Batista Jerónimo

Batista Jerónimo

Faltam médicos?

É a pergunta em cima da mesa. Efectivamente jamais em tempo algum se fala tanto da falta de médico de família, eu também sou um dos que não têm vai fazer dois anos.

Se tivermos em atenção, segundo o Jornal de Negócios 06/04/22, o número de médicos, inscritos na respectiva ordem é de 57 198, 5,6 médicos por 1 000 habitantes e o número tem vindo a subir desde 1999 em que só havia 3,1. Constata-se o inverso no número de profissionais nos Hospitais, em que em 1999 era de 61,2% (65 436) e em 2020 eram de 45,9% (24 858), tendo-se mantido a população na ordem dos 10 milhões.

O Ministério da Saúde (MS) não pode, e não o faz, argumentar a falta de médicos pelas reformas, aumento da população e/ou aumento de unidades de cuidados de saúde, porque é previsível e é uma obrigação da Gestão de Recursos Humanos desenvolver estratégias para estas situações ordinárias.

 Muito diferente e imprevisível é as baixas médicas e a falta de organização ou até de gestão. Ficamos com a ideia de que as administrações das unidades de saúde têm de ser mais profissionais. Poderão os médicos serem libertados das administrações e direcções? (evitava-se o proteccionismo corporativo ao menos bom desempenho que deriva da alternância partidária nas administrações. Estamos perante política de não-agressão?). Também podem ser libertados, na medida do possível, de serviços administrativos como relatórios e formação?

Os médicos não têm o reconhecimento que lhes é devido, desde logo o remuneratório, profissional e pessoal, como humanos e humanistas seria compreensível alguma desmotivação se a sua profissão não fosse a manifestação máxima de altruísmo.

 Atente-se às diferenças remuneratórias abismais, quando uma ULS, para trabalho eventual, recorre a profissionais do quadro ou recorre a serviço de outsourcing, o que se põe em causa?

Introduzir a “dedicação plena” (medo da palavra exclusividade?) e depois da formação “X” anos obrigatórios de serviço no SNS, seria justo e recomendado?

Fala-se que são necessárias políticas de descriminação positiva para atrair estes profissionais para o interior. Ninguém tem dúvidas. O que estas medidas não podem fazer é distinguir e criar diferenças de condições de trabalho e materiais que diferenciem os que se instalaram de livre e espontânea vontade.

A Ordem dos médicos com as intransigências no limite ao acesso da carreira de médicos não está a ajudar e não faz sentido que tenha poder vinculativo em políticas de saúde pública. O acesso à carreira médica, tal como o acesso a todo o ensino superior, deve ser repensado, a seriação da avaliação já vai na centésima, onde vamos parar? É justo esta pressão aos critérios de avaliação aos docentes? Será aconselhável, a todas as profissões, os alunos e em especial os de medicina uma avaliação psicológica de aferição à evidência clara e inequívoca do interesse do candidato à profissão?

Acresce à falta de médicos no SNS o recrutamento preferencial dos seus profissionais, pelo sector privado, a meio tempo, é dois em um: ganham um profissional sem vínculo à empresa e os seus pacientes. Venha a dedicação plena (exclusividade).

O SNS SEMPRE e pela introdução de melhorias - sempre.

Não a reformas ideológicas.

Saúde no privado sim, como complemento e NUNCA como alternativa.

Bragança, 11/05/22


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