Luis Ferreira

Luis Ferreira

E o degelo aqui ao lado

A insensatez humana vai muito além do previsível e provoca muito mais mal a si própria do que qualquer dos mortais pode imaginar. Não é só a insensatez de uma pessoa, mas a de todos os que se associam a ela. Os danos são incomensuráveis.

Há já muitos anos que se fazem previsões sobre a capacidade do planeta aguentar tantas agressões. Desde o abate clandestino ou não de milhares de árvores da Amazónia, o maior pulmão do planeta onde todos nós vivemos, até aos acordos que se têm feito para reduzir a quantidade de químicos libertados para a atmosfera saídos das enormes bocas industriais situadas desde a China aos EUA passando pela Europa, tudo tem tido como objetivo salvaguardar a sobrevivência de todos e do enorme palco onde todos giramos. Mas os resultados não têm sido muitos.

Na realidade o gelo dos polos continua a derreter e o nível do mar a subir, conquistando aos poucos, palmos de terra que não voltarão às nossas mãos. Simplesmente perdemo-la. O aquecimento global é, também ele, motivo de preocupação já que as influências climáticas que daí advêm são brutais. Os invernos já não são o que eram. A neve já não cai com tanta frequência e quando cai logo se derrete permitindo uma vida normal. Nada do que era há alguns anos atrás que quando caía permanecia alguns dias sem derreter e causava problemas variados. O tempo mudou e nós já nos apercebemos disso. Os meses, tal como eram conhecidos pelos nossos avós em que cada um tinha uma nomeada adequada, já não há paralelismo. O abril das água mil, já quase não existe e o janeiro geadeiro passou a uma promessa de luar matreiro. As constatações são óbvias e mais que muitas. Infelizmente.

Ora quando todos os esforços se uniam para alargar as medidas a implementar para reduzir as agressões ao planeta e quando se debatia alguma possibilidade de alteração ao acordo de Paris, eis que Trump resolve sair do acordo, pondo de lado os EUA, no combate por um planeta mais saudável e menos poluído. A maior insensatez que podia ser cometida por um estadista mundial.

Uma nação como os EUA deveria ser a última a fazer tal asneira, já que contribui enormemente para a poluição mundial, mas quando tem um presidente louco que põe o dinheiro à frente do interesse da humanidade, já nada mais se pode esperar. E, claro, que as desculpas ou justificações para tal ato adiantadas por ele, não cabem aqui e só vêm provar que ele é de facto louco ou lunático compulsivo, sim, porque que ele só pensa em dinheiro, já nós sabíamos.

Trump conseguiu enervar a ONU e enraivecer todos os países do mundo e, penso que a tentativa de querer renegociar o acordo de Paris, não lhe vai servir de nada, pois ele não será negociado, especialmente nos termos que ele quer ou seja, reduzir as despesas de comparticipação dos EUA. A salvação do planeta não pode estar sujeita a questões monetárias. Estou convencido que se houvesse eleições nos Estados Unidos neste momento, Trump perderia por larga margem.

De igual forma, perderia Theresa May na Inglaterra quanto ao Brexit. Ela não gostou nada do procedimento de Trump na cimeira do G7 e do que os jornais americanos noticiaram sobre o atentado de Manchester. E as desculpas de Trump foram de uma arrogância atroz e, por isso mesmo, imperdoável. E ela não vai perdoar. Muito mais difícil depois da decisão de sair do acordo climático de Paris. Talvez esta decisão a salve nas próximas eleições, em que as sondagens não lhe são favoráveis. Quanto vai custar este Brexit à Inglaterra? Possivelmente mais do que Trump pensa poupar com a saída dos EUA do Acordo de Paris.

Mas se Trump ganhou vários inimigos e se Theresa May perdeu milhares de votos, o certo é que o nosso planeta está a ganhar um aquecimento global enorme, caminhando para a insustentabilidade da vida humana dentro de algumas centenas de anos. E depois quem vai ser culpado? Trump? Ou a insensatez humana? É que o degelo que a Terra está a sofrer é um duro golpe para se manter neste espaço sideral onde paira há biliões de anos e permitiu que a tal vida humana aqui se reproduzisse. E agora vamos matar-nos a nós próprios?


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