Barroso da Fonte
Família de Luís de Camões veio da Galiza
Quem fez essa afirmação foi Joaquim Veríssimo Serrão (1925-2020) em 3 de Maio de 1997, no prefácio da Revista Aquae Flaviae nº 17. Essa edição teve 224 páginas, todas elas dedicadas à Família do mais ilustre Poeta de todos os tempos, em Língua Portuguesa. Dada a distância espacial de quatrocentos anos e aos muitos e qualificados estudiosos que neste longo período aprofundaram a vida e a obra de Luíz Vaz de Camões, este prefácio e todos estes testemunhos da Aquae Flaviae, perfilhados pelo catedrático Veríssimo Serrão, devem considerar-se pela comunidade científica, como dúvida extinta.
Neste estudo abonatório escalpelizam-se todas as teorias sobre Lisboa, Coimbra, Alenquer, Santarém e Vilar de Nantes (Chaves). Essa evidência forçou Veríssimo Serrão a concluir que «não oferece hoje dúvida que a família de Camões era oriunda da Galiza e que o primeiro ramo se instalou em Portugal no tempo das guerras de D. Fernando com Castela. Em recompensa dos serviços prestados, o monarca concedeu a Vasco Peres de Camões, nobre galego, as alcaidarias-móres de Portalegre e Alenquer».
Foi na sequência dessas alcaidarias que surgiram, em grande número, os Camões portugueses que se registaram nelas nos séculos XV e XVI. Entre os muitos que vieram nesse tempo das guerras de D. Fernando com Castela, vieram vários especialistas, como médicos, magistrados, homens de armas e religiosos. Já em Portugal, a família Camões fixou-se, perto uns dos outros. Um ramo ter-se-á radicado em Vilar de Nantes, subúrbios de Chaves. E terá sido deste tronco que saiu o «nosso» Luíz de Camões, cujos avós paterno se chamaram: «D. Mécia Vaz de Camões que casou com Álvaro Anes de Freitas que foi escrivão em Montalegre; Miguel Vaz que foi juiz dos órfãos em Chaves; Manuel Gomes que era da Governança da mesma vila; e Simão Vaz de Camões que casou com D. Ana de Sá, de Família nobre de Santarém, e foram os progenitores do Poeta».
Estas informações vieram retomar as andanças da Família de Luís de Camões por Lisboa, Coimbra, Alenquer, Santarém e Chaves. Graças a José Guilherme Calvão Borges, especialista em Aeronáutica e em Heráldica, nascido em Vilela Seca, Chaves (10/3/1931 – f. Lisboa 26/4/2001), a comunidade científica, segundo Veríssimo Serrão, aceitou como prudente que Luíz de Camões pertenceu ao grupo de Galegos que durante as guerras entre D. Fernando e Castela se deslocou para Portugal. Em 1974 este militar transmontano, talvez para democratizar as figuras notáveis da História de Portugal, aprofundou as origens do maior épico da Lusofonia. Nesse mesmo ano publicou Calvão Borges A Família Flaviense de Camões, onde reuniu um repositório de nomes e de datas acerca dos familiares do Poeta que se ligaram à vila de Chaves.
Foi neste contexto que aquele militar acabou com as dúvidas acerca das origens do maior Português de todos os tempos, depois do Fundador da Pátria. Outro Português ilustre que foi, 31 anos consecutivos, Presidente da Academia Portuguesa da História (1975-2006), com base nesta junção de fontes, declarou: Pela primeira vez se documenta que Antão Vaz de Camões e Guiomar Vaz, residentes em Vilar de Nantes, eram avós Paternos de Luíz Vaz de Camões; e dessa união nasceram, entre outros, os filhos acima mencionados: D. Mécia Vaz, Miguel Vaz, Manuel Gomes e Simão Vaz.
Calvão Borges foi mais longe. Não se limitou a provar e a comprovar que os seus avoengos desceram da Galiza e se fixaram no país irmão. Segundo este valoroso brigadeiro militar não foi esporádica, na região do Alto Tâmega, a presença dos familiares de Camões. Neste seu livro, quatro anos depois de A Família Flaviense de Camões, «terem os avós paternos de Luís de Camões residência, desde 1504, em Vilar de Nantes. Antão Vaz faleceu, entre 1526 e 1530, enquanto a mulher Guiomar, lhe tenha sobrevivido. No mesmo contexto se fala dos filhos do casal que eram pessoas muito letradas».
Estranha-se que havendo tantos e tão famosos historiadores profissionais desenvolvendo, muitos deles, temas já repetidos, quer sobre figuras históricas quer sobre assuntos desatualizados, não aflorem temática incompleta que o rodar do tempo já trouxe à tona, mas ninguém lhe liga. Este que se relaciona com Camões, sabendo-se que já existe matéria científica disponível e à espera de tratamento adequado, não mereceu mão doutoral para evitar mais impropérios, desinteresse sistemático e ignorância histórica intencional.
Barroso da Fonte