Manuel Igreja

Manuel Igreja

Carta de Deus Nosso Senhor a Joe Biden

Meu filho!

Como sabes, sei, vejo e ouço tudo. Sei por isso que há uns dias, perante os esforços de alguns para que te não recandidates ao superior cargo que ocupas, o maior no planeta Terra depois do meu, referiste com galhardia que só seu Eu, descesse até aí, a tal desafio te não proporias.

Pois bem, como crês, eu não necessito de descer ou de subir, nem de andar de um lado para o outro, porque Estou em todo o lado. Sou o absoluto que tudo influencia Estando em todas as coisas. Há quem nisto não creia, mas um dia acertaremos contas. Digo isto assim, mais não seja para não deixar mal certos poderes que vigam desde há séculos que são escassos segundos na eternidade.

Seja como for, Envio-te esta missava para que conte e conste. Posso tudo, mas não vá o diabo tecê-las num ápice de distração e num enchente de manhosice e faça com que isto que em boa hora te Digo, jamais chegue ao teu conhecimento. Até porque o teu adversário quase com ele ombreia em termos de safadice, pois é o mafarrico em pessoa em muitas ocasiões.

Claro que não quero tomar partido ou ser menos isento porque Permiti à humanidade o livre arbítrio, ou seja, a liberdade de se enterrar o de se beneficiar como lhe aprouver, mas uma vez que disseste o que disseste, e não Esquecendo que o outro por vezes fala abusivamente em Meu nome e como se Eu lhe tivesse dado procuração, Decidi dar-te recado.

Faz então de conta que Eu te saí pela frente na curva de uma estrada, ou numa esquina no teu rancho, belo local onde cirandas e refletes, ou na Casa de Campo onde te refrescas, e espalha aos quatro ventos que dado isso, e para me aprazeres, decides ir gozar a reforma na boa-vai-ela e na vida airada, conforme mereces ao fim de tantos e proveitosos anos de serviço público.

A tua vida não tem sido fácil, passaste por terríveis tragédias pessoais, as piores, e bem que mereces passar os dias a ver os pássaros pela barriga a voarem por entre as nuvens passageiras e a ver os lírios no campo. Coisas para fazer não te faltarão nos anos que te restam na travessia desse vale de lágrimas. Pode suceder Eu chamar-te a qualquer instante, mas deixemos isso por agora.

Agora, aqui cá para nós que ninguém nos ouve. Bem sabes que não vais para novo e que o tempo já espalhou muita poeira branca sobre o teu cabelo e o teu rosto, o que te permitiu viver muito e bem e fazer muitas coisas. Umas boas, outras más, como é próprio da condição humana. O tempo passa e deixa marcas. Dá sabedoria até ao ponto em que retira ou começa a retirar clarividência.

Não consegues estar totalmente ciente disso porque os espelhos enganam e alguns conselheiros desaconselham, por convicção ou por imediatos interesses, mas com verdade te Digo, que já não estás em condições de continuar ao leme dessa embarcação que não sabe o rumo e que por isso não sabe qual é a direção do porto seguro. Nenhum vento lhe está favorável.

O saber de experiência feito, mostra-nos que fazer política num regime democrático é em boa medida uma questão de perceções mais do que de intenções. Os eleitores escolhem mais com a emoção do que com a razão. Sempre assim foi, mas é-o muito mais agora nesse mundo onde viveis a toda a pressa e sem tempo para pensar, como se Eu cobrasse alguma coisa por ele. Pelo tempo que sempre foi de graça.

Vê lá a tua vida, não esquecendo que se apanhares uma corrente de ar, toda a humanidade se constipa. Cuida-te e cuida dos outros enquanto ainda é hora e antes que percas para vergonha de todos. Quer dizer, pelo menos de alguns.

Diz-me se recebeste este escrito. Em breve. Se não disseres nada, Envio aí um arcanjo com ele nas asas. Também posso mandar o Meu filho, mas acho inapropriado e desnecessário.

Sou quem sabes, (ou não)?



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