Chrys Chrystello

Chrys Chrystello

Desgosto deste país

,

CRÓNICA 356,  DESGOSTOSO DESTE PAÍS17.8.2020

 

Ao longo dos anos sempre declarei o meu ilimitado amor a este país, pela sua história, língua e paisagens deslumbrantes, mas entendo que chegou a hora de me divorciar litigiosamente de um país que credita milhões  em bancos e deixa que os depósitos e poupanças de milhares de pessoas não sejam  devolvidos a quem os trabalhou e aforrou em manigâncias de falências fraudulentas BPP, BPN, BES, Banif. Dizem que o Estado já injetou mais de 20 mil milhões de euros nestas bancarrotas

Surgem, esporadicamente umas imagens na TV, de dezenas de espoliados a protestarem, os governantes aparecem a fazer promessas balofas e ocas para o dia-de-são-nunca-pela-tardinha e esperam que tudo volte ao normal.

E o mais grave disto tudo é que os anos passam e o silêncio ensurdecedor dos protestos permanece, como se fosse lógico meter continuamente, dinheiro num doloso Novo Banco de negócios escuros e manobras mais obscuras, com fundos abutres e vendas de propriedades ao desbarato, sem ressarcir os depositantes que confiaram nesses bancos todos antes de se verem espoliados, expropriados, desapossados, esbulhados, defraudados, extorquidos, pilhados ou roubados, dos seus depósitos e de suas poupanças. Obviamente que um governo, um Estado que permite isto e continua a assobiar para o lado, eleição após eleição, não é um Estado de bem nem de Direito. O famigerado Zé do Telhado do século XIX era mais honesto.

Ficava, decerto, muito mais barato devolver aos lesados tudo o que perderam do que manter o Novo Banco aberto.

Não sei se Portugal é o quinto país mais corrupto, ou o primeiro ou o décimo, nem me importa, o Relatório da Transparency International dá ao país 62 pontos, menos dois do que no ano passado. Organização fala em derrapagem e em "falta de coragem política" para combater a corrupção em Portugal. Disto se aproveitam movimentos e partidos populistas e demagogos vogando na crista da onda de revolta de alguma população que neles veem a salvação, tal como prometeram Trump e Bolsonaro aos insatisfeitos pela corrupção nos seus países.

Sei que não acredito na justiça, nem nos parlamentares, nem nas negociatas de advogados no governo e na Assembleia, nem no nepotismo  partidário e governamental que está,  de tal forma entranhado na sociedade, que deve ser mais fácil corromper os que ainda não foram corrompidos do que tentar erradicar a corrupção.

Que posso fazer? Nada, a não ser perorar nestas colunas e votar com a maioria que aderiu ao maior partido português, o absentismo eleitoral. Já não tenho idade nem forças para tentar mobilizar sejam quem for

Tal como Portugal também a Islândia teve casos de créditos ao desbarato, e empréstimos sem garantias. Todos estavam ricos e a situação atingiu o ponto de rutura. A diferença é que a Islândia deixou cair os bancos e prendeu os banqueiros. O ex-primeiro-ministro islandês foi julgado por negligência,  uma dezena de banqueiros, uns poucos empresários e um punhado de políticos formaram um grupo que levou o país inteiro à ruína: 10 parlamentares islandeses, incluindo os líderes do partido que governou desde 1944, tinham empréstimos pessoais concedidos de quase 10 milhões de euros cada. Hoje estão quase todos na cadeia, a economia do país que entrara em colapso deu um salto e saudável de crescimento económico mesmo com a pandemia.

2

E em Portugal surgem 1001 acusações, processos infindáveis, suspeitas sobre tudo e todos, mas raros são os julgamentos e condenações, que para isso serve a bem oleada engrenagem de advogados no poder.

Depois surgem sempre as notícias de maus tratos a idosos, condições sub-humanas em lares, mais um inquérito que nunca vai dar resultados como nos incêndios que todos os anos devastam Portugal. Qualquer que seja o exemplo que se busque o resultado é sempre o mesmo, impunidade.

Que posso fazer? Nada, a não ser perorar nestas colunas e votar com a maioria que aderiu ao maior partido português, o absentismo eleitoral. Já não tenho idade nem forças para tentar mobilizar seja quem for, e esperanças


Partilhar:

+ Crónicas