Luis Ferreira
Época de contrastes
Passamos todos os dias a encher a boca com a palavra guerra e a clamar pela paz. A verdade é que só na época natalícia é que verdadeiramente desejamos a paz a toda a gente. Paz, saúde e amor.
A guerra, tão presente nos dias de hoje, contrasta com a paz que desejamos, mas são os mesmos que a fazem ou promovem. Talvez seja por isso que os grandes atores do palco da guerra, se preocupem agora tanto com as tréguas, com o cessar fogo, com a necessidade de negociar a paz. Negociar a paz! Coisa ridícula. Se a paz é uma bênção não devia ser negociada. Ela está nas mãos dos homens e deveria ser oferecida como o melhor e mais bem preservado presente de Natal e de todos os dias.
Pois, mas só agora é que todos se preocupam com o valor da paz. Guerra e paz é o maior contraste que pode existir e esse contraste está precisamente nas mãos dos homens, pois só eles conseguem acabar com o contraste.
Putin, depois de se avaliar durante quatro horas para pessoas convidadas e escolhidas para que a comunicação social visse e filmasse, respondeu a perguntas combinadas e deu as respostas que todos esperavam ouvir. Vangloriou-se dos seus feitos bélicos, desafiou o Ocidente e os EUA para um duelo de mísseis, como se a guerra fosse um jogo de crianças. Ele é. Como disse o líder ucraniano, um louco. E é. A ninguém mais lembraria uma tal situação. Autenticamente um desafio de Play Station. Mas a guerra não é um jogo de crianças, mas é onde elas pagam um preço terrível pelos devaneios de loucos a quem só a guerra dá lucros e interessa para encher o ego de cada um deles.
Mas o que vemos no mundo neste momento é um tempo de grandes contrastes. Não é só guerra e paz, tão desafiante como o escreveu Tolstoi. É muito mais do que isso. A vida e a morte são um exemplo que é consequência da guerra e não só. Morremos de doenças terríveis, de acidentes, de descuidos, de aventuras e de tantas outras coisas. O contraste é que a ciência também dá o seu contributo para minorar esse contraste. Os medicamentos que são descobertas e que dão esperança de vida a tantas pessoas, é a parte boa e alegre que contrasta com a tristeza da doença. Novos medicamentos foram recentemente descobertos que dão mais esperança de vida a quem vive no fio da navalha o seu dia a dia. Mas estes medicamentos, apesar de ótimos, não acabam com a doença da guerra. Que o digam os milhares de crianças sem culpa nenhuma, que morreram em Gaza, na Ucrânia, no Líbano e na Síria. Os exemplos são muitos mais e todos eles horripilantes. Para quê? Nada serve de desculpa para justificar esta carnificina que parece dar gozo a quem controla estas guerras devastadoras.
O Natal deveria ser o exemplo diário deste contraste incomensurável. Continuamos a encher a boca com palavras vãs e tão opostas que nos parece uma aberração. Se o Natal é quando o homem quiser, por que razão não o é todos os dias? Porque o homem não quer evidentemente. Porque não interessa ao negócio da guerra e à ambição pessoal dos seus promotores.
Falar de guerra e de paz neste contexto, é por si só, um desafio enorme a par do contraste que sabemos. O negócio que comanda toda esta situação, é muito mais chamativo do que o que possa acontecer aos que sofrem as consequências. Isso nada interessa. Não se comovem com isso. E este é outro contraste incompreensível. Sem coração, sem sentimentos, sem preocupações humanitárias, estes atores da guerra são quase robots comandados pelo dinheiro e pelo que podem lucrar com a morte dos outros. Agem como se fossem máquinas, mas não intervêm na guerra diretamente, não são soldados, não combatem, não atacam, porque podem morrer e isso é um risco que não querem correr.
Os EUA estão a viver os últimos dias da democracia Biden e apesar de querem promover a paz, divertem-se a enviar armas de guerra para a Ucrânia. Ridículo! Mas é preciso esgotar o material de guerra para poder fazer mais, porque isso dá lucro e mantém a indústria a funcionar. Claro. Clama-se pela paz e promove-se a guerra. Não precisamos de maior contraste nesta altura do ano.
Em janeiro chega Trump. Outro contraste. Quer tudo e não quer nada. Faz tudo e nada faz. Vai acabar com a guerra da Ucrânia, mas quer dar tudo a Israel para acabar com os Palestinianos. Que mais queremos nós? Parece que ainda não aprendeu que no Natal não basta pedir paz é preciso contribuir para ela. E só assim se acaba com as guerras deste mundo nojento. Só contrastes!
Bom Natal, paz, saúde e amor para todos. Já que nada podemos fazer, pelo menos desejamos.