Luis Ferreira

Luis Ferreira

Há quem não descanse em agosto

E eis que chega agosto, o mês das férias, do merecido descanso para muitos que passam o ano inteiro a trabalhar, sejam quais forem as formas e o significado que tenha esse trabalho.

Agosto é sinónimo de calor, de Verão, de praia ou de montanha, de relaxamento para a família, desde as crianças aos adultos. E esta ideias é válida em todo o Mundo. Infelizmente, as alterações climáticas trocam as voltas a muita gente e agosto já não é o que era há 40 anos atrás. Praias e montanhas estão alteradas. A montanha verdejante transformou-se em terra queimada e cinzenta e as praias ficam interditadas porque a água do mar é imprópria a banhos devido às bactérias que por lá pululam. As areias estão sujas com os detritos que os distraídos deixam cair ou esquecem por preguiça e esperam que outros venham limpar. E quando não é nada disto, é a multidão que invade as praias para fugir ao calor à procura da água fresca do mar para nele mergulhar e se refrescar. Mas há muita gente que não descansa em agosto. Uns porque não têm tempo para descansar, outros porque os interesses que os motivam e movimentam são demasiado importantes para pararem. E são tão diferentes uns e outros que não nos lembramos dos interesses que têm.

Pensemos num lavrador, onde o tempo conta de modo diferente e as colheitas ditam o tempo de descanso e, curiosamente, agosto não é propriamente o momento de descansar. Mas olhemos para os governantes. Estes, seja qual for o país, têm sempre com que se preocupar, embora possam escolher um tempo para descansar. Mas nem todos têm as mesmas preocupações. Os países que andam em guerra, como Israel, como a Rússia ou a Ucrânia ou outros como a Venezuela onde as eleições parece terem sido fraudulentas e Maduro se vê acossado pela comunidade internacional, e não quer perder o poder, ou a campanha que decorre nos EUA onde Trump faz de tudo para combater Kamala Harris e os democratas até novembro. Kamala não vai à praia certamente nesta altura e descansar não deve fazer parte do plano. Ela não pode descansar um momento se quer bater Trump e este não se pode distrair se quiser ganhar.

A verdade é que Trump está tão convencido da sua vitória, apesar das sondagens, que vai até à sua mansão em Mar -A- Lago e de lá vai acompanhando o que se passa no país e vai recebendo os amigos. No entretanto, descansa, pois, a sua idade não lhe permite fazer diretas, só asneiras. Contudo, o mundo inteiro vive em suspenso até às eleições dos EUA. A preocupação é enorme e ver novamente Trump a gerir os destinos da América e a arrastar outros países para abismos descomunais, é assustador. No entanto há sempre quem o siga, seja lá por que motivo for.

Mas o Mundo está em reboliço e tudo está interligado. A aldeia global em que vivemos, não dá muito espaço nem distância entre os países. Mesmo este pequeno país à beira mar plantado, vive momentos de ansiedade onde um governo sem maioria tenta sobreviver a cada dia que passa. Discutem-se os pormenores de um Orçamento que deverá ser aprovado lá para outubro ou novembro e ninguém tem a certeza dessa aprovação. Descansar nesta altura não é para todos certamente. E quer queiramos quer não, vivemos dependentes do que se vai passar na América. A economia é global e ela depende dos contornos políticos internacionais. Por outro lado, como poderão descansar os ucranianos quando têm de enfrentar um louco como Putin e outro não menos louco, se ganhar, como Trump? No meio da loucura que os rodeia, o mais certo é soçobrarem em pouco tempo.

Em França, Macron tem duas frentes que o não deixam descansar: um Primeiro Ministro para nomear e não sabe quem poderá ser e, os Jogos Olímpicos que começaram já e vão ter o seu ponto alto neste mês de agosto. Quem pode ter férias? Talvez, mesmo contrariados, só os atletas que ficaram eliminados, gozarão as merecidas e inesperadas férias. Por agora já mostraram o que valiam e nada mais há para defender. Têm direito ao descanso do guerreiro.

Na verdade, os tempos que se atravessam não são os melhores para descansar e descontrair, pelo menos para os que têm mais responsabilidades nas suas vidas diárias. E não é só a questão política, é também o clima alterado que não dá descanso nem segurança a grande parte das pessoas que vivem em algumas regiões deste planeta. São chuvas torrenciais e destruidoras para os lados da Ásia e da América do Sul, é o calor tórrido na Europa e são os incêndios, tornados e furacões na América que tudo destroem por onde passam, deixando famílias sem teto e sem nada. Completa miséria. Não descansarão certamente estas pessoas agarradas pelo infortúnio e pelo destino cruel.

Mas não é só agosto que trás estas preocupações. São quase todos os meses do ano, mas agosto é sinónimo de férias, pelo menos para a grande maioria das pessoas, seja aqui na Europa seja na Ásia ou em qualquer outra parte. Esperamos todos, ou quase, por agosto. Ansiamos por esses dias de descanso para repor as forças para poder enfrentar o resto do ano. Seja uma semana, quinze dias ou um mês repartido pelo ano inteiro, o que é necessário não perder é esse tempo de descanso e relaxamento. Se os políticos descansam ou não, a nós pouco importa. Nós é que necessitamos descansar para poder um dia votar nesses políticos que não nos dão tréguas. Descansemos.



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