Teresa A. Ferreira
Está aberto o concurso para admissão de jokeys
“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...”
Fernando Pessoa
Recentemente, a autarquia de Mirandela colocou, na vila de Torre de Dona Chama, um cartaz junto ao espaço da feira e que tem estado a gerar muita indignação e falatório, a pontos de me terem feito chegar fotografias. O dito cartaz tem elencado um conjunto alargado de promessas que a atual Presidente da Câmara fez em 2021, e ainda não cumpriu.
Não se percebe a razão da colocação do cartaz, se eram promessas de 2021?
Há projetos aprovados ou em curso para a realização de cada um dos pontos?
Essas promessas foram renovadas para o terceiro mandato e, assim sendo, a campanha eleitoral terá começado?
Será isto mais uma cilada para enganar de novo a população?
As promessas são antigas, meus caros amigos. Daqui não se tira nada de novo.
Ficaria muito contente se visse cumpridas algumas das promessas, sendo que o gás natural já lá está instalado desde o mandato do Eng. Branco.
Vamos então às velhas promessas:
• O campo da feira e o mercado de levante bem merecem ser construídos uma vez que nada existe, e gostaria muito de ver o projeto e a sua concretização;
• Existe um lavadouro público que precisa de ser conservado, assim como um poço;
• O polidesportivo é bem-vindo para quem quiser praticar desporto;
• É necessário o plantio de árvores autóctones para a criação de sombras. Todos sabemos que este tipo de árvores é resistente aos fogos, ao invés dos pinheiros que são combustão pura pela casca e a resina;
• É importante recuperar o antigo fontanário;
• Fazer ruas e espaços de circulação são igualmente necessários para todos os utilizadores;
• Colocação de um ecocentro e garantir a recolha dos resíduos deixados pela feira;
• Balneário de apoio ao polidesportivo, aos feirantes e ao parque de autocaravanas - seria muito bom que esta medida fosse construída ao invés de ficar para as calendas;
• Criação de áreas verdes - fazem sempre falta porque refrescam e embelezam o ambiente;
• No entanto, na panóplia de promessas, há uma que se destaca por ser de bradar aos céus – Pista de corridas de cavalos.
Será que já está aberto o concurso para a admissão de jokeys e vão ser feitas instalações para os apostadores?
Para que precisa a vila de Torre de Dona Chama de uma pista de corridas de cavalos?
Desconheço a existência de qualquer tradição equestre nesta vila. Se estivermos a falar de burros - para que se cumpra a tradição de Natal - isso é outra loiça, mas nada têm que ver com as corridas de cavalos. Querem lá ver que os cavalos vão chegar à Torre por artes mágicas? Vêm de helicóptero, será?
Para os cavalos virem de fora há que criar estradas e, como bem sabemos, a estrada que faz a ligação de Mirandela a Torre de Dona Chama só tem curvas e mais curvas, uma verdadeira loucura para quem se aventura a fazê-la. Então, construir a dita pista sem cavalos serve para quê?
Megalomania quando há outras apostas urgentes a fazer.
Bem sabeis que sou acérrima defensora do Património Cultural desta freguesia, entre outros aspetos. Por isso pergunto:
1. O que é feito do Centro de Interpretação do Castro de São Brás? Alguém sabe dele? Promessa de 2017. Para quando a sua construção? Onde estão os resultados das sondagens que os arqueólogos de Coimbra fizeram no Castro de São Brás?
2. Onde está a tão prometida praia fluvial na Ponte de Pedra, sobre o rio Tuela?
3. Foi prometida uma estrada – sem as curvas da atual – entre a Torre e Mirandela e não há meios de vê-la.
4. A freguesia perde população a todo o instante por não haver condições de fixação e atração de pessoas. Onde está a renovação do tecido empresarial e captação de novas empresas para fomentar o emprego?
5. E, já agora, a distribuição de água de boa qualidade? Já a apanhei, várias vezes, barrenta.
6. Que é feito da preservação do Centro Histórico da vila? As fotografias que tenho são de algumas casas em perigo eminente de derrocada e outras ruidas.
7. Quando os turistas se abeiram do pelourinho e do berrão, não existe qualquer placa com a memória descritiva do que estão a observar. Por detrás do pelourinho, está o degredo com casas em ruínas, coisa digna de se ver nas fotografias. Ora aqui está o degradante postal da Torre.
Torre de Dona Chama precisa de concretizações, não de promessas que ficam guardadas em placares publicitários.
Vejam o cartaz e tirem as devidas elações.
E mais não digo, e por aqui me fico.
© Teresa do Amparo Ferreira, 21-08-2024
𝙉𝙖𝙩𝙪𝙧𝙖𝙡 𝙙𝙚 𝙏𝙤𝙧𝙧𝙚 𝙙𝙚 𝘿𝙤𝙣𝙖 𝘾𝙝𝙖𝙢𝙖,
Mirandela, Bragança, Portugal.
Fotos: autor anónimo