Luis Ferreira

Luis Ferreira

E o inferno aqui a lado

Parece que o destino nos lidera até ao fim dos nossos dias. Há quem não acredite neste fatalismo provinciano e opte por dar à vontade alheia e à sorte essa liderança da vida de cada um. Será assim ou não, mas a verdade é que tudo o que acontece tem uma causa e às vezes também tem explicação. Sim, porque muitas vezes não conseguimos explicar o porquê das coisas acontecerem.

Vivemos num mundo a desfazer-se, a decompor-se, a desmoronar-se e todos sabemos disso, mas não conseguimos impedir que isso aconteça, ou porque os que podem não querem e os que querem não podem. Um dilema atroz que nos empurra cada vez mais para o abismo. Se dermos mais um passo em frente, caímos.

O pior de tudo é que as vontades de uns não se identificam com as vontades dos outros, ainda que esses outros estejam mais certos ou pelo menos aparentem ter mais razão ao defender determinadas atitudes. Procuremos a razoabilidade das coisas e tomemos atitudes mais consentâneas com a realidade que vivemos e talvez este mundo em pedaços volte a unir-se e possamos voltar a poder olharmo-nos de frente e sem receios. Seria bom.

Efetivamente, tudo seria diferente se tal acontecesse. Há já dois anos que rodopiamos em volta do receio de um vírus que por sua vez se vai transformando fugindo ao combate que a ciência lhe vai fazendo e quando se pensava que tudo estava a correr bem, eis que ele se volta a transformar pondo a comunidade científica e mundial novamente em sobressalto. Num ápice, o abismo volta a estar cada vez mais próximo. Ainda o anterior Delta se tentava debelar, mesmo contra a vontade dos negacionistas que não sabem avaliar exatamente o valor da vida e do próximo, e já temos nova preocupação. Países como a Áustria, a França, a Eslováquia e até a Alemanha, estão a braços a lutar para conter o avanço extraordinário do Covid19 – Delta, levando a Europa a ter de tomar precauções redobradas e a confinar novamente algumas cidades. Esta situação começava a estar longe das lucubrações dos mais ousados, mas é uma realidade, talvez porque a capacidade de vacinação é pouca ou porque a juventude que pensa que as adversidades só acontecem aos outros, jamais os apanharão. Enganam-se. Vive-se um verdadeiro inferno na Europa central e de leste. São milhares a serem contagiados diariamente e os óbitos sobem cada vez mais ultrapassando os de há um ano atrás. O medo está a alastrar e a insegurança é cada vez maior.

Portugal que pensava igualmente que se estava a debelar o perigo e se ultrapassava a situação caótica que se tinha vivido no Natal passado, treme agora perante um ressurgimento inesperado, ou talvez não, do número de casos que estão a surgir. Tem valido termos mais de 87 por cento da população vacinada o que incute alguma segurança acrescida, mas não total. Novamente, vemos que está na camada mais jovem o alastrar da pandemia. Isto deve-se obviamente, a uma certa irreverência e falta de responsabilidade que tem caracterizado a juventude. O abuso das liberdades e a vontade de recuperar o tempo perdido, leva-os a um comportamento irresponsável e demasiado perigoso. Por enquanto, ainda podem ir às discotecas, mas até quando? Cabe-lhes determinar a data do seu próprio impedimento.

O aproximar da época natalícia e da confraternização familiar, é um momento igualmente perigoso e por isso terá de estar sujeito a uma certa contenção nos festejos. Família é família, mas se a queremos ter sempre perto de nós, temos de a saber preservar. Já todos pensávamos num Natal igual a muitos outros de há uns anos atrás, mas a cortina que se está a levantar, corre célere e temos de esperar pelo inesperado. Oxalá não aconteça.

O melhor é não descurar as possibilidades perante a nova estirpe que chega à Europa vinda da África do Sul e cujas referências ainda estão por decifrar. Meio incógnita, parece trazer sinal de morte e de rápido contágio. Novamente o Inferno aqui ao lado. Fronteiras fechadas, testes obrigatórios, aceleração da vacinação, teletrabalho obrigatório, aulas adiadas, escolas fechadas, hospitais a rebentar pelas costuras e falta de pessoal médico. Pior Inferno não há.

Esta nova variante ainda não chegou ao nosso país, mas não demorará muito. Se acontecer, todos corremos o risco de viver mais um Natal e um Fim de Ano, que não queremos, e não desejamos, porque ninguém quer viver num Inferno deste tamanho, se é que o Inferno tem tamanho.

Deus nos livre de tal coisa.


Partilhar:

+ Crónicas

Condenado e Presidente

Ondas Negras

A aventura de Ventura

Sem trunfos na manga

Indecisões

Sem tempo e sem palavras

Por trás da corrupção

Trapalhas em S. Bento

50 amos de memórias

E se acorda rebentar?