Manuel Igreja

Manuel Igreja

Concerto na Alameda. E não só.

Quem diria. A sério! Caso alguém me dissesse que num qualquer sábado pela tarde se iria poder assistir a um concerto de música clássica na nossa cidade da Régua, muito me haveria de custar a acreditar. Não juro, mas creio que a muitos que agora me leem sucederia o mesmo em descrença.

Mas não. A realidade das coisas encarregou-se de matar o ceticismo. Passou a acontecer o que antes parecia distante ou quase impossível. Na Régua cidade para o mundo, da vinha e do vinho, capital para que conste, do Alto Douro vinhateiro, a cultura afirma-se e ganha gavinhas para se entrelaçar nos bardos.

Na Alameda, espaço icónico da urbe desde há décadas, é agora mais possível fazer com que ela medre para que ajude a marcar a diferença através da qualidade que se adquire. Graças ao que se disponibiliza e usufruiu, o Peso da Régua pode inequivocamente afirmar-se como cidade de referência e de recomendação para quem cá viva e para quem cá venha.

Numa tarde de sábado a meio do setembro soalheiro ouviram-se no Auditório os acordes elaborados pela Orquestra Juvenil Luso Alemã em boa hora trazida. Quem tinha de propor, propôs, quem tinha de aceitar, aceitou, e a aposta ganhou-se. Foi mais uma de outras que se têm vindo a fazer e a ganhar.

De resto, nestas coisas nunca se perde. A semente fica sempre, germina e marca. Uma cidade é isso mesmo. Constitui-a um conjunto de infraestruturas e de eventos que deixam registo e que a tornam feita de gente mais conhecedora e intelectualmente mais rica e exigente.

O Auditório Municipal sobre o qual escrevi há umas semanas torna-se crescentemente uma referência incorporando-se cada vez mais no quotidiano dos cidadãos ajudando a cimentar a noção de que se habita numa cidade moderna capaz de proporcionar qualidade de vida. Haverá quem ache que não, porque cuida que tal só na cidade grande se alcança, mas ilude-se.

Repare-se entretanto que não é só no Auditório que as coisas de excelente cariz cultural acontecem. Não senhor, não é. Ainda há dias, no Museu do Douro, houve outro evento de elevado coturno cultural. De excelência a toda a prova. Um espetáculo ao nível do melhor do mundo, como outros que passaram um pouco despercebidos mas que foram realidade ao dispor de quem quis ou pôde.

Paredes meias com uma exposição de pintura de Júlio Pomar, um senhor na arte, a seguir ao jantar de uma sexta-feira, pode ouvir-se e sentir a música de Richard Galliano, o melhor acordeonista do mundo. Foi soberbo, é unicamente o que se pode dizer. Isto para nem falar no resto do Museu em si mesmo, encanto dos milhares que o visitam, e orgulho de duriense que se preze e que saiba que a região é muito mais que a paróquia de cada qual em seu canto redutor.

Como dizia Miguel Torga, o universal é o local sem paredes. Na Régua pode-se cada vez mais alargar os horizontes voando nas asas da cultura que define e que deve ser ajuda forte no desenvolvimento e no crescimento económico e social. A cada um só compete não deixar que tudo se torne numa oportunidade perdida em terra que se deve afirmar. Os concertos na Alameda e não só, dão-nos asas.


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