Chrys Chrystello
Desgovernados na borrasca e na guerra
516 CRÓNICA 516 DESGOVERNADOS NA BORRASCA E NA GUERRA
Nos Açores a educação tem 13 milhões (euros) para a renovação digital e 700 mil (euros) para despesas correntes. Já há professores a levarem papel higiénico para as aulas, pois, não se pode limpar o traseiro a equipamentos informáticos. Não sei como fazem, se levam resmas para tirarem fotocópias, se levam autocarros para transportar as crianças e por aí diante…
Mas na saúde é o mesmo com as listas de espera a aumentarem (de novo), a falta de material e de recursos humanos (pessoal auxiliar, enfermeiros e médicos), a falta de substituição de equipamentos caducos (muitos com mais de 20 anos, sem reparação possível e tecnicamente desatualizados (obrigando a deslocações interilhas e até para a península ibérica).
Não menciono a escandalosa cena da cadeia de Ponta Delgada que há décadas não anda e não desanda, mais bagacina aqui menos concurso anulado ali, com a data de 2027 assinalada como novo marco, sabe-se lá para quê… até parece a estação aeroespacial de Santa Maria que ia estar operacional em 2021 e que viu idênticas bases serem construídas na Escócia, Suécia, Espanha e em Santa Maria nem o fumo dos projetos…
Podia mencionar os cabos submarinos que a República agora decidiu serem da responsabilidade autonómica nas ligações interilhas. Lisboa também estuda o aproveitamento dos da Google para substituir os decrépitos cabos em vias de ficarem inoperacionais…
Podia lembrar o alargamento da pista da Horta e da do Pico, mas tal como as OSP (obrigações de serviço público) no transporte da SATA interilhas que a República se esqueceu de pagar. Há promessas de concursos mas, de facto, nada se concretiza e a autonomia continua a pagar o que a República omite.
Um dos meus temas favoritos é a prometida negociação do Subsídio de Mobilidade (seria em 2019?) que diz que o teto máximo para um residente é de 134.00 euros numa viagem de ida e volta à Península, mas, entretanto, esse residente tem de adiantar cerca de 500 euros para a SATA, TAP ou Ryanair por cada bilhete. Depois, ao regressar irá asinha aos CTT munido de folhas e comprovativos para ser reembolsado. Ao menos na Tarifa Açores interilhas, só paga os 60 euros da viagem de ida e volta e não adianta dinheiro para as companhias aéreas…
Em outubro foram tantos os casos e bocas que nem os anotei a todos, mas sobressaiu o do Vice-presidente do Governo regional dizer que as amas dos Açores são muito reivindicativas, pois até já ganham o salário mínimo (para 11 horas diárias de trabalho). Que benemerência senhor vice… até me impressiona que o senhor não queira ser ama…
E como gosto sempre de lembrar a História que os portugueses teimam em esquecer (e em não estudar) chegou a vez de recordar o dia 18 de outubro de 1739 quando o escritor António José da Silva (discriminativamente cognominado O Judeu), foi encontrar o criado num auto-de-fé que atraiu muito público. Tinha 34 anos, e promovera as primeiras óperas em Português, depois de escrever “Guerras do Alecrim e Manjerona”.
Nós por cá já (ou ainda) não temos esses autos-de-fé, nem são precisos, pois com os cortes radicais que este governo guardou para assuntos culturais, o mais certo é as pessoas imolarem-se nesta enorme Pira de incompreensão e desprezo pela cultura, pelas artes, pela literatura a que fomos votados. Talvez devêssemos ser reivindicativos como as amas…ou nem nos devemos queixar porque os apoios recebidos, tarde e a más horas (este ano foi em finais de outubro), ainda vão dando para o papel higiénico que falta nas escolas.