Paulo Fidalgo

Paulo Fidalgo

Burros velhos e cavalos jovens

A empresa sábia terá em doses semelhantes duas tipologias de administradores e quadros de primeira linha – os burros velhos e os cavalos jovens.
Aos primeiros caberá sobretudo zelar pela conservação da empresa e aos segundos assegurar o seu desenvolvimento e crescimento.
A competição entre as duas tipologias de animais de poder empresarial constitui uma dinâmica natural, sendo portanto inevitável uma certa conflitualidade. Os burros velhos criticarão a inexperiência e propensão ao risco dos cavalos jovens e estes denunciarão o conformismo e falta de ambição dos seus rivais mais idosos.
Contudo, tem de haver nos normativos da empresa e na cultura dos accionistas preponderantes algumas regras claras e transparentes que forcem os dois grupos a uma cooperação funcional da qual resultem ganhos para ambos os lados.
Esta exigência de um entendimento que faça a empresa avançar tem de ser constitutiva de uma ideia de eficácia na governação dos negócios, pois quer os cavalos jovens quer os burros velhos terão de saber que o impasse ou o anti-jogo serão duramente punidos em matéria de remuneração e carreira.
A rivalidade que se pretende que exista não pode ser causa de uma inacção por obstrução, já que a falta de decisões ou demoras na execução acabará por sair cara a todos, sendo aconselhável responder aos dilemas da gestão com inteligência e sentido prático em vez de implementar estratégias bizantinas.
A conjuntura dos mercados e a situação da empresa ditará muitas vezes qual a força interna que deve predominar – prudência ou energia – embora no plano ideal haja ambas na proporção mais adequada à circunstância.
Como o objectivo é o equilíbrio, a proporção de cada grupo deve ser favorecida em linha com a necessidade da organização, mas sempre tendo o cuidado de evitar dinâmicas perversas que se traduzam na eliminação de um grupo pelo outro.
Neste quadro, o problema fundamental da gestão de pessoas consiste em manipular a demografia interna, com vista a definir a proporção mais conveniente para os dois conjuntos de quadros dominantes.
Porque se a governação da empresa é excessivamente marcada pela prudência provavelmente perdem-se oportunidades de crescimento, arrefece a ambição ou perdem-se os colaboradores mais dinâmicos.
Pelo contrário, se a governação valoriza sobretudo a energia tomam-se riscos excessivos, desprezam-se opiniões mais sensatas e acredita-se sobretudo no que se quer ver, sem tomar em conta as ameaças ou falsas expectativas.
O problema do equilíbrio entre burros velhos e cavalos jovens só pode encontrar solução estável através do estabilizador demográfico (razão quantitativa) e do modelo de promoções (razão qualitativa).
A demografia influi decisivamente no balanceamento das preponderâncias, porque se o número de burros velhos for desproporcionado face ao número de cavalos jovens a organização tenderá para o conservadorismo cultural, acabando por se impor a regra da prudência em prejuízo de uma dinâmica de crescimento e ambição que promoveria o crescimento e a satisfação dos quadros mais jovens.
Inversamente, se a população dirigente é sobretudo composta de cavalos jovens constitui-se como valor fundamental a demonstração de energia e a criatividade, podendo acentuar-se a visão da empresa como projeto de rápido crescimento, com menor consideração pela rendibilidade e consolidação.
Já o modelo de promoções introduz no jogo do poder interno uma mecânica de equilíbrio que atua no plano temporal, podendo corrigir ou acentuar a predominância de uma das tipologias de dirigentes, usando um fator de aceleração da influência de uns sobre os outros.
É, pois, no modelo de promoções que fundamentalmente a questão do equilíbrio se joga, porque a distinção profissional acaba sempre por ser uma forma de legalizar a clonagem do modelo de dirigente que se quer ter no futuro – mais burros velhos ou mais cavalos jovens.


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