Fernando Campos Gouveia

Fernando Campos Gouveia

Eu sou grego!

Para quem se tem batido pela democracia, as eleições hoje realizadas na Grécia fazem renascer a esperança de que possa caber aos cidadãos determinar os destinos das suas sociedades. Contra todas as pressões , ameaças, agitação de medos, promessas falaciosas de última hora ; contra os demagogos nacionais, europeus e internacionais que defendem a via única do neoliberalismo ; contra os interesses financeiros instalados que levam os seus representantes nos governos a proclamar que não há alternativa ; contra os apelos ao sacrifício das populações e à resignação ; contra a chantagem de exclusão da Grécia da União Europeia ou da zona euro ; contra governos corruptos e a espoliação generalizada dos povos, o povo grego disse : Não! Basta!

E este grito generalizado do povo grego que se reúne hoje nas praças, este grito de esperança que ecoa como uma bofetada nos ouvidos dos que se julgam donos da Europa e do mundo, esta revolta transformada em esperança, esta capacidade de transformar o sofrimento em reação positiva, este quebrar dos grilhões do medo incutido ao longo de décadas de mentiras e conluios das elites , este grito é o grito de todos os que se não dobram à chantagem, é o grito de todos os que resistem, é o grito dos que pretendem outra via.

Cessem os pregões das virtudes do mercado; calem-se os serventuários do imperialismo e do governo elitista do mundo ; às urtigas os clubes de Bilderberg, o Fórum Económico Mundial e outras seitas do capitalismo selvagem que elaboram as estratégias do empobrecimento e de escravização consequente dos povos. Envergonhem-se os politicozecos sem dignidade às ordens do dono.

Este momento pode ser efémero. Não sabemos que manobras, que sabotagens, que chantagens, que ameaças impendem neste momento sobre os representantes eleitos que terão a difícil tarefa de consolidar a esperança e devolver ao povo grego a sua dignidade e os seus direitos. As vozes ameaçadoras que se manifestaram durante as últimas semanas, numa ingerência obscena na política interna da Grécia, deveriam agora refletir sobre o sentido dessa ingerência e sobre a grandeza dum povo que soube resistir-lhe.

Neste momento histórico, não posso deixar de me congratular com os gregos que venceram o medo e afirmaram nas urnas o seu direito a escolher. Sejam quais forem as dificuldades, o voto dos gregos demonstrou que é possível romper o cerco, libertar a voz, denunciar a corrupção, desmascarar a via única do liberalismo. A lição dos gregos alastrará certamente por essa Europa fora, porque a lição da Grécia é a lição da humanidade contra a ganância, é a lição da liberdade contra a servidão, é a lição da cultura contra a manipulação.

Por estas razões, eu hoje SOU GREGO !


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