Barroso da Fonte
D. José Cordeiro o mais jovem arcebispo da Lusofonia
A Diocese de Braga, a mais histórica desde a Fundação de Portugal, deu muitos padres e bispos à Igreja católica, nomeadamente à região a norte do Rio Douro. Vila Real só teve diocese em 20 de Abril de 1922. Em 1545 foi fundada a diocese de Miranda. Em 1770 criou-se a de Bragança. Mais tarde passou a chamar-se Bragança-Miranda. Em 22 de Abril próximo, cumpre-se o primeiro aniversário da Diocese de Vila Real.
Dia 13 de Fevereiro último D. José Cordeiro, cuja Família é oriunda de Alfandega da Fé, tomou posse como Arcebispo de Braga. Uma permuta natural e providencial porque D. José Cordeiro, com 55 anos de idade e experiência de 11 anos de prelado nordestino, tem à sua frente a mais antiga e histórica arquidiocese da Lusofonia.
Não venho a este espaço público, com grande audiência falar do presente. Prefiro falar do passado e do futuro. Como entendo ser um tema aliciante e pedagógico, conto voltar a ele porque a religiosidade tem tido, ao longo dos 900 séculos que Portugal vai completar em 2028. Há várias nuances para o aprofundar da a longínqua distância de novecentos anos e a historicidade Bracarense, antes, durante e depois do 24 de Junho de 1128, data da Batalha de São Mamede.
Basta recuar ao reino Suevo, para nós mais conhecido como Reino da Galécia que se seguiu ao germânico pós romano e que existiu no noroeste da Península Ibérica entre os anos de 411 e 585. Decorria o século V quando se iniciavam as campanhas militares, sempre bem sucedidas para a Península Ibérica. Chefiava esse reino o famoso Hermerico que por aqui cirandou. Era nessa altura que as populações pugnavam, não só pela conquista de territórios, mas também pela conversão ao catolicismo. É a partir daí que se revelam grandes figuras como: o Bispo Idácio (Chaves) Paulo Orósio, Martinho de Dume, Gregório de Tours, João de Biclaro e Isidoro de Sevilha.
Braga foi, desde essa movimentação territorial, cultural e religiosa, um centro nevrálgico e decisivo para as triangulações entre povos, sobre organizações políticas e fixações territoriais. Bem pode dizer-se que, durante séculos, foi Braga a capital do reino da Galiza, enquanto este durou. O primeiro Condado Portucalense entre 868 (com Vímara Peres) e 1071, (Rei Garcia II). Nuno Mendes bateu-se pelo Condado que Vímara Peres recebera, como prémio da vitória, contra os inimigos da Fé. Mumadona Dias e mais os seus nove condes que se seguiram mantiveram aquele território que Nuno Mendes perdeu a favor de Garcia II, a 18 de Janeiro de 1071.
Tinham decorrido 203 anos. Mumadona tinha recuado a sede desse primeiro Condado, desde as margens do Douro, para a então vila de Guimarães. Foi ela e os seus sucessores, condes, que mantiveram o domínio da fixação da autoridade nos territórios reconquistados aos muçulmanos. Nuno Mendes tentou consolidar aqueles domínios de entre Douro e Minho. Mas Nuno Mendes, com esse seu atrevimento, fez com que o seu Portuscale fosse reintegrado no reino da Galiza. Só 25 anos mais tarde, em 1096, pelo casamento de D. Tereza com o Conde D. Henrique, recebeu do sogro, como prenda de casamento, o segundo Condado Portucalense.
Para que a religião católica continuasse a expandir-se, quer o Conde D. Henrique, quer sua mulher D. Tereza, estreitaram relações entre o poder político e a religião católica. D. Afonso Henriques que herdara dos Pais esses princípios, tudo fez para que Portugal florescesse. Reza a História que Portugal singrou, como povo, à sombra da Igreja. Na batalha de S. Mamede, Nª Senhora da Luz, para que as tropas Portuguesas vencessem à luz do dia, prolongou a tarde, retardando o anoitecer. Reza a tradição que em Creixomil, hoje freguesia urbana de Guimarães, contígua à de Sampaio e da Oliveira, passou a celebrar a «festa religiosa de Nossa Senhora da Luz». Na Batalha de Ourique, travada no dia em que Afonso Henrique fazia 28 anos, o nosso Rei Conquistador, venceu os cinco Reis Mouros.
D. Afonso Henriques sabia que estes primeiros passos, eram frágeis e que a sua consolidação passava pelo reconhecimento das instâncias internacionais daquela época, e, especialmente, da Santa Sé.
Foi por isso que se declarou imediatamente vassalo do papa. O reconhecimento demorou várias décadas e só deu frutos em 1179, com a emissão da bula Manifestis Probatum. Pode, portanto, dizer-se que só nesta altura é que a independência de Portugal ficou verdadeiramente consolidada. Que outras razões me levam a escrever este preâmbulo, para um segundo texto explicativo sobre o mesmo tema, são as muitas e significativas coincidências entre as dioceses de Braga e de Bragança. Desde o 1º Bispo de Braga São Pedro de Rates (45-60), já era reconhecida, como tal para fins religiosos, políticos, diplomáticos e sociais.
Pelos tempos fora, foi sendo sufragânea de quantas foram instituídas, como aconteceu há um século com a criação da Diocese de Vila Real. D. José Cordeiro é 120 º Arcebispo de Braga. Em 20 de Abril próximo, a Diocese de Vila Real fará um século de existência. Mas não foram pacíficas as relações, nem coincidentes as lideranças. Mas todas souberam ultrapassar aquilo que as distinguia, prevalecendo a ética, a dignidade e o respeito individual e coletivo.
Bem andou a Assembleia Municipal de Bragança por ter atribuído ao novo Arcebispo Português o Brasão de Ouro do Município e também o título de cidadão honorário da cidade. «Ditosa Terra que tais filhos tem»
Saúdo D. José Cordeiro pela justa ascensão a Arcebispo de uma das mais laboriosas, mediáticas e antigas dioceses Lusófonas.
Parabéns a Alfandega da Fé, concelho das raízes do novo Arcebispo da importante diocese de Braga.
Texto: Barroso da Fonte, Fotografia: António Pereira