Alexandre Parafita
Cerejas de maio… ou as leva a chuva, ou as leva o gaio
A contrariar as melhores expectativas primaveris, cá temos de novo a chuva e o frio. Muitos se surpreendem com esta episódica invernia, mas o povo não. Povo sábio, visionário e profeta. Gente que já viveu muitos maios, e, por isso, sabe bem porque diz o que diz quando diz: «Ruim é o maio que não rompe uma croça». Assim se sentencia no Barroso e Montesinho. Mas se for no Douro: «Em maio comem-se as cerejas ao borralho». Comem-se quando as há. Este ano, parece que não. E sabe-o bem o povo quando diz: «Cerejas de maio, ou as leva a chuva, ou as leva o gaio». Portanto, tratando-se de chuva, saiba-se que o maio é só um tudo-nada melhor que abril. Daí que se diga: «Uma água de maio e três de abril valem por mil». E quanto ao frio, também ele não é imprevisível. Por isso, diz a velha: «Em maio, nem à porta saio». Mas melhor, melhor, é que seja pardo e chuvoso («Maio pardo e chuvoso faz um ano rendoso»). Ainda assim, há de ser uma chuva que só molha tolos. Diz o povo «Maio me molha, maio me enxuga». E nem as trovoadas são de inquietar. Pelo contrário: «Maio que não dê trovoada, não dá coisa estimada». O que vale o mesmo que dizer: «Maio sem trovões é como burro sem…» (deixo a rima para vozes mais afoitas e inspiradas).
Bibliografia: PARAFITA, A; et al. (2007). Os Provérbios e a Cultura Popular, Porto: Gailivro.
https://www.wook.pt/livro/os-proverbios-e-a-cultura-popular-isaura-fernandes/204591