Chrys Chrystello
E agora ? Sairá daqui um novo mundo ou repetiremos o velho?
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Tenho visto pela blogosfera críticas à governação, tribalismos, bairrismos e outras querelas partidárias que não deveriam existir neste momento, pois esta fase tem de ser de união, para nos tentarmos salvar da ameaça externa à nossa sobrevivência.
Lá mais para a frente, quando houver eleições, podemos todos dizer de nossa justiça, se o direito ao voto não tiver sido consumido nesta declaração de emergência nacional. Para já devemos sob o risco de soçobrarmos, manter-nos unidos, como aconteceu ao longo de séculos de ameaças, piratas e corsários, castelhanos, vulcões e terramotos, por qualquer ordem aleatória de desgraças que sempre pairaram por sobre estas ilhas.
Apesar da cultura de medo que a comunicação social global nos tem incutido, devemos pensar positivamente. Se, e quando, a crise for debelada, será uma oportunidade única de repensarmos a nossa existência neste planeta, o único onde podemos habitar, tanto quanto sei, e não há plano B nem planeta B como alternativa e nem todos dispõem de bunkers subterrâneos como alguns ricaços por esse mundo fora.
Há mudanças climatéricas graves e nem me interessa saber se há aquecimento global ou nova época glacial, sei que há alterações profundas em terra, mar e ar, que ninguém pode negar. Se até agora não tinham resultado os apelos de cientistas, de leigos e de todo o tipo de gente (talvez bem-intencionados mas até um pouco histéricos como a jovem Greta), o vírus veio dissipar nuvens de poluição em todo o mundo, com a paragem forçada de fábricas, minas, explorações de petróleo e tanta outra atividade poluente. Peixes e golfinhos voltaram a águas límpidas em Veneza, segundo dizem, e até os céus pareciam mais azuis como antigamente e as estrelas mais brilhantes nos céus noturnos.
O vírus proporcionou-nos uma oportunidade única de pensarmos se queremos continuar nesta corrida desenfreada de consumismo que o capitalismo selvagem do século XXI nos impunha. Chegou a altura de indagar se em vez de terraformarmos Marte não seria mais oportuno humanizar a Terra?
Agora que vai renascer o desemprego e a economia vai parar em grade parte do mundo, será que os governos se vão reinventar e em vez de ajudarem a capitalizar bancos falidos e corruptos, será que vão ajudar as pessoas e estimular a economia através do indivíduo, ou meramente vão adiar os compromissos bancários acrescidos de juros. É altura de repensar a sociedade e a economia, retirando-a de padrões sistémicos que só criaram desequilíbrios: reinvente-se a sociedade e a economia.
Esta crise pandémica só veio provar que o mundo tem andado com as suas prioridades erradas, cortando na saúde e gastando no demais, e a produtividade um país só cresce com uma população saudável, ou seja, ao contrário de Portugal uma população que possa gastar dinheiro em medicamentos, em aquecimento no lar, em alimentação com proteínas e por aí adiante.
Para que a população tenha saúde é necessário termos gente educada e ensinada, o que também deixou de acontecer… com a vontade e arreigamento ao poder, tem-se buscado populações ignorantes e seguidistas para mais facilmente as manipularem, mas esta atitude só conduz à tomada de poder por forças políticas racistas, xenófobas, ignorantes, advogando a supremacia branca e não à manutenção do poder das forças políticas tradicionais. Assim foi sempre com os nazismos ao longo da história.
Há tudo por fazer, vamos aproveitar este período de quarentena forçada para pensar num futuro melhor.
Cito Jack Kérouac
“Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de casos. Os pinos redondos em buracos quadrados. Os que fogem ao padrão. Aqueles que veem as coisas de um modo diferente. Não se adaptam às regras, nem respeitam o status quo. Pode citá-los, discordar, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E enquanto alguns os veem como loucos, nós vemo-los como geniais. Porque as pessoas suficientemente loucas para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam.
Como simples artesão da palavra, poeta e sonhador de utopias manterei a minha saudável loucura
Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício 297713 [Australian Journalists' Association MEAA]
Diário dos Açores (desde 2018) Diário de Trás-os-Montes (desde 2005) e Tribuna das Ilhas (desde 2019)