Barroso da Fonte

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CTT desconhecem Patrono do Grémio Literário de Vila Real

Sou do tempo em que Portugal tinha os melhores correios do mundo. Meus pais foram responsáveis por irem de Codeçoso à Gorda buscar e levar, diariamente, o saco lacrado dos CTT. Era necessária uma chave própria e eram, a primeira e a última «Carreira», de cada dia que entregavam e recebiam essa sacola do correio que os utentes recebiam e expediam.

Essa tarefa era contratada entre os Correios de Portugal e um morador da aldeia que deveria ser indicado pelo «Regedor». Esse morador podia usar um chapéu identificativo e armamento para se defender em eventuais «assaltos» ao tarefeiro.

Como éramos dez filhos, aqueles 20 escudos mensais, pela função de carteiro, era executada pelo filho, que aparentasse mais respeito.

Era uma função nobre que tinha de ser fiel aos horários da «carreira». Em cada sacola podia chegar ou partir qualquer convocatória para ir ao tribunal, às finanças, à câmara, notícias urgentes dos ausentes. Nessa altura os Correios eram uma entidade muito importante.

As guerras, a emigração e a chegada dos automóveis, alteraram os métodos que ainda hoje servem para comparar com a bandalheira a que chegaram as comunicações.

A importância dos CTT continua a ser decisiva para notificações judiciais, para tanta coisa que mexe com a sociedade e cuja situação é caótica. Basta avaliar pelos tribunais, pelos adiamentos, pelas greves, pelos carteiros que mudam todos os dias, pelas trocas de correspondência.

Um exemplo disso pode ser constatado pelo envelope anexo que diz ser «desconhecido» o destinatário, acabado de ser eleito como patrono do Grémio Literário de Vila Real.

O signatário desta nota, que vive em Guimarães, recebeu, por e-mail de 27 de Março, uma solicitação desse alto quadro da Cultura Portuguesa. A devolução da carta só chegou cinco semanas depois de expedida, pelo que poderá ter lesado cultural e moralmente o autor do poema «ao Rio Rabagão», que deveria sair no II volume da «Geografia Literária Transmontana».

Fica demonstrado que os CTT deixaram de servir, capazmente, os cidadãos, recriando mais uma forma de abafar a liberdade cívica. No tempo de Salazar criou-se a censura, tão detestada. Meio século depois, só mudaram as moscas, porque até os melhores correio do mundo mergulharam no pântano.

Parece incrível que brinquem com o nome do Dr. Pires Cabral, um dos Transmontanos mais credenciados, não só em termos pessoais como promotor da Cultura Portuguesa .

Para que não restem dúvidas, vai em anexo o envelope que explica esta tramóia. E também o seu conteúdo.

Barroso da Fonte




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