Barroso da Fonte

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Ernesto Rodrigues e «O Bom Governo» que gizou em livro

Com data de 14 do corrente, chegou-me mais um livro de Ernesto Rodrigues cuja leitura faz «rir e pensar» acerca do Bom Governo. Na contracapa confirma que este título, publicado em Julho pela Guerra & Paz, «é a derradeira distopia que colocará em causa todos os valores que constituem uma sociedade». E neste mesmo ramalhete de 14 partes, graceja com aquilo que se adivinha no rosto de cada leitor.

Acontece, por exemplo, que num ministério de «14 ministros, o governo de cem ministros trabalha de noite e levanta-se às vinte horas, para ouvir o primeiro-ministro no telejornal, que os cidadãos não vêem. Neste governo, cada gabinete tem cem funcionários, que não podem ser mais altos do que o seu ministro. O leitor ficciona o que já se pressupõe na contracapa e volta à página 7, onde fica a saber que «este é o bom governo: primeiro-ministro; segundo-ministro, titular dos Negócios Estranhos; terceiro-ministro, dos Impostos; quarto-ministro, da Propaganda».

Este primeiro ramalhete abre o apetite ao leitor e conclui que «o povo não se cansa de votar, nem conhece regimes melhores. O descanso e a ignorância são razões suficientes para afirmar ser este o governo certo para fazer avançar a História». «O Bom Governo» foi

Em 1998, já aposentado, organizei o I volume de 654 páginas, do Dicionário dos mais ilustres Transmontanos e Alto Durienses. Na página 538 registei a biografia de Ernesto José Rodrigues, que tinha nascido em 1956, em Torre de D. Chama, e que era professor auxiliar na Faculdade de Letras de Lisboa. Tinha-se licenciado em 1980, em Filologia Românica ,e feito o Mestrado em 1991, em Literatura Portuguesa, com uma tese sobre Fastigínia, obra de Tomé Pinheiro da Veiga (Coimbra, 1566 - Lisboa, 1656). Doutorou-se, depois, em cultura Portuguesa, numa área em que se ocupou, aprofundando a Literatura e Jornalismo, em Portugal. Foi leitor de Português na Universidade de Budapeste. Já em 1998 tinha uma vasta e diversificada obra que faz dele uma figura de proa nacional. Cedo registei o apelido dos seus dois tios padres «Videira Pires», que deixaram fama cultural e religiosa nos territórios Portugueses do Oriente, mormente Macau.

Nunca mais esqueci os Padres Benjamim e Francisco Videira Pires que registei nos três volumes do já referenciado Dicionário. Já radicado em Chaves e tendo Eduardo Carvalho por meu colega, no liceu dessa cidade, foram próximas as nossas relações, entre as duas cidades: Chaves e Bragança. Pude conhecer alguns desse punhado de Brigantinos que, nessa altura, já exerciam o jornalismo e se preparavam para os destinos comunitários que se foram constituindo, para bem deles e de nós todos.

Ernesto Rodrigues foi um brilhante filólogo e pedagogo nato, ao licenciar-se em Filologia Românica. Doutorou-se em Letras em 1996, aos 40 anos. Na sua tese de doutoramento elaborou o «Mágico Folhetim: Literatura e Jornalismo em Portugal». Permitiu-lhe investigar e desenvolver, como professor de Cultura e Literatura Portuguesa, expansivo no espaço lusófono, deixando esse rasto em Budapeste, onde traduziu obras literárias húngaras, tendo sido condecorado duas vezes pelo Estado da Hungria. Em entrevista assinada por Marcolino Cepeda, Rui Mouta e Mara Cepeda, ao JN, em 3/05/2005, afirmou que «não era nada fácil ser estudante, na altura do 25 de Abril. Eu vivia uma faceta da oposição política antes do 25 de Abril, sonhando com o futuro de um país livre».

Questionado sobre se valia a pena apostar na imprensa local, Ernesto Rodrigues garantiu que sim e que os Amigos de Bragança tinham sido uma experiência que «começou em 1984, tanto mais que o Dr. Eduardo Carvalho precisava de alguém a seu lado».

Gostei de saber das preocupações desta mocidade Bragançana, que muito se bateu pela imprensa regional, na geração que se seguiu àquela, a que eu próprio pertenci, a partir dos jornais da Voz de Trás-os-Montes, da Ordem Nova, do Noticias e Voz de Chaves; e de muitos outros que, em 2025, irei coordenar em livro, comemorativo dos meus 72 anos de jornalista.

Ernesto Rodrigues é hoje o luzeiro-mor da cultura Portuguesa. O herdeiro natural de Adriano Moreira que será difícil de igualar e que enche os transmontanos de orgulho, a começar pela Academia de Letras Trás-os-Montes, de que foi co-fundador, Presidente da Assembleia Geral, Presidente da Direção e conselheiro permanente desta Instituição cultural, até para ultrapassar a crise que se seguiu com a morte de outro grande co-fundador: o saudoso Amadeu Ferreira. Foi ele que esteve na origem da constituição da terceira Direção da Academia de Letras, presidida por António Chaves, falecido na mesma semana em que esse livro me chegou.

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