Desde que faleceu D. António Rafael (1925-2018) a Diocese de Bragança-Miranda passou por um período difícil, sobretudo pelas dificuldades materiais que passou para construir a Catedral que era uma obra indispensável para o Nordeste Transmontano, região agreste, a viver de um solo propenso às calamidades ambientais, pela seca, pelo gelo e pela instabilidade climática.
Em 1780 a Sé mirandense foi unida à de Bragança, passando os seus bispos a serem prelados das duas catedrais e recebendo o bispado o nome conjunto de Diocese de Bragança e Miranda. O papel deste bispo foi polémico por ter-se envolvido, excessivamente, em assuntos que tinham mais a ver com a política do Estado Novo do que com a evangelização. Natural de Lamego conhecia bem o pensamento cívico da região Alto Duriense. A diocese Mirandense foi criada antes da Bragançana. Mas na República passou a ter mais peso em Bragança do que em de Miranda. Também por isso as duas dioceses se fundiram e o bispado passou a ter maior impacto cultural e cívico em Bragança, graças à escolaridade pública que advinha das escolas públicas e religiosas, nomeadamente ao seminário de Vinhais, alfobre de gerações que marcaram os séculos XIX e XX. Bragança passou a ser um viveiro de formadores, que passaram a distribuir-se pelo resto do país, mormente por Lisboa, Coimbra e Porto. Ao acaso, podemos relembrar as muitas dúzias de governantes e altos quadros da vida pública. O Estado Novo recrutou em Trás-os-Montes e Alto Douro dezenas dos melhores quadros da vida política, cultural e cívica. Não foi por acaso que em 1920 se formaram, em Lisboa e mais tarde em Coimbra, Guimarães, Porto e Braga, as Casas Regionais de Trás-os-Montes e Alto Douro, as mesmas que, em 2002, juntamente com as Câmaras dessa Província, realizaram, em Bragança, o III Congresso Transmontano, o maior ajuntamento de figuras humanas da região de que há memória.
Ocorre-me pegar nesta reflexão domingueira para citar um bom tema, a partir de uma leitura atenta que o Cor. Jorge Lage me fez chegar e que enviou ao recente Bispo de Bragança e Miranda, Dom Nuno Almeida. Este emissário Transmontano, radicado em Braga, como sócio fundador nº 1 da Casa Regional da cidade dos arcebispos que aí levou o Dom José Cordeiro a apresentar o seu último livro, tem sido um justo «olheiro» dos Transmontanos que, saindo de Trás-os-Montes, nos mais diversos quefazeres sociais, brilham no universo dos seus pares.
Abusando da metáfora dos futebolistas, Jorge Lage, é um cidadão que vibra com os méritos dos seus conterrâneos. Em futebol usa-se muito o palavrão «olheiro» para identificar os especialistas, em cada ramo do saber. Ultimamente, e desde a chegada do Papa Francisco ao pontificado, provavelmente, pela providência que nestas matérias do sagrado e do profano, Portugal tem atravessado, essa saga, bem visível, que se iniciou no nascimento de D. Afonso Henriques, passou pelas Batalha de Ourique e de Aljubarrota, pelo primeiro Santo Português, S. Teotónio e, mais perto de nós, pelo Santuário de Fátima. A escolha do jovem Arcebispo Primaz de Braga, Dom José Cordeiro, que já terá patrocinado outras designações do subsolo Transmontano-duriense, permitem potenciar esta sobrenatural ideia que me sai da alma no dia de Portugal. Jorge Lage explica-se melhor pela mensagem que remeteu ao novo bispo de Bragança e Miranda: São dele estas cogitações:
«Como transmontano e mirandelense quis associar-me, de longe, à nomeação do novo Bispo de Bragança e Miranda, D. Nuno Almeida, deixando a minha perspectiva para algum do muito trabalho a desenvolver. Quis, ainda, partilhar com alguns amigos/as. Os meus parabéns por esta eleição para a Diocese de Bragança e Miranda. As suas raízes telúricas estão no interior, Terras de Sátão - Viseu, Terras de Viriato, a Beira Alta abençoada, por isso, não vai estranhar muito as terras agrestes do Nordeste, tão irmanadas e ostracizadas, sendo as nossas gentes próximas dos amigos beirões. A diocese de Bragança e Miranda é muito pobre comparada com o mini-Vaticano que é arquidiocese de Braga, sendo preciso muita imaginação e criatividade para o sucesso. Por isso, o esquecido Nordeste Transmontano apresenta-se como um desafio acrescido para a acção pastoral que o espera. Estou certo que à semelhança do Arcebispo Primaz de Braga, D. Nuno Almeida vai ser uma bênção para a diocese de Bragança e Miranda e para as comunidades, em especial os velhinhos/as, as crianças e jovens e para os mais humildes e esquecidos da sociedade. Todos merecem uma palavra amiga de esperança e de conforto».
