Luis Ferreira

Luis Ferreira

E se nós tivéssemos petróleo?

Não podemos julgar que, mesmo tendo recursos inesgotáveis se poderá ser sempre rico ou manter uma linha de rumo que leva a uma afirmação política inquestionável.
Portugal não tem recursos que permitam que outros julguem que pode ser um país altamente sustentável ou mesmo até fiável em termos económicos. E porquê? É que não basta ter alguma coisa, é preciso saber gastar o que se tem e não embarcar em sonhos utópicos e fantasias clubísticas. Mas não só. É necessário que os políticos saibam o que querem, como fazer e acima de tudo, agir honestamente, até porque o que se gasta é de todos ou pelo menos, deveria servir para os que mais precisam. E aqui é urgente equacionar e decidir com determinação e saber. Se não vejamos um exemplo claro.
A Venezuela, grande produtora de petróleo, sofreu grandes alterações com Hugo Chavez e deu algumas esperanças aos mais desfavorecidos. Mal ou bem e apesar de muita utopia, ele conseguiu criar alguma riqueza nos bolsos dos mais pobres o que deu esperanças aos chavistas e votos a Chavez. A Venezuela era então denominada pelos governantes a “pátria do socialismo” do século XXI. Dois anos após a morte de Hugo Chávez, o seu sucessor, Nicolás Maduro, não conseguiu manter, nem endireitar o rumo a que se tinha proposto Chavez.. A "pátria do socialismo do século XXI" dirige-se agora a passos largos para o caos económico e social e se nada for feito, cairá certamente numa confrontação violenta entre os que apoiam Maduro e os que se querem ver livre dele. Nem o petróleo lhes vale. O que vai acontecer é que, atravessando uma inflação enorme de mais de 200%, Maduro tem de decidir se quer pagar a dívida da Venezuela ou se quer continuar a alimentar o povo cada vez mais faminto. A dívida ronda os 5 mil milhões a serem pagos nos próximos doze meses e pelas contas do FMI, a economia será capaz de contrair cerca de 7%. Será que Maduro vai ser capaz de admitir que falhou? É que ele tinha prometido continuar na senda do progresso e levar os venezuelanos a saírem da pobreza, mas afinal falhou e segundo sondagens das universidades de Caracas, os níveis de pobreza estão já a rondar os níveis de quando Chavez iniciou o seu mandato, ou seja 1998. Atualmente, cerca de 2 milhões de lares venezuelanos são dados como extremamente pobres e mesmo nos hospitais, hoje morre-se por falta de coisas básicas como por exemplo, aspirinas e medicamentos para tratar alguns cancros e alguns aparelhos estão parados por falta de dinheiro para a sua manutenção. Nos supermercados funcionam já com uma espécie de “senhas de racionamento” e até a McDonalds deixou de vender batatas fritas nos seus menus.
Pois é, este homem que sucedeu a Chavez e que dizia que falava com ele e este era intermediário com Deus e que até os passarinhos lhe traziam recados e que tem muito petróleo no país que governa, que está a entrar num poço sem fundo e de onde não vai poder sair nunca mais. O que lhe faz falta afinal? Sabedoria e proficiência. Mas quando se diz ao povo que se fala com Deus e que até diz que interferiu junto de Deus para que escolhesse um Papa sul-americano, o que é que se pode dizer mais? Pelos vistos não chega falar com Deus através dos passarinhos!
E se nós tivéssemos petróleo? Será que a nossa inflação também iria para os 200%? Será que a pobreza também iria aumentar? E se aumentasse, quem iria ficar com os réditos petrolíferos? É melhor não compararmos nada. Penso que não temos ninguém a querer ser intermediário com Deus, nem a querer falar com os passarinhos!!! Mas, por vontade de alguns, não demoraria a termos senhas de racionamento!
Felizmente, ou não, nós não temos petróleo e por isso estamos livres de sermos ricos e gananciosos e termos a pretensão de ser o país do socialismo do século XXI. Há outros a disputar tal liderança!
Mas tal como está a suceder na Venezuela, podemos voltar a cair na pobreza se alguém pensar como Maduro e não souber como gastar o dinheiro que é de todos, pensando que o petróleo paga tudo. É que nós não temos petróleo.


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