Henrique Ferreira

Henrique Ferreira

I cry and pray for America

Emmanuel Todt previu o fim do império em «Depois do Império» (Emmanuel TODD. Depois do império: a decomposição do sistema americano. Rio de Janeiro: Record, 2003. 237 páginas.) e, desde 2000, nunca mais os sinais de decadência da «América», nome comum para os Estados Unidos da Amérca, deixaram de aumentar.

A emergência de uma nova potência económica mundial - a China - bem como a de várias potências regionais, pôs em evidência uma nova ordem mundial pós-1989 (Queda do Muro de Berlim e da URSS) e um mundo tripolar (China, EUA e Rússia) com a União Europeia a tentar jogar o seu cavalo neste complexo tabuleiro de xadrez.

A perda de compettitividade económica e a incapacidade para manter as imensas frentes de guerra debilitaram os EUA mas o que mais os debilitou foi a perda de qualidade da sua democracia. Escândalos e jogos de poder económico, guerras injustificadas e injustas deram da Amériuca uma imagem demasiado vil e demasiado medíocre ao ponto de, hoje, poucos acreditarem nas suas capacidades para liderar o mundo.

Foi neste contexto que ocorreu o debate de ontem, preparatório da campanha para as eleições presidenciais de 3 de Novembro próximo, entre Donald Trump (Partido Republicano) e Joe Biden (Partido Democrata).

O debate foi confrangedor, com insultos, sobreposições de voz, ausência de conteúdo, essencialmente porque Trump esteve no seu estilo franco-atirador e anulador da palavra dos outros. A única verdade, para Trump, parece ser a que ele define, considerando qualquer outra perspectiva como «Fake» (falsa).

Apostaria que Trump nunca leu nada de Karl Popper, de Isahia Berlin ou, mesmo, de Milton Friedman. Apostaria que não terá havido, na história da «América», um Presidente tão arruaceiro. E é isto que preocupa.

Preocupa que metade da América tenha este estilo, pense que pode levar tudo à frente, levante o machado de guerra pela supremacia branca num país que já não é maioritariamente «europeu».

Confesso que me angustia o discurso de Trump. A Guerra de Secessão começou assim. Terá Trump consciência disso?

Será que o fim da América vai acontecer, nesta crise, a partir de dentro, a partir da sua mediocridade e falta de cidadania? Regra geral, é assim, os impérios caem assim.

E o problema maior é que ainda não está constituída qualquer outra nova ordem mundial aceitável.


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