Barroso da Fonte
História de Portugal: quem mais a mama é quem mais a (des)ama
Portugal nasceu naquela «primeira tarde Portuguesa» de 24 de Junho de 1128, nos campos de S. Mamede. Desde esse ato geracional, até 1179, data em que o Papa promulgou a Bula Manifestis Probatum, decorreram 51 anos, tantos quantos foram precisos para, como País, se proclamar livre e independente.
Com altos e baixos no seu percurso, dia 24 do mês de Junho, completou 894 anos.
Triste e vergonhosamente nenhum canal televisivo Português, nenhuma rádio de interesse público e nem sequer a Lusa, agência nacional, paga pelos contribuintes, escreveram uma simples frase que dissesse: Portugal faz hoje 894 anos.
Este desprezo crónico, este anti-nacionalismo sabujo e esta desprezível ingratidão social que levaram, em 1913, João de Meira a proferir: «há trinta anos que em Guimarães se luta para que nem sejamos chamados bárbaros, por ignorarmos a nossa História, nem sejamos objeto de mofa, por apresentá-la entretecida de lendas inaceitáveis».
A História de Portugal «anda mais remendada do que capa de pedinte», como diria Francisco Rodrigues Lobo se fosse vivo. O meu mestre Alfredo Pimenta, que foi «sócio de número» da Academia Portuguesa de História, chamou-lhe «caverna de bandoleiros».
E ele, que foi o historiador mais polémico da sua geração, se ainda por cá andasse, ter-se-ia batido, em duelo convencional, contra quem, tendo raízes em Guimarães e representando a República Portuguesa, «não podia ter sido pior». Quando já todas as forças políticas locais, entre 1975 e 1990, tinham acordado «unanimidade» na elaboração da Causa supra-partidária, da troca do dez pelo 24 de Junho, como feriado nacional, colocou toda a sua arrogância, na expressão maléfica: «Feriado nacional não! As datas e símbolos nacionais não devem ser revistos». ..
Com esta bomba atómica, foram frustradas as expectativas dos vimaranenses; e os portugueses em geral, que, desde tempos antigos, anseiam, ver reconhecida a Batalha de S. Mamede, como ato inequívoco do nascimento da Pátria Portuguesa. Desse modo, gostariam ver considerado o 24 de Junho como feriado Nacional.
Este estalo na cara dos convidados de sua alteza real, foi escrito na manchete do Semanário O Comércio de Guimarães, nº 7935, de 26/06/1997, ano 114. A mesma fonte sublinhou, de imediato, que a opinião do PR Jorge Sampaio «foi sublinhada com uma incompreensível salva de palmas!». Mas para confirmar o semanário O Povo de Guimarães, da mesma data e ano, lamentou idêntica deceção. Reproduz-se da manchete: «24 de Junho: Sampaio diverge de Freitas (do Amaral) e trava feriado nacional».
O presidente deixou um recado explícito à pretensão de alterar a letra do Hino Nacional. «Em Guimarães, Sampaio, afirmou-se definitivamente contrário à revisão dos símbolos e datas nacionais, por melhor que aparentem ser os argumentos intelectuais invocados para o fazer». Eis o cumulo da demagogia de um chefe de Estado que mandou às malvas a hipótese do diálogo pacífico, tolerante e, porventura, mais consentâneo, com a verdade histórica.
Recordo que, desde a revolução dos cravos, logo que se realizaram eleições livres e democráticas, entre as diversas forças políticas do concelho de Guimarães, houve, sempre, entendimento para que a questão de Guimarães, relativamente ao acerto do calendário histórico, fosse reconhecido. Ficou a dever-se a esse Vimaranense de raiz.
A partir de 1990 passou a haver, localmente, maioria absoluta de um só partido. E o consenso que houve durante 15 anos, não mais foi respeitado, mantendo-se o feriado municipal, não para pressionar aquilo que motivara o consenso, mas para inaugurações concelhias. Os dois primeiros Chefes de Estado, nesses 15 anos, sempre marcaram presença nas celebrações programadas pela autarquia. Quer Ramalho Eanes, quer Mário Soares, sempre aceitaram o convite ou a representação, no 24 de Junho. Ambos reconheceram o simbolismo da data e o direito da nossa reivindicação histórica.
Jorge Sampaio, para além de outros deslizes para com Guimarães, por alturas da Capital Europeia da Cultura 2012, foi ele que menosprezou «a Residência Presidencial do Paço dos Duques de Bragança», rejeitando esse estatuto, até essa tão desprezível decisão de ir dormir fora de Casa.
Até hoje nunca mais foi utilizada essa «Residência oficial da Presidência da República». E nem Cavaco Silva, nem o atual titular, fizeram uso desse privilégio no Norte do País. Parecendo irrelevante, essa rejeição fez com que os guias turísticos deixassem de informar que o Paço dos Duques de Bragança, para além do mais visitado museu do norte do País, era também um espaço nobre e privado para receber o mais alto magistrado no Berço da Nacionalidade. Essa circunstância deixou de seduzir visitantes que viam nessa valência uma mais valia para entrar no Museu do Paço dos Duques de Bragança, situada aos pés do Castelo da Fundação, em Guimarães.
Foi um vimaranense (o pai de Jorge Sampaio era natural de Guimarães) que fez, do cargo a que ascendeu, estragos consideráveis, no tocante ao simbolismo histórico. Nem falando da Capital Europeia da Cultura, cujos salários e mordomias chegaram a ser contestados, na Assembleia da República, a ponto de serem escandalosos, foi esse PR “vimaranense” que esteve na origem do desmembramento do concelho de Vizela, com prejuízos irreparáveis para Guimarães.
As cerimónias do 24 de Junho deste ano, continuaram a privilegiar as inaugurações e a entreter o povo com mais uma edição da Feira Afonsina. Uma experiência positiva que fez esquecer a ausência de Marcelo que preferiu dar beijinhos e marteladas na cabeça das meninas do Porto e de Braga. Salvou-se a mensagem de Domingos Bragança, Presidente da autarquia local que insistiu em retomar o acerto histórico: oficializar o 24 de Junho como a Primeira Tarde Portuguesa. Enquanto não se corrigir esta fraude, a História de Portugal teimará em falsear a verdade da mais antiga nação da Europa.
Esse reconhecimento está contido na Estrutura de Missão que preparará o novecentista aniversário de Portugal que ocorrerá em 24 de Junho de 2028.
Barroso da Fonte