Luis Ferreira
Fases da Lua, a política e o futebol
Desde que o homem é homem que se habituou a olhar para o céu à procura de respostas às perguntas que ele próprio fazia e aos problemas que o universo constantemente lhe propunha. Como não obtivesse soluções plausíveis, procurava na Natureza algo que o satisfizesse minimamente como modo de solucionar as dúvidas que lhe surgiam.
Nessa procura incessante e no perscrutar do firmamento, a Lua surgiu como algo mais próximo e capaz de ser a solução para as explicações que ele necessitava. Estava ali mesmo à mão no meio da imensidão celestial e talvez por isso mesmo, deveria ser a resposta para algumas das muitas dúvidas que ele tinha. Mas a Lua não era sempre igual. Tinha fases e ele também não sabia explicar o porquê dessas modificações. Demorou muitos anos a encontrar alguma explicação razoável para as suas interrogações a esse propósito e ainda hoje o homem remete para a Lua a culpa de algumas coisas que sucedem na Terra.
Deste modo, é frequente ouvirem-se expressões como “está com a Lua”, “está como as fases da Lua” ou “funciona como as fases da Lua” ou ainda “está com fases”. Enfim, a Lua que resolva! A verdade é que ela aparece ou Cheia, ou Crescendo ou Minguando ou completamente Nova.
Se alguma coisa se pode comparar às interrogações e procura de respostas que o homem primitivo se colocava a si próprio, ela é a política, os políticos e o modo de fazer política, entenda-se o modo de proceder. É que este vem por fases. Nem sempre se age da mesma forma com respeito às mesmas coisas. Perde-se frequentemente a verticalidade.
De facto, quando se dizia que o ministro das Finanças era fraco e que não iria resolver os problemas do défice excessivo de Portugal, não se equacionava a possibilidade de entrar numa nova fase da economia, um pouco melhor, que levou a uma redução do montante da dívida ao FMI, aliviando deste modo, a pressão que se exercia sobre o país. Agora que estamos na porta de saída do défice excessivo, já se apressam a apelidar Centeno de “Ronaldo” da economia. Deve isto significar que o governo está em fase de Lua Cheia, mas não invalida a fase Minguante em que se encontra a dívida pública uma vez que ela está em Crescendo. No meio de todas estas fases, qual escolher? Qual a melhor?
Mas se Centeno é um suposto “Ronaldo” da economia, a realidade no futebol é quase idêntica já que o nosso Ronaldo, o melhor do Mundo, também tem as suas fases. E para sermos realistas podemos dizer que ele tem estado numa fase de Lua Cheia, mas como esta fase não dura muito tempo, segue-se a fase do Minguante. O auge que atingiu recentemente está a desmoronar-se devido à acusação de fraude fiscal posta pelo ministério público espanhol. Mas se isto se pode resolver investigando mais aprofundadamente, o mesmo já não se pode dizer do facto de a imprensa espanhola querer dividir o Ronaldo em dois. Dois? Como? Porquê? Pois é. Para os espanhóis a questão agora é não serem melindrados nem eles nem o Real Madrid por coisas de um jogador Português e que está na Seleção Portuguesa, em vez de um jogador do Real Madrid e que ganhou o Campeonato e a Champions. Afinal onde está o Ronaldo que ganhou tudo isto? Ou será que só deve contar o Ronaldo que ganhou o Campeonato Europeu pela Seleção Portuguesa? São fases diferentes! Há uma fase que os espanhóis querem ignorar. Não lhes interessa ter um Ronaldo acusado de fraude como jogador do Real. Esta fase que Portugal fique com ela. Ronaldo que aguente! Então e o campeonato de Espanha e a Champions também passam a ser de Portugal? É só uma pergunta! E se ele sair do Real? Vamos ver como se comporta ele agora na Taça das Confederações. Mas não entremos em euforias. Isto são apenas fases e estas também acabam.
Do mesmo modo parece que se está a acabar a fase de Lua Cheia do Benfica. Depois de uma fase boa, parece que tudo se está a desfazer e onde tudo era bom, passou a muito mau. E agora? Tal como o Ronaldo, também este Benfica parece estar a entrar em Minguante. Enfim. Fases!