Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Começar a ser grande com os livros

“Quem não aprende a gostar de ler aos dois, três, quatro, cinco, seis anos, mais dificilmente adere a esse prazer pelos oito, dez, doze, catorze anos”. Assim escreveu Marcelo Rebelo de Sousa, em 2006, enquanto agente e divulgador cultural, no prefácio de uma obra de reflexão sobre a nova Literatura para a Infância.

Na mesma sintonia, Fernando Azevedo, diretor do Programa de Doutoramento em Estudos da Criança da Universidade do Minho, defendeu que, “desde uma idade precoce, de preferência ainda antes do nascimento, a criança seja familiarizada com hábitos e práticas de leitura”, reconhecendo, assim, o papel primordial da família, mas também a convicção de que as crianças, no seu percurso de vida, irão manifestar maior motivação para a leitura se reconhecerem como socialmente relevante essa atividade, e esse reconhecimento ganha corpo quando observam os pais a ler e a escrever, isto é, a desenvolver práticas de literacia.

No início dos anos letivos, no ensino superior, sempre me deparei com jovens que são, à partida, bons leitores, e por isso cultos, bem-falantes, ágeis intelectualmente, e outros que o não são. Sempre os interroguei sobre os seus percursos, as influências recebidas, e constato que os mais cultos, mais inteligentes, mais capazes, tiveram na infância, no seio da família e da escola, um convívio marcante com a literatura infantil. Na família, ouvindo canções de berço, lengalengas, histórias ao deitar. No jardim-de-infância e na escola, com a magia do livro, as visitas à biblioteca escolar, as horas do conto, os encontros com escritores…

Dedico estas palavras aos professores e, em especial, aos bibliotecários escolares, que com o seu labor e criatividade transformam a escola num verdadeiro reino de afetos. Começar a ser grande com os livros é o desafio. Uma parte de nós constrói-se com o que lemos. A outra com as emoções que cultivamos. Dentro e fora de nós.

in JN, 10-10-2023



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