João Pedro Baptista

João Pedro Baptista

Chega de falar sobre o Chega!

Quem analisar o título do artigo, pensa, desde logo, que o mesmo é na sua integra um contrassenso, uma vez que vou argumentar sobre o partido Chega – que obteve recentemente, representação parlamentar na Assembleia da República. Este texto pretende ser um alerta à comunicação social, e aos restantes partidos do sistema português, que estão, na minha opinião, a dar demasiado atenção a esta frente política, liderada por um deputado que somente tem usado uma estratégica digna de um populista e oportunista. 

A Extrema-Direita chega pela primeira vez ao parlamento português. Este fenómeno não deixa de ser normal, uma vez que o mesmo já aconteceu noutros países, até mesmo com uma representação muito significante. No entanto, o caso português é diferente. Nestas eleições legislativas, um partido que defende ideais xenófobos, nacionalistas e racistas, com pouco mais de quatro meses de existência, conseguiu mais de 60 mil votos e, por conseguinte, eleger um deputado. 

Mas, do que difere o fenómeno do Chega em comparação com o que está a acontecer no resto da Europa? Ao contrário da Alemanha, Itália e, por exemplo da França, Portugal não enfrenta, de momento, problemas que ponham em causa a segurança dos cidadãos, nem a sua identidade cultural e social está em risco pelo aumento do número de refugiados ou de outras minorias. Nem o desemprego tem os números que teve há uns anos. 

Perante esta situação, diria que a ascensão de partidos como o Chega em Portugal poderá ser ainda mais grave do que nos outros países. Além destes serem antidemocratas e anticonstitucionais, ganham voz numa altura de estabilidade económica e social do país, em que os portugueses têm melhores salários e vivem melhor (teoricamente). 

Se assim é, agora imaginem que cenários se avizinham para o sistema democrático português nos próximos anos, caso a estabilidade do país seja posta em causa. O voto de confiança dos portugueses em André Ventura poderá ser o primeiro passo para que estes ideais, num futuro próximo, ganhem mais representação política e se assumam como um perigo ao nosso atual sistema democrático.

Por outro lado, o crescimento do Chega é, sem margens para dúvidas, um alerta aos partidos “centristas” portugueses, àqueles que falharam na sua governação para com estas pessoas que viram no Chega uma oportunidade e uma mudança. Por isso, é tempo destes partidos responderem aos seus anseios, de forma a que os mais de 60 mil, não se transformem em milhares e, assim, colocarem em causa um sistema que tanto custou a implementar. 

E não é isolando André Ventura e ostracizando o seu discurso e medidas que conseguimos. André Ventura está agora a ser alvo de críticas e atitudes que podem ser uma excelente arma política. Não podemos dar protagonismo, vitimizando este deputado, pois assim ganhará mais força. Talvez, perguntar-lhe que medidas concretas apresenta, provando-lhe que isso não seria um avanço, mas antes um recuo. 

A comunicação social tem um papel fundamental no processo de ascensão do Chega. André Ventura é um líder que domina o ambiente mediático. A sua tática é levar a cabo ações de protesto no parlamento, que facilmente levará os meios de comunicação a noticiar tal barbaridade, dando eco a um partido vazio e perigoso. Transformando o parlamento e o quotidiano político num reality show, propício a notícias, André Ventura consegue implementar a sua estratégia e ganhar mais apoiantes. 

Deste modo, André Ventura terá que ter a atenção que lhe é merecida no panorama político e não no contexto do que é ridículo ou mediático. 

 


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