Batista Jerónimo

Batista Jerónimo

Esquecidos no anonimato.

Há um sentimento de ingratidão entre aqueles que nunca negaram apoio nem votos. Viram-nos crescer, tornarem-se homens, políticos reconhecidos e profissionais audazes—chegaram ao topo com (também) os votos do povo. Esse mesmo povo que agora aguarda, a reciprocidade, pelo rapaz que um dia partiu e que hoje é homem feito.

Cresceram entre ruas estreitas e montes silenciosos, onde cada rosto era-lhes familiar e cada aperto de mão carregava histórias de luta. Saíram dali jovens, carregando os sonhos de uma terra que os via como esperança de dias melhores. Com os votos desse lugar, ergueram-se na política, conquistaram prestígio, tornaram-se nomes conhecidos e respeitados. E os seus eleitores? Ficam com as promessas: amizade eterna, empregos para os filhos da terra, melhores vias de comunicação, desenvolvimento económico e social. No fundo, uma vida mais digna para aqueles que sempre acreditaram.

É verdade que alguns ainda honraram os seus compromissos e fizeram algo pelo seu círculo eleitoral. Bem hajam. Contudo, na maioria dos casos, ao chegarem ao topo, esqueceram-se da base que os ergueu e sustentou. Esqueceram-se das vozes que os impulsionaram, dos abraços de coragem e motivação, dos lugares que os moldaram. Agora, quando as suas trajetórias poderiam ser o motor de mudança para aqueles que ficaram – teimosamente sonhando, para os que nunca tiveram outra escolha, para os que os apoiaram, optam pelo conforto da reforma. A experiência e saber que poderia transformar o seu concelho, a sua terra, em criar oportunidades, retribuir o que receberam, tornam-se um legado guardado apenas para si. Além de ingratidão, ou talvez seja egoísmo? O saber adquirido só é valioso se partilhado, se acrescentar conhecimento ao outro.

E os que ficaram? Continuam à espera, sentindo que os seus votos, a sua confiança, serviram apenas para levar mais uns ao topo—mas não para trazer a mudança desejada, aquela que sempre lhes prometeram.

Em Bragança, há exemplos de quem cresceu na política, atingiu o topo no mundo dos negócios e, ao regressar à terra que lhes proporcionou a reforma dourada, remetem-se ao anonimato, às pantufas. Não se escondam. Aceitem desafios. Retribuam. Continuem, ou pela primeira vez, ponham o vosso conhecimento, experiência e influência ao serviço da vossa terra. Esta terra, Bragança, que nunca, como agora, está em tão estado vegetativo, necessitando de ser salva, de sair do marasmo, de obras estruturantes, de liderança, de afirmação e de centralidade no contexto regional, nacional e internacional. É necessário puxar pelas nossas potencialidades.

Coragem, aceitem o desafio, lembrando Albert Einstein: “No meio da dificuldade encontra-se a oportunidade”

Baptista Jerónimo, 11/02/25



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