Luis Ferreira

Luis Ferreira

E agora?

Vivemos ultimamente momentos de enorme ansiedade devido ao ato eleitoral a que nos submetemos. Foi inesperado por factos que todos conhecemos, mas suficientes para derrubar um governo de maioria absoluta, ao fim de ano e meio. Ninguém contava e muito menos o próprio governo e atrevo-me a dizer que nem António Costa esperava demitir-se nas condições em que o fez. Mas fez.

Com o país à deriva e um governo sem poderes, esperava-nos novas eleições para eleger um governo que fizesse voltar o país ao rumo certo e descansar os portugueses, cansados já de incertezas. E foi o que aconteceu. Houve eleições.

No entanto, muitas foram as surpresas saídas destas eleições. Umas boas outras nem por isso. A melhor foi a descida da abstenção, o que demonstrou que os portugueses queriam mesmo uma mudança de política e não queriam mais maiorias absolutas. Aliás, pelo que se ouvia há muito tempo, os portugueses não queriam mais maiorias absolutas no governo. E conseguiram.

Entendo que eles queriam um governo onde as várias forças políticas ganhadoras se entendessem de modo a governar. Mas quais os partidos que iriam ganhar ninguém sabia. Todos apostavam que seria a Aliança Democrática, mas poderia não ser e esse receito manteve-se até ao fechar das urnas.

A cada momento e somatório de resultados das freguesias que apareciam nos órgãos de comunicação social, traziam mais incertezas e ansiedade. E se em alguns momentos a AD se distanciou um pouco dando a esperança de uma grande vitória, logo se seguia outro resultado onde a diferença se resumia a uns meros dois ou três pontos percentuais. E a noite toda foi deste teor. No final ganhou a Aliança Democrática com a diferença de dois deputados, o que é pouco, apesar de ser uma vitória. Os portugueses mostraram-se receosos.

Mas quem cantou vitória foi efetivamente o CHEGA, que não tendo ganho nada, ganhou somente quarenta e oito deputados, ou seja, quadruplicou os que tinha na legislatura anterior. Bravo. Ventura fez a festa e disse o que lhe apeteceu inicialmente, mas como não obteve o que pretendia, passou a ser mais comedido, à procura de ter mais sorte. Na verdade, ele não ganhou o direito de governar, nem de se impor a quem fizer governo, arvorando, no entanto, um milhão de votos como trunfo importante. Então os outros partidos não tiveram mais milhões de votantes? Claro que sim. E não se impuseram a ninguém, nem é tempo disso. Quando não há maiorias absolutas, todos sabem que é necessário fazer acordos com outros partidos para que as propostas sejam aprovadas, além, claro, do Orçamento que é assunto que requere outro tipo de maioria para ser aprovado e que permita ao governo poder governar. Então em que ficamos?

Seja qual for o governo que saia desta panóplia eleitoral, e ainda não temos bem a certeza qual será, terá de negociar determinadas medidas. Para isso, tem duas alternativas mais credíveis: ou negoceia com o PS, já que o Orçamento com que vai governar é o do PS, pelo menos até outubro, ou com o CHEGA, já que é isso que ele exige para aprovar o orçamento. E aqui o Não é Não, não funciona lá muito bem. Montenegro terá de pensar bem no que quer. Ou governa, ou deixa governar.

Nenhum partido está disposto a deixar cair o governo. Esta é a minha convicção. Cair o governo e irmos novamente a eleições daqui a três ou seis meses, seria o descalabro. A abstenção subiria novamente para os 60% e o CHEGA desceria novamente para os 7%, para não falar em outras hipóteses. Ninguém iria votar e todos chamariam nomes muito feios a todos os políticos. Estamos a imaginar.

Muitos culpam Marcelo pelo sucedido. Realmente ele poderia não ter marcado eleições e aceitar um Primeiro Ministro novo que substituísse Costa. Evitaríamos as eleições e este caos eleitoral. Estou certo que deverá estar arrependido, mas nunca se sabe. Raramente se arrepende. Contudo, o que ele disse numa das suas intervenções escritas, tentaria evitar um governo onde entrasse o CHEGA. Bom, isso talvez consiga, mas não lhe tira o mérito de ser um partido de charneira e que tem de ser ouvido para o governo poder governar. Ventura não abdica desse trunfo. É demasiado vaidoso e pretensioso para o fazer. E não vai querer mais porque sabe que não lho dão.

Temos, pois, um panorama pouco claro, pois não sabemos quem nos vai governar e como. Faltam os quatro deputados da Europa e do resto do Mundo que poderão baralhar ainda mais o que já está baralhado. Se o PS tiver três deputados e a AD um, empatam em número de deputados na Assembleia e então pergunta-se: quem vai o Presidente da República nomear para constituir governo? Isto nunca aconteceu, mas também nunca a abstenção baixou tanto, nem o CHEGA cresceu tanto, nem o PS perdeu metade dos seus deputados. E isto é verdade. Vamos esperar.

As culpas ninguém as quer e as vitórias todos as querem, mas o que aqui conta mais é o bem-estar dos portugueses e quem vier a governar tem de se lembrar disso mesmo. Notem bem que a ingovernabilidade do país está mesmo à porta e nunca se sabe quem a vai abrir. E se todos perderem a chave? Ficamos todos fechados? Temos que nos entender. E agora Marcelo?



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