Chrys Chrystello
A escrava açoriana de ALMEIDA MAIA
25.6.2022
A escrava açoriana de ALMEIDA Maia lê-se em dois fôlegos, dos grandes, umas primeiras 80 páginas ou tal, que se estranham pelo estilo diverso de livros anteriores, mas com a mesma eficiente recriação histórica ao detalhe.
Até um determinado ponto o enredo parece previsível de tão plausível que é, numa viagem pela saga heroica dos homens e mulheres que fizeram parte do Brasil e o construíram à força de trabalho, imigração ilegal, vontade de alforria como se a própria escravatura fosse melhor que a vida no arquipélago.
Depois, o enredo complica-se e entra numa montanha russa de mais uma centena de páginas até final com mais reviravoltas que um "roller-coaster" gigantesco de emoções, acontecimentos reais visitados e ficcionalizados, numa teia intrincada de emoções e sensações, independentismo, emancipalismo, femininismo, republicanismo sempre com volte-face de emoções e situações inesperadas e imprevisíveis, prendendo o leitor na espera de um desenlace que nunca surge como se antecipa, numa total antítese do que se esperava nas primeiras oitenta páginas.
Uma vez mais aqui e ali os mil e um detalhes da época, de cada época específica em que a ação decorre.
A magistral entrada em cena do quadro "Os emigrantes" de Domingos Rebello é de uma maestria soberba de imaginação.
Nada é forçado, nada é desfocado, nada é despropositado nesta narrativa empolgante, como já nos habituou o autor, que ara as palavras como quem cuida de colher filigranas. um livro a não perder de um autor que tem de - forçosamente - almejar a lugar cimeiro da escrita contemporânea em língua portuguesa, eivada da riqueza única da açorianidade literária, de uma universalidade sem fronteiras.