Chrys Chrystello
Haverá futuro?
O dia está belo sem nuvens e estão a caminho dois furacões, a Hélène e Joyce que talvez cheguem no fim de semana como tempestade tropical. Há mais meia dúzia deles no Pacífico a ameaçar Hawaii e Macau, e outros nos EUA num total de 8 ou 9 em simultâneo, o que só vem servir de arma de arremesso aos que acreditam na manipulação do clima.
Martins Goulart[1], o engenheiro e homem do PS nos primeiros anos da autonomia veio a público falar da ausência e deturpação da mesma nestas 9 ilhas (creio que há 20 anos se mantinha silenciosa politicamente) e não é só ele, muitos se interrogam (mas são ainda poucos) sobre o rumo que as políticas dos dois partidos no poder imprimiram aos Açores em 43 anos de autonomia.
A economia a crescer artificialmente inflacionada por um turismo que já começa a escalavrar as belezas naturais das ilhas veio dar otimismo desenfreado, em especial na ilha de S Miguel, privilegiada com a maioria dos turistas. A crescer também o número de beneficiários do RIS rendimento de inserção social, ou qualquer que seja o nome atual dessa bela ideia que atualmente é usada e abusada até ao limite. O desemprego a baixar, artificialmente alimentado por milhares de jovens em programas Estagiar qualquer coisa que poucas garantias de emprego estável darão...acabam uns estagiários e outros virão…
Na agropecuária os subsídios sucedem-se, uns atrás de outros na pedinchice a Bruxelas para manter artificialmente as ilhas das vacas felizes sem se saber por que razão a associação d setor não usa os milhões que tem a render na banca e que bem podiam ajudar o setor e os associados, mas eles lá saberão …
A maioria das pessoas demasiado ocupadas com os seus umbigos nem pensa em política nem autonomia, desde que o prato de lentilhas lhe seja servido todos os dias, com mais umas migalhas atiradas de 4 em 4 anos aquando dos atos eleitorais de promessas mil. Há, alguns que se queixam da autocensura a que se obrigam para não perderem os míseros tostões que a administração distribui por mil e uma entidades e poucos são os que dão voz ao descontentamento. Até poderíamos ser levados a pensar que tudo corria bem neste reino da Dinamarca, não fossem as sistemáticas teimosias de empresas públicas, semipúblicas ou coisa que o valha, que diariamente são notícia nos jornais pelo acumular de prejuízos de milhões e dentre elas, a SATA do nosso descontentamento em gestão autofágica dividida por executivo, sindicatos e outros interessados no bolo, sem privilegiar os milhões de passageiros que a sustentam e penam para receberem indemnizações pelos atrasos, cancelamentos e outros desvarios aqui levados ao extremo na cauda da avaliação de pontualidade de voos e outros critérios semelhantes. O pior é que eu, que até prefiro voar na SATA do que na concorrência, sei que a alternativa é ainda pior. Mas algo terá de ser feito, desfazer a companhia e começar de novo com o serviço público deficitário interilhas, alugar o serviço de outras companhias numa fase de transição e acabar com este aumento diário da sua dívida pública.
Em Santa Maria os ânimos andam excitados com a ida ou não, de um spaceport, que ninguém sabe ainda bem o que será, para o lançamento de foguetes na Malbusca. Uns a favor em nome do “progresso” sempre prometido àquela esquecida ilha, mas nunca concretizado, outros mais ambientalistas defendem a preservação da pureza natural pois os quos superam os prós, mas pouco se sabe de concreto ainda para ser possível definir posições.
No PSD local os dois candidatos a líder esgrimem argumentos após 5 derrotas eleitorais consecutivas sem fama nem proveito, mas como dizia, há dias, o colega Tomás Quental, sem garantir apoios à agropecuária e a continuação dos rendimentos mínimos a vastos setores da população o novo líder não ganha. Um tem a máquina partidária, o outro busca as massas. Pode ser que daqui nasça uma verdadeira oposição que bem necessária é para o equilíbrio democrático, e que tem sido mais apanágio dos pequenos partidos BE, PCP E CDS do que do PSD.
Dito isto, quando falo com jovens a auferirem pouco mais de 500 euros e vejo estampado no rosto o desânimo por nunca mais poderem constituir família ou se tornarem independentes economicamente pergunto “Haverá futuro?”, trabalho escravo na restauração haverá sempre e os sonhos ficarão adiados até um dia mas será isto que queremos para os açorianos?
Chrys Chrystello, Jornalista
[MEEA/AJA (Australian Journalists' Association –
Membro Honorário Vitalício nº 2977131, 1983-2018) carteira profissional AU3804]