Chrys Chrystello

Chrys Chrystello

Começo a ficar farto

Crónica 451. Começo a ficar farto 

De facto não pedi para nascer, mas como já cá ando há muito tenho-me esforçado para que o mundo fosse um lugar melhor, mais justo, equitativo e equilibrado. Tenho de admitir, neste ocaso da vida, que foi um falhanço total, depois de três décadas esperançosas entre 1960 e 1990, isto piorou de forma avassaladora e nem mesmo os enormes avanços da tecnologia me fazem sorrir de otimismo. Não é só esta estúpida invasão da Ucrânia e a guerra iniciada pelos russos, nem apenas o aquecimento global, nem as catástrofes naturais que se multiplicam de ano para ano, é olhar para esta horta plantada à beira-mar e vê-la mirrar sugada por nove milhões de corruptos (ou mais) onde a justiça só se aplica ao pé descalço e os ricos e poderosos escapam por entre os pingos da chuva, onde os banqueiros recebem bónus milionários por mais perdas de lucros ou mais prejuízos que tenham obtido, à impunidade no desporto, na política, na vida em geral. Começo a convencer-me de que a corrupção não só é endémica como genética e isso favorece populismo cheganos e outros.

Por momentos admito mesmo que o ditador estivesse certo ao dizer algo parecido a “quanto mais ignorantes, mais felizes”. Os poucos seres pensantes vivem rodeados de preocupações e a maioria da população entretém-se sem elas, por entre futebol, telenovelas, alguma fé e o voyeurismo de programas circenses sem se preocupar com a perda de direitos e liberdades como aconteceu na experiência de controlo de massas (dito Covid-19), ou com a subida dos combustíveis, da inflação, da taxa Euribor.

E aquele sonho de Robinson Crusoe antigo já se desvaneceu e são poucas as ilhas desertas onde se pode sobreviver. Se eu – ao menos – pudesse desligar do que me rodeia, mas para quem foi jornalista toda a vida difícil seria encontrar o botão de desligar como na imagem dos três macacos (cegos, surdos e mudos). Resta-me ler e escrever e fazer de conta que o que se passa em volta não me afeta e tentar manter alguma sanidade nos dias que me restam, isto se, entretanto, ninguém decidir carregar no botão vermelho…

Chrys Chrystello, [email protected] Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713 [Australian Journalists' Association - MEEA]

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