1.ª O interesse nacional:
A não aprovação do Orçamento de Estado para 2001 levará à demissão do governo e à convocação de eleições antecipadas. Com as eleições presidenciais de permeio e demais condicionalismos constitucionais as legislativas cairiam lá para meados de 2001. Entretanto, do ponto de vista orçamental o país teria de ser governado por duodécimos. Com este cenário não é crível que a economia nacional recupere da crise em que está a afundar-se. Chumbar o orçamento é ajudar à crise, ser co-responsável por ela.
2.ª Obrigar o Eng.º Guterres a mostrar o que, realmente, vale.
Até aqui o PS governou com a maré a favor. Agora que se aproxima a tormenta, causada muito por culpa da irresponsabilidade e incompetência do governo (basta lembrar o escândalo dos combustíveis) o pior que a oposição podia fazer era dar ao Eng.º Guterres uma hipótese de se pôr ao fresco (que cá para mim é o que ele quer, já se lhe nota a impaciência para aturar as tropas, nota-se que lhe falta vontade, ânimo e força para conduzir Portugal). De pronto viria acusar a oposição de todos os males do país. A oposição, e principalmente o PSD, cometerá um grave erro se não tiver a argúcia de forçar o PS a manter-se no governo. Agora é que está na hora de mostrar ao país que Primeiro-ministro temos. Para tal é forçoso que os portugueses vejam com os seus próprios olhos o Eng.º Guterres a governar Portugal em tempos difíceis. Sem festas e sem desculpas.
3.ª O risco de não derrotar o PS, perpetuando-o no poder.
Num cenário de eleições antecipadas já em 2001 não é certo que o PS saísse derrotado. Não é certo sequer que os partidos da esquerda não conseguissem suplantar o conjunto da votação do PP e do PSD. Não falta quem, no PS e no PCP, e quem sabe se o próprio Bloco de Esquerda não entraria também na espiral do poder, defenda a possibilidade de coligações, a exemplo da Câmara de Lisboa, para evitar o regresso da «direita» ao poder. Ou seja, abrir uma crise para não haver alternância no poder só servirá os intentos do PS, não do país. Desconfio mesmo que no PS há quem aposte nisto: em eleições antecipadas já como forma de adiar a perda do poder.
4.ª A ausência de uma alternativa de governo credível e mobilizadora.
O PSD não é ainda visto pelos eleitores como um partido capaz de assumir um governo de ruptura com o actual estado de coisas. O PSD não se apresenta, sequer, unido. Nas actuais circunstâncias o PSD só ganharia eleições por demérito do adversário e não por mérito próprio. Além de que corre o sério risco de engrandecer eleitoralmente o CDS/PP e de, na possibilidade de coligações, ter de negociar com este em posição de igualdade e não de superioridade.
5.ª A violação do princípio da estabilidade, tão caro ao PSD.
Se chumbar o Orçamento ou se, tão só, não for capaz de não aparecer como o responsável pela crise política e pelas eleições antecipadas o PSD perderá junto do eleitorado o referencial político de ser o garante da estabilidade governativa, tão necessária num país economicamente débil e num sistema eleitoral que não facilita as maiorias. Hoje é notório para os portugueses que é o PS quem anda a lançar o país na instabilidade política. É notório que no governo anda tudo às turras e aos encontrões. É notória a falta de vontade de Guterres para governar. É notória a incompetência generalizada deste governo, a falta de obra feita, o incumprimento de promessas, as paixões esquecidas. Porquê então vir agora assumir o odioso de derrubar o governo, violando esse princípio da estabilidade?
A menos que ponderosas razões de interesse nacional se sobreponham ao calendário eleitoral julgo que o PSD só terá a ganhar em não provocar já a demissão do governo. Até 2002 ou 2003 o PSD ganha tempo para se credibilizar, os portugueses ficam vacinados de socialismo por uns bons anos e oxalá então saiba o PSD ser governo sem ser «mais do mesmo».