Luis Ferreira
Do centro à direita ou vice-versa
Dizia-me um amigo que a política em Portugal nada mais é do que uma feira de vaidades. Dei-lhe razão.
O que temos verificado nos últimos anos dá-nos uma certeza: parece que ninguém quer resolver os problemas do país, mas sim os seus. E como se resolvem? Indo para o governo, ocupando cargos importantes que lhes permitem dominar interesses e comandar vontades e passear-se pelo país vendendo imagens de um Portugal sereno, confiante e em crescimento.
A verdade é que os partidos políticos estão a perder votos e qualidades. Os partidos que foram o alicerce de um Portugal democrático estão a perder a base que os sustentava pela simples razão de que os portugueses deixaram de confiar em tudo o que lhes dizem. Os governantes estão desacreditados. Tanto prometem e tão pouco cumprem que não há meio termo possível.
Nos últimos anos, verificámos que os sucessivos governos perderam um pouco o Norte, desvirtuando o rumo que durante anos não se cansaram de afirmar. Pagaram por isso. Nas eleições a que temos sido chamados a votar, verificámos isso mesmo. Até os que pareciam ser os que mais prendiam os eleitores, como o Partido Comunista, têm vindo a ver o seu eleitorado desviar-se desse tal rumo certo e perder-se nas vielas estreitas de outros povoados. O mesmo aconteceu com o Partido Socialista que teve de se aliar a partidos completamente fora do seu âmbito, para poder governar, formando a tão conhecida geringonça. Interessava estar no poder a todo o custo, para poder controlar, dominar e comandar vontades. O PS saiu do centro para a esquerda radical e não se afligiu com isso, pois continuava a gerir os seus interesses e dos seus pares. O PC e o BE desviaram-se para a direita e sentaram-se temporariamente no centro, sempre com a mão na cadeira do poder, não fosse ela cair.
Pior esteve o PSD que não conseguiu entrar no jogo das cadeiras e não teve a força suficiente para exigir fosse o que fosse à geringonça governativa. Eram demasiados partidos para um país tão pequeno! Rui Rio ganhou e vai liderar, mas não se sabe bem o quê. O CDS que esteve ligado ao governo anterior, viu-se afastado do poder e perdeu o espaço que lhe pertencia, perdendo nas últimas eleições 13 deputados, ficando reduzido a 5 lugares no Parlamento. Quem ganhou estes lugares? Os radicais de direita. Claro. Parece impossível. Então criticava-se o facto de um partido ser muito à direita e agora acredita-se em novos partidos que são radicais de direita? Afinal o que quer este país? Ninguém se entende.
Este fim-de-semana o CDS esteve em reflexão para escolher o seu novo Presidente. Foram cinco os candidatos para um só lugar. O curioso e triste ao mesmo tempo, é que eram tantos os candidatos como os deputados do Parlamento. Não sei se o Partido está dividido se são os interesses pessoais de cada um que impedem a união em momento tão difícil para um Partido que ajudou a fundar a democracia em Portugal. Gastam-se energias, atacam-se os pares que ontem eram os amigos chegados, em vez de se unirem para ganhar um país que está à espera de soluções. Todos não são demais. Se o CDS quer continuar a ser a referência do Centro Direita, terá de se afirmar com esse objetivo programático e não se desviar muito, pois tem de ir buscar novamente os votos que foram para a direita radical que agora ocupa alguns lugares no Parlamento. Mas Francisco Rodrigues dos Santos, agora Presidente, parece-me um pouco radical. Portugal não é um país de direita radical. Nunca foi, mesmo nos tempos da outra senhora. Sabemos bem o que queremos e só a falsidade de alguns permitem que outros busquem novas paragens. O novo Presidente agora eleito, saberá com toda a certeza, que não pode trilhar o mesmo caminho que outros percorreram, mas há valores que não se podem vender por mais que se pague por eles. Valores que se não podem perder. É preciso respeitar a diferença de opiniões e ter uma cultura democrática. Os históricos do Partido serão sempre uma base de apoio, seja quem for o Presidente. Os novos de hoje serão os históricos de amanhã. As lideranças carismáticas precisam de ser mudadas, respeitadas mas não esquecidas.
No fundo, o que é preciso não esquecer é que o CDS é um partido do Centro Democrático. Não é nem da esquerda, nem da direita radical. Situemo-nos.