Ana Soares

Ana Soares

Da não discriminação à estupidez desmedida

O ponto de partida desta crónica são os Blocos de Actividades para Meninas e para Meninos da Porto Editora e o facto de continuar incrédula com a polémica tão oca que se gerou. Quanto aos livros, remeto a generalidade do que penso para o comentário de Ricardo Araújo Pereira, que aconselho vivamente, pretendendo aqui ir ao cerne da questão.

Não sei se ando demasiado distraída a brincar com a minha Filha à bola e com os bonecos dela (sim, porque ela faz as duas coisas e não deixa de ser Menina por isso, imagine-se!), mas tenho para mim, como certeza absoluta, que os géneros são diferente até por questões anatómicas e biológicas. Mas as diferenças não se ficam por aí. Em qualquer conversa com Amigos que tenham filhos dos dois sexos assistimos a relatos práticos de como existem diferenças psicológicas e de desenvolvimento, entre outras. É natural e é até benéfico termos consciência dessas mesmas diferenças, até para os conseguirmos apoiar melhor durante o crescimento. O que não percebo é como se passou de defender a não discriminação entre os géneros para uma imposição de ideologia de género que, mais não pretende, que extingui-los.

Sejamos claros: uma coisa é a não discriminação em função do sexo, cuja justiça é tão clara que nem necessita de ser defendida, precisando – isso sim – de ser praticada no dia-a-dia em questões tão banais como a desigualdade salarial. Outra é a imposição de uma ideologia de género que pretende contrariar o que é natural e que em nada é sinónimo de discriminação, pois igualdade implica tratar igual o que é igual e diferente o que é diferente, sem segregação.

Em algum momento da sociedade recente passámos de defender a igualdade à estupidez desmedida. Não sei bem quando nem porquê, mas a verdade é que é assustador ver o peso que têm (mais na comunicação social do que na sociedade, felizmente) os que defendem ideias tão inúteis como – imagine-se! – que a roupa das crianças deve ser unissexo até ter idade para definir a sua identidade de género. Mas como assim?! Querem ver que quando o obstetra me disse que eu ia ter uma menina (e não um ser humano com aparelho reprodutor feminino que mais tarde decidirá se irá ser menino, menina ou um terceiro sexo que deverá estar já a ser inventado) estava a ter um discurso discriminador e eu não dei por isso? Tenham dó!

Mais boquiaberta fico por, no Canadá, haver já uma criança registada sem indicação de género porque, como declarou o Pai, "Quando nasci, os médicos olharam para os meus genitais e fizeram suposições acerca de que eu iria ser. Essa atribuição perseguiu-me e perseguiu a minha identidade ao longo da minha vida", mais afirmando que se identifica com um género “não-binário”. Cada um é livre de defender o que quer até colidir com os Direitos dos outros ou, pelo menos, foi o que sempre aprendi. Isto também já mudou? Ninguém se preocupa com esta Criança? Até quando se calará a sociedade face a esta ditadura de minorias que terá consequências graves na maneira como está estruturado o mundo? Sim, esse mesmo que não nasceu há meia dúzia de anos…

Quando, aqui há tempos, vi um autocarro circular em Madrid com a inscrição “Los niños tienen pene. Las niñas tienen vulva. Que no te engañen.” (“Os meninos têm pénis. As meninas têm vulva. Que não te enganem”) percebi a ideia da campanha, mas lembro-me de ter comentado, com o meu Marido, que daqui a pouco tínhamos estandartes da frase de Lili Caneças que “Estar vivo é o contrário de estar morto”. Afinal, aqui me confesso, parece que estava errada e demasiado crente no bom senso da sociedade…

Eu sou Mulher por o espermatozoide do meu Pai ser “X” e não “Y”, não por qualquer decisão que os meus Pais tomaram por mim em criança ou eu em adulta.

E se, em vez de minudência parvas, nos preocupássemos com o facto de mais de 90% dos muda-fraldas estarem nas casas de banho femininas? Não será isso mais representativo de mentalidade retrógrada? Alguém pode, por favor, fazer chegar este facto à Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género ou será esta crónica também alvo de censura (ou, fazendo uso do politicamente (in)correcto “por orientação do Ministro, recomenda(da) a retirada”? Será também recomendada a retirada do mercado da “SIC Mulher” ou, nesse caso, outros valores se sobrepõem? Só espero sinceramente que isto seja apenas reflexo de um Verão em que não se quer dar atenção ao que acontece no país, no mundo e nas campanhas autárquicas, porque se for mais do que isso (e receio que seja pois já se arrasta há algum tempo) algo está muito errado no mundo…

Estarei sempre na linha da frente para apoiar o combate a discriminações que existam, não aquelas que são inventadas por quem constrói um mundo na sua cabeça bem diferente do real. Querer impor que sejamos todos iguais é contrariar a igualdade e é mais próximo de um regime autoritário do que um democrático, sejamos claros! Igualdade sim, todos idênticos não!


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