Luis Ferreira
Geringonça – “nunca mais”!
A necessidade aguça o engenho, já há muitos séculos se diz e se verifica. Desde que o homem apareceu no planeta e teve de se adaptar no seu dia-a-dia para poder sobreviver num meio que lhe era cada vez mais adverso, teve de recorrer ao engenho e arte que o seu parco conhecimento lhe permitia. A sobrevivência assim o dita, ontem como hoje.
Todos conhecemos o que é a geringonça que nos governa e como surgiu. Surgiu da necessidade do partido socialista poder governar em minoria, substituindo o partido social democrata que ganhando, não teve maioria e só o somatório da esquerda permitia governar em sua vez. Como lhe chamou na época Paulo Portas, era uma geringonça que permitia governar, mesmo sendo contranatura. Apesar de todos os vaticínios temporais de existência governativa, a geringonça tem-se mantido no poder. É certo que nem tudo tem corrido pelo melhor nem tem servido todos os que dela fazem parte e também é certo que Costa tem engolido muitos sapos. Paciência! Ou isso, ou nada. Ou assim, ou fora do governo.
Quem tem assumido cada vez maior força é o BE e Catarina Martins tem-se esforçado por dar a cara em todas as esquinas fazendo valer os seus votos e a sua negociação na geringonça. Jerónimo de Sousa, perdendo algum terreno neste caminho sinuoso, tenta-se afirmar com críticas e com promessas, mas pouco tem adiantado. Costa, prevendo talvez uma vitória nas próximas legislativas, tenta subir o seu score para se livrar da geringonça e remodelar o seu sistema governativo e vem a terreiro pedir força nas autárquicas para fazer o governo andar para a frente. Catarina é que não se faz rogada e aposta numa coligação, sem geringonça mas, onde ela ponha e disponha e até faça parte do governo. Governo?
Apesar de ainda faltar algum caminho para ser percorrido, a verdade é que o governo da geringonça, tem de trabalhar muito para que a engrenagem se não desmorone e cada peça caia para seu lado. O próximo orçamento de Estado está à porta e tem de ser aprovado pela geringonça e para tal Costa tem de ceder em muitos campos mesmo que isso lhe custe muitos milhões de euros e custa. Até onde pode ir Costa?
O governo prometeu o descongelamento das carreiras e dos escalões dos funcionários, por pressão do PCP e do Bloco mas, o cenário agora não se mostra fácil ao governo, pois as contas estão a sair furadas. Então como fazer? Será que vai haver descongelamento das carreiras? A geringonça não quer faseamento. O governo quer. O PCP quer que todos tenham acesso ao descongelamento e Costa diz que não há dinheiro que chegue para isso. Parece que a geringonça não se está a entender. Os funcionários públicos estão à espera que se cumpra a promessa. E se não se cumprir? As eleições não estão longe e os votos são necessários para que Costa se livre da geringonça! Mas é a pressão do PCP e do BE que mais conta nesta dança de votos, pois no final quem pode puxar pelos galões são eles, os da geringonça, que vão depois dizer que foi obra deles o descongelamento das carreiras. E Costa o que vai dizer?
Para o Bloco a certeza de que é imprescindível na próxima solução governativa é tão forte que já afirmou que a geringonça tal como está não se fará mais e que ela está disposta a fazer parte do governo. Deste modo a pressão sobre Costa e o PS é cada vez maior e pode causar falhas enormes. Catarina não quer mais geringonça, mas Costa também não. Como fazer?
A par desta trapalhada toda está uma série de acontecimentos que em nada beneficiam o governo. Foi o caso de Tancos, que afinal pode ter sido tudo menos roubo ou assalto, tal como eu tinha já aqui referido. Eu tinha razão! O Ministro veio agora dizer o mesmo! Enfim! Culpas, quem as quer? Foi o caso dos incêndios e do SIRESP. Tudo falhou e morreu gente a mais devido ao erro. Culpas? De quem? A geringonça pouco disse. E para quê? A culpa é sempre dos outros.
Pois é. Para Catarina a geringonça não se voltará a repetir, mas entretanto vai dizendo aos lisboetas que decidam se querem ou não uma geringonça para as autárquicas. Um pé no chão, outro no burro! Ninguém quer perder o poder, ou a falta dele. Se não for geringonça, será coisa semelhante certamente. O Costa que ponha a pau! No final pode-lhe acontecer o mesmo que aconteceu ao Coelho!