Ana Preto
Bragança sob jurisdição espanhola
Não falta nada e vamos ganhar mil euros de ordenado mínimo. Viva “Epaña!”, el “rei e la reina”, la Leticia!
A polícia de Espanha, “guarda civil” (ou outra coisa que a nomeie), encontrava-se hoje em território português (que eu saiba), cerca das 15h30, no concelho e distrito de Bragança, com carro identificativo e, no mínimo, quatro guardas, a fazer não sei o quê.
Não sei, porque eu tinha almoçado, coisa que pode acontecer aos Domingos e feriados (porque eu sou normal num país em que as pessoas levam quase três horas para almoçar durante os dias de trabalho), e não ia a conduzir. Ia a minha sobrinha, com quem partilhei já covid, entre outras doenças contagiosas e males hereditários.
Porque se não tivesse almoçado e fosse eu a conduzir tinha parado para perguntar o que estavam a fazer os guardas de Espanha a, pelo menos, um quilómetro da fronteira, porque os “burros” dos portugueses colocaram a barreira de betão muito para cá das conquistas do Afonso, que além de Afonso era ainda Henriques e devia ser tonto, por completo.
Sim, fui a Guadramil colocar flores na campa dos meus pais e queimar as videiras do horto, para não deixar para quando arde demais o que pode arder agora, mas com contenção e calma.
Podemos estar há um ano sem liberdades nem garantias, mas, tanto quanto sei, ainda estamos em Portugal. Isso contava eu. Os guardas, para pena minha, não nos mandaram parar, nem a minha sobrinha parou.
Eu bem queria voltar para trás, mas os miúdos não querem saber de razões fundamentais da minha constituição que, naturalmente, por força da idade, não é a deles.
Eu juro que no próximo fim-de-semana vou voltar, eu só, a essa estrada. Marco a hora aqui, no Face “from USA” e se me acontecer algo raro, culpem os nossos queridos e precisos “irmãos”. Vou voltar e tirar uma fotografia.
Estou no meu direito, como portuguesa e cidadã de um mundo sem guardas a atravessar fronteiras que estão fechadas para quem usa distintivo ou não, ou pelo menos deveriam estar. Vou tirar uma fotografia à barreira de betão colocada muito para cá da fronteira e, se os guardas de Espanha estiverem lá, temos pena.
Como muita outra gente estou já um pouco cansada demais desta ramboiada que permite guardas espanhóis tomarem conta da minha matrícula de carro quando estou ainda em Portugal e ando, só, à minha vida. E como isto nada importa a ninguém, menos a Madrid ou a Lisboa, deus queira que lá estejam e me levem para um carcel em Zamora.
Seria um incidente muito bonito e demostrativo da iniquidade da portuguesa, mas não suficiente nacional, capital.
Depois voltámos pelo outro lado, e lá fui tirar uma foto, em Rio de Onor, a maravilha das maravilhas, a melhor aldeia do mundo, onde não há nada de betão inultrapassável nem estava lá a guarda civil. Foi uma pena.