Manuel Igreja

Manuel Igreja

Carta ao Mafarrico por umas coisas que eu cá sei

Mafarrico, perro, cão sarnento, chifrudo, antes de mais, não te desejo que estejas mal, porque tu é o mal em todo o seu horror. És o mal dos males, um mal pior que o piorio. A essência do horror e do feio.

Escrevo-te para te dizer que te ando a topar e desde já há muito. Pensas que uma pessoa te não pressente sequer, mas enganas-te. A dadas horas malditas o cheiro a enxofre é tal que se não aguenta. Não me venhas dizer que isso é por viver numa região de vinhedos pois isso é treta.

Os gamões ainda não rebentaram, por isso ainda não é altura de tratamentos com esse produto. Vai gamar. Por gamões, tenho a dizer-te que os pobres coitados estão que nem podem. O tempo anda todo trocado e a culpa é tua. Ninguém me tira da ideia que é.

Está um homem às vezes em pleno inverno e é um calor que até apetece ir dar banho à minhoca, enquanto que outras vezes é verão, e é um frio de apetecer a samarra. Devido a esse desmando a novidade pobrezinha, tem dias em que nem sabe a quantas anda.

Claro que tudo se reflecte depois na produção que só dá prejuízo. Nem tu serias tu se tal coisa te não fizesse rebolar de riso. Deves entreter-te a carregar nos botões que regulam as condições do clima e depois é um ver-se-te-avias de furacões e tonados com nomes de serigaitas ou de rapazolas imberbes.

Mas a maldade não se fica por aí meu abelhudo. Apanhas o Patrão distraído e fazes andar o mundo que nem doido. Ou pensas que eu não sei por exemplo que te trajaste de padre e andas para aí a fazer muito mal a muitas criancinhas que apanhas nas sacristias? Meu estupor. Queres pior cosa que isso?

Também tenho cá as minhas dúvidas se não fosse tu que despoletaste recentemente uma notícia que refere que a Universidade Católica, um alfobre de influentes e uma mina a dar dinheiro, está isenta de pagar impostos. Se a ideia era causar mossa, de pouco te adiantou, pois, o caldo nem chegou a entornar. Ninguém ligou.

Como noutras épocas não muito recuadas, destapa-te o poço onde tu e mais os teus ajudantes se escondem dentro de cada um de nós e andais soltos por aí a espalhar o medo e a semear o ódio. Regaram com lixívia a árvore da solidariedade que vai mirrando aos poucos, e com a faca da intolerância na liga, vivemos dias inquietantes em que se enxotam para longe seres humanos desamparados sem chão, sem tecto e sem comida.

Tudo obra tua. Mas mesmo assim vou fazer-te um aviso. Deve estar a chegar aí ao teu reino um Karl qualquer coisa. Vê se te atavias convenientemente com um look digno dele, se não levas uma desanda que até vês estrelas. Põe-no bem junto ao lume que ele merece. Como sabes deixou em herança para cima de um dinheiro à gata de quatro patas. Coisa tua cá para mim.

Vou findar com um aviso. Não te metas comigo. Se não, faço queixa à minha mãe que tu vais ver. Pelas companhias até era capaz de gostar de ir até ao teu reino. Devem ser das divertidas. Mas a tua casa de hóspedes é muito quente e dou-me mal com o calor.

Vai de retro satanás. Cruzes canhoto te renego.


Partilhar:

+ Crónicas