Henrique Ferreira
Entre a Catalunha e Portugal: a luta pela e a consagração da autonomia
O dia um de Outubro de 2017 ficará na história da Península Ibérica pela realização de um referendo na Catalunha e eleições autárquicas em Portugal.
Em Portugal, as eleições autárquicas são a celebração da autonomia municipal. Na Catalunha, este primeiro referendo pela autonomia face ao Estado Estanhol foi arrancado a ferros, reprimido a bastões e consumado nas urnas, mesmo que improvisadas, muitas.
O Estado Espanhol foi inábil a lidar com o movimento autonomista catalão e com o referendo. A aspiração à autonomia catalã tem quase 400 anos e só pode ser combatida com privilégios, a determinada altura insuportáveis pelo resto dos espanhóis, mas havia um que a Catalunha queria a todo o custo e a que o Estado Espanhol não anuiu: a arrecadação dos impostos pagos na Região pelo Governo da Região, à semelhança dos Açores e da Madeira. Só que, aqui, os impostos são pevides. Lá, os impostos pagos na Catalunha são 25% das receitas de Espanha e dão para garantir o Estado Social Espanhol.
Assim, a autonomia joga-se entre dois egoísmos: de um lado, a região mais rica de Espanha, onde os Catalães, com um PIB bem superior ao Português (230.000 milhões de euros), julgam que podem viver muito melhor se independentes; do outro lado, os espanhóis que acham que o dinheiro arrecadado na Catalunha é suficiente para garantir o Estado Social de todos os espanhóis. Pelo meio, há a questão da defesa da unidade nacional face a outras ambições autonomistas.
O que virá a seguir não vai ser nem bonito nem pacífico nem fácil mas é um fenómeno em que muitos factos já ocorrerem e outros se desencadearão brevemente e que deveremos seguir. Para já, dizem os responsáveis catalães que o «SIM» à independência ganhou por 90% mas nenhum governo internacional a não ser a Venezuela, a Líbia, a Coreia do Norte e eventualmente o Irão, a reconhecerão. A repressão pode começar bem como uma guerra na Península Ibérica. Ou talvez não. Estejamos atentos.
Por cá, as eleições consituíram a segunda volta das eleições legislativas de 2015, a castigar o PSD e, eventualmente, Pedro Passos Coelho. Poucos bastiões PSD resistiram a este desejo de castigo. Porém, como a «vingança» portuguesa é serena e suave, os «geringontes» vencedores têm de observar a lição dada ao adversário e cuidar de guardar bem as muralhas e os acessos. É que a economia portuguesa continua débil e qualquer ida do sapateiro para além do chinelo porde voltar de novo o feitiço contra o feiticeiro.
Não sabemos se, face à clara derrota do PCP e do BE, a geringonça vai resistir até 2019. Por outro lado, teremos certamente um crescendo de arrogância do PS vencedor que vai colocar o povo português em guarda. Os equilíbrios são difíceis, neste contexto.
É de realçar que só o Concelho Bragança resistiu a uma certa e heterogénea onda rosa em Trás-os-Montes: Chaves, Vila Real, Macedo de Cavaleiros e Mirandela caíram para o PS.
É a alternância democrática a funcionar e a evidência da grandeza da democracia. Daqui a quatro anos, tudo pode ser diferente.