade de Braga, houve alguém que, no início do século passado, teve consciência da verdade histórica do relacionamento da família de Camões com Vilar de Nantes (Chaves). Mas os seus escritos inéditos, e vivendo longe da capital, o seu conhecimento não chegou aos camonistas que, ao longo do século, travaram entre si vivos debates, tentando ajustar as versões dos biógrafos do século XVII, com a documentação entretanto descoberta e com interpretação dos poemas autobiográficos».
Lê-se na mesma fonte que desde a primeira publicação houve quem acreditasse nas potencialidades dessas pistas. E que esse entusiasmo foi crescendo, assim como passaram a apoiar os camonistas ilustres e os investigadores desse tempo. O autor dessa introdução chega a mencionar quatro, falecidos no século XX: o marquês de São Payo, José Timóteo Montalvão Machado, Luís Bívar Guerra e Maria Clara Pereira da Costa. Todos pertenceram à Academia Portuguesa da História.
Afirma-se, ainda, que o então Presidente da mesma Academia, Doutor Joaquim Veríssimo Serrão, logo que soube desse espólio particular, sugeriu a ideia de reunir os textos principais num volume. Mais tarde essa ideia serviu de principal argumento para que o então vereador da Cultura da Câmara de Chaves, Firmino Aires (1920-2007), convidasse alguns Flavienses mais afoitos para fundarem o Grupo Cultural Aquae Flaviae. Desse Grupo nasceu a revista que adotou o mesmo nome. Vai atualmente com 62 edições. O autor desta introdução confirma que o conhecimento tardio deste arquivo privado bracarense sobre Camões e a sua ligação a Vilar de Nantes, ter-se-á limitado aos próprios estudiosos da época, que foram morrendo, ficando inéditos e longe da capital.
Alguma dessa documentação terá sido reencontrada para que Veríssimo Serrão (1925-2020), penúltimo Presidente da Academia de História, tenha afirmado, no prefácio do volume 17 da Aquae Flaviae (Junho de 1997), que «o mérito da revelação do tronco de Vilar de Nantes se fica a dever ao Brigadeiro da Aeronáutica, José Guilherme Calvão Borges, cujo curriculum assinala a brilhante carreira militar no campo da engenharia e da Aeronáutica. Talvez o destino lhe reserve a glória de apurar o dia e o local do nascimento do excelso Poeta, merecida compensação para as canseiras e desvelos que tem posto no assunto».
Quando, em fins de 2021, assinei, neste Diário de Trás-os-Montes, dois textos sobre a Família de Luís de Camões, que teria vindo de Espanha e se radicou em diversos pontos do norte e centro do país, não pensava que tal investigação estivesse tão atrasada. E que a Academia Portuguesa de História não fosse capaz de deitar mãos à obra, colocando-lhe o telhado e os painéis solares.
Em 2006 cessou funções, nesse prestigiado cargo, o Prof Veríssimo Serrão que se envolveu em muitíssimas investigações de interesse nacional. E esta sobre o local e o ano de nascimento de Luíz de Camões foi uma delas. Ficámos todos a dever-lhe esta causa cultural sobre o nosso maior poeta, a quem o poder político consagrou o dez de Junho como feriado nacional, mas se esqueceu de averiguar o dia, o ano e o local de nascimento. Quanto ao local já ficou claro, confirmado por ele, bastando consultar os argumentos e as fontes.
A Doutora Manuela Mendonça substituiu Veríssimo Serrão no cargo de Presidente da Academia Portuguesa de História, faz agora 16 anos. Nada de relevante se lhe reconhece, ao nível de averiguações históricas, ao contrário do seu antecessor. Poderia, por exemplo, ter contribuído para a investigação e fixação desta questão camoniana, que só a Revista Aquae Flaviae publicitou, ao ter apontado dados seguríssimos, a partir dos resultados do Brigadeiro J. G. Calvão Borges.
Essa dirigente da Academia, cargo no qual ainda se mantém, ao contrário do que tinha obrigação de fazer e não fez, foi até Viseu, em 2009, participar num congresso sobre Afonso Henriques, onde deu o dito pelo não dito, prometendo queimar os manuais escolares de História, e trocar o nome de Guimarães pelo de Viseu, como local de nascimento do Rei Fundador. Entretanto, teve o desplante de produzir uma coleção de opúsculos com biografias dos Reis de Portugal, por ela autenticados, não com vista à clarificação científica, mas com intuitos puramente comerciais. Já nessa altura exarei o meu protesto na imprensa e em livros. De nada valeu.
Quanto ao impropério historiográfico que proferiu em Viseu, durante o referido congresso “fantasma”, perante as câmaras da televisão, bastou a admoestação do Prof. José Mattoso, feita no Centro de História de Lisboa, em 14 de Dezembro de 2009, para lhe acalmar a sanha.
Num próximo comentário questionarei a Academia Portuguesa de História sobre os motivos pelos quais, aparentemente, não terá realizado eleições desde há 16 anos. Ou então, se acaso elas se realizaram, porque não foram publicitadas essas exigências legais de qualquer Associação cívica, cultural, social ou filantrópica?
Barroso da Fonte