Henrique Ferreira
Há mesmo condições para escolher entre governar à esquerda e governar à direita?
Comodamente instalados no sofá, alguns analistas classificam a actual governação como «governação à esquerda» e a anterior governação como «governação à direita».
O uso de classificações simplistas é fácil para arrumar os acontecimentos ou os factos sociais mas quase sempre atraiçoa a realidade. Basicamente porque, hoje, na Europa, já nenhum governo é ou de esquerda ou de direita. Os princípios do Estado Social obrigaram todos os potenciais governos de direita a governar com alguns princípios de esquerda. Pela mesma razão, já praticamente não há governos à esquerda porque a social-democracia exige a garantia de um funcionamento, mesmo que mínimo, da economia capitalista e de um mercado livre, mesmo que parcialmente regulado.
Poderíamos invocar que os governos à esquerda apoiam mais as classes média baixa e baixa. Mas até isso a realidade tem desmentido. Todos os potenciais governos de direita têm usado programas de apoio social aos mais desfavorecidos. Mesmo assim, a realidade evidencia que os governos de esquerda os favorecem mais? Nem sempre. Actualmente, sim, por causa das necessárias respostas às exigências do PCP e do BE.
Quer isto dizer que só com um governo com orientação pêcepista e bloquista é que teríamos um governo à esquerda? Duvido. A resposta só a teríamos se experimentássemos um governo destes que fosse destituível facilmente a ver se um tal governo era capaz, na Europa, de suprimir o capitalismo e a circulação livre das mercadorias e do comércio.
Esta análise aplica-se só a Portugal. Cada pais tem as suas especificidades. Se considerarmos os EUA, é óbvio que a clivagem esquerda/direita é clara assumindo, desde a eleição de Trump, contornos muito perigosos para a ordem económica mundial por se constituir numa actuação proteccionista do país face aos outros países.
Bragança, 05-01-2017, 22h41
Do mesmo modo, teríamos uma governaçâo à direita se entregássemos experimentalmente o poder ao CDS? Este partido tem muito pouco de direita e, além disso, não seria capaz de tirar os apoios sociais aos mais desfavorecidos também porque o contexto europeu nem sequer lho permitiria.
Assim, estamos condenados ao ram-ram PS-PSD, a menos que queiramos mesmo experimentar extremos para ver se há diferenças em relação àqueles dois. Para já, a nossa realidade é a de um capitalismo com alguns limites e e uns rebuçaditos para as classes mais desfavorecidas. Muito pouco para nos carecterizar como Estado Social e Socialismo Democrático.