Teresa A. Ferreira

Teresa A. Ferreira

Casino: 3º - Sol de pouca dura

De regresso a Vila Real, Gabi, passou a semana em recato. Continuava perturbada com os acontecimentos do fim de semana passado. Buscava respostas para compreender até onde se tinha permitido ir, até onde descera. Simultaneamente, pensava na adrenalina do jogo, em como teve azar, em como talvez tivesse tido um dia de azar. Ainda não percebera o alcance da situação e que se voltasse ao casino ficaria viciada na adrenalina e no desejo de ganhar. Nas consequências? Estava a começar a senti-las, apenas a começar. Mas será que lhes dava a devida importância? Será que media o alcance dos seus atos?

A novidade - para esta moça com um perfil desviante – foi ter ido a todas as aulas. Os colegas e os professores estranharam: “Gente arredia por aqui.”.

A semana passou rápido e no fim de semana lá estava ela em casa dos pais, desta feita, menos pesarosa e sorumbática.

Os pais tentaram saber o que se tinha passado, no fim de semana anterior, mas não obtiveram respostas. Desconversava com uma ligeireza tal…como quem tem o rabo preso e bem preso.

Não saiu com as amigas, deixou-se estar por casa – talvez tivesse ganho juízo!

Sol de pouca dura, caro leitor. Dali a pouco, estava no casino a desfazer a mesada, em perfeito êxtase. Dava-lhe especial gozo a perspetiva, ainda que infinitamente remota, de poder ganhar um jackpot. Todo o ambiente das “slots machines” era vibrante em cor e brilho, tal como os sons envolventes, tudo, tudo feito de forma a ser apelativo para o jogador.

E não é que o diabo da moça ganhou 2 mil euros?!

Subiu ao primeiro andar, onde se fazem as grandes apostas. Nesse dia sentia-se com sorte, era o seu dia de sorte. Apostou na roleta, pouco de cada vez, até que perdeu tudo.

Insatisfeita, foi até ao bar gastar a última nota de 10 euros e engolir em seco a nova derrota. Pediu uma água das pedras e um café.

Certo indivíduo, vendo-a pesarosa e circunspecta, abeirou-se dela e foi puxando conversa até que, a páginas tantas, já estava envolvida como papel de embrulho em volta de um presente. Saiu com ele do casino, foram conversando até que o homem, Bernardo de seu nome, lhe propôs dinheiro fácil se ela alinhasse em vender droga aos amigos da Faculdade.

Alinhou. Queria reaver, pelo menos, os 2 mil euros que perdera e continuar a apostar.

Sendo ela de boas contas e das melhores relações com os colegas, o negócio corria bem para os dois. Cada vez era maior a quantidade de droga que levava para Vila Real, e “despachava” tudo. Tinha-se tornado numa dealer.

Os pais nem sonhavam onde ela andava metida. Quão distantes estavam da verdadeira Gabi. A princesinha dos papás era, de dia para dia, a mais desenfreada trapezista na linha vermelha da vida.

Nos fins de semana, acertava contas com o Bernardo e depois apostava tudo na roleta no casino. Era impressionante vê-la enérgica - qual cavalo bravio - e de olhar fixo no seu número da sorte, dia de nascimento, apostando forte para depois perder tudo.

Uma croupier, sentada num banco alto, observava os jogadores. Mostrava, mais do que a conta, as longas pernas bem torneadas, debaixo de uma saia minúscula. Nem se dava conta de que tinha a cueca à vista, tal a atenção com que vigiava os apostadores. Talvez quisesse incendiar e distrair os mais esfomeados…

A cada semana, o vício tornava-se mais intrincado, mais exigente, mais desenfreado... O dinheiro da venda de droga já não era suficiente para o vício. Pedia voos mais altos.

Passou a organizar festas na casa de Vila Real, onde vivia com as colegas: Fernanda, Marta e Raquel. Em troca da aceitação, dava uns pozinhos de droga e dinheiro às colegas de casa. Estava armado o negócio: vendia droga e o corpo a clientes VIPs.

Chegou o momento em que a tentação falou mais alto: começou a experimentar cannabis – achando que não se prendia – e depois foi evoluindo. Fazia-o antes das festas para se desinibir e ganhar coragem para se envolver sexualmente com os clientes.

As festas começavam com striptease, em que a Gabi e as amigas dançavam para os clientes, quais serpentes que se enroscam ao corpo das vítimas, simulando sexo com eles e entre elas. Insinuando-se como submissas, faziam acrobacias...tudo quanto a imaginação ditasse até não terem uma única peça de roupa. Elas evoluíam, de semana para semana, na destreza e imagética com que atraíam os clientes. Eles, completamente eufóricos, atiravam-se às raparigas como cães no cio. Valia tudo, aqui valia tudo.

O dinheiro entrava a rodos e a vizinhança não desconfiava de nada. Viviam numa moradia e não punham a música alta. Os vizinhos, normalmente, só se incomodam com o barulho, do mais dizem: “Estudantes!”.

O ano letivo foi passando, assim como as aulas a que não ia. De aluna brilhante passou a reprovada. Os pais nem queriam acreditar que a sua Gabi tivesse reprovado. “Talvez o curso fosse muito difícil!” – diziam eles.

De regresso a casa, para as férias escolares, teve de arranjar outra forma de se financiar, uma vez que não podia dispor da casa da família para fazer festas, nem queria entrar no mercado da vizinhança, para não ser apanhada. Os pais eram muito conhecidos, tanto pelo facto de serem professores como pelo centro de explicações que tinham na localidade.

Precisava de dinheiro para alimentar os vícios e, não achando nada melhor, …

 (Continua…)

© Teresa do Amparo Ferreira, 20-03-2024
    𝙉𝙖𝙩𝙪𝙧𝙖𝙡 𝙙𝙚 𝙏𝙤𝙧𝙧𝙚 𝙙𝙚 𝘿𝙤𝙣𝙖 𝘾𝙝𝙖𝙢𝙖,
    Mirandela, Bragança, Portugal.


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