Alexandre Parafita
Fevereiro, velhaco e traiçoeiro
Cuidado com este fevereiro. Ele aí está, o safado. E promete ser como os outros: velhaco e traiçoeiro. Quem hoje, por estas bandas, abrir as janelas dá com ele tal qual é: agora com um sol promissor, depois uma forte ventania, logo uma valente chuvada ou uma saraivada. Sempre enganador. Afinal, enganou a própria mãe. E “matou-a ao soalheiro”. Em Sabrosa, conta-se que a pobre velhinha, ao olhar pela janela e, vendo o sol a raiar, perguntou ao filho:
– Olha lá, ó fevereiro, hoje não mandas chuva?
– Hoje não – diz ele. – Hoje mando uma ressa de sol.
Ela então pegou na roca e no fuso e foi para o soalheiro fiar. Nisto, o safado mandou vir uma forte saraivada, e a pobre, como era velhinha, não teve tempo de fugir e morreu ali mesmo. Assim se conta em Sabrosa. Noutros sítios conta-se mais: conta-se em Vinhais que o fevereiro fez vir uma ressa de sol e mandou a mãe ao monte nua. A seguir, mandou uma saraivada e matou-a. Por isso, é que o povo diz que ele “é velhaco e traiçoeiro” e que “fevereiro quente traz o diabo no ventre”.
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