Henrique Ferreira
Informem mais e acusem menos
Tenho sido tolerante e benevolente na audição e visualização de alguns debates transmitidos pelas diferentes cadeias de televisão.
Porém, têm sido raros os momentos em que os representantes das candidaturas informam dos seus programas e das consequências destes, designadamente em termos consequenciais e orçamentais. Do que tenho visto e ouvido, é-me difícil fazer uma opção consciente sobre em quem votar, a menos que já seja «catequizado» e vote cegamente, como fazem os prosélitos fanáticos do seu partido.
São cada vez menos estes catequizados prosélitos fanáticos porque as pessoas exigem cada vez mais racionalidade na decisão sobre o voto e cada vez menos adesão afectiva aos candidatos e candidaturas.
Para lá dos ataques e acusações e contraataques e contraacusações, sobra pouco em informação racional e consequencial do que dizem os candidatos pois não basta prometer, sendo também necessário explicar como se cumprem as promessas e onde se vai buscar o dinheiro.
Tem sido deprimente a falta de informação sobre a origem dos dinheiros para cumprir as promessas e o conjunto destas já quase esgota o Orçamento do Estado. Além de que há áreas em que nem sequer se fala como o desenvolvimento da economia e a defesa nacional, tão na ordem do dia devido às guerras actuais e às previsíveis futuras.
Depois, há o problema da equidade e da proporcionalidade das promessas face ao conjunto dos públicos e problemas sociais. Que sentido faz aumentar os professores ou os médicos ou os polícias e GNR se tais aumentos não são enquadrados numa perspectiva de conjunto de todos os profissionais? E, por outro lado, são negligenciadas as perspectivas de solução dos problemas a partir da especificidade de cada carreira.
Sirvo-me do exemplo que melhor conheço, o dos professores. Estão mal pagos no início da carreira? Evidentemente. Têm problemas de colocação em horário completo? Evidentemente. Têm problemas no acesso a habitação quando deslocados? Evidentemente. Estão injustiçados na contagem do tempo de serviço? Evidentemente, também. Estão mal pagos? Nem por isso. Não se pode dizer que um vencimento ilíquido de 1.650 euros (1120 líquido) no início da carreira, em horário completo, seja injusto face aos vencimentos dos técnicos superiores da Administração Pública em início de carreira. Por que não se resolvem então estes problemas e não se faz equivaler a carreira dos professores a todas as outras numa perspectiva de proporcionalidade? Parece-me que porque já ninguém se entende no turbilhão social dos problemas e no barulho que impede de raciocinar correcta e proporcionalmente. E não se esqueça os problemas da formação que são gravíssimos a todos os níveis.
Arrisco falar dos médicos. Como querem resolver os problemas do SNS se não resolvem o problema dos médicos e enfermeiros? Quem não procura melhorar a sua condição? Os médicos do SNS ganham mal mas podem praticar medicina nas instituições privadas de saúde. Sendo assim, é natural que eles encaminhem os seus doentes para as instituições privadas. Enquanto não ganharem bem para poderem dedicar-se exclusivamente ao SNS e não forem obrigados a fazê-lo, os médicos dedicar-se-ão menos ao SNS. A menos que sejam santos, o que não lhes é exigível. Mas há-os.
Finalmente, não basta dizer que se quer desenvolver a economia, é preciso também dizer como se vai fazê-lo. E, lamentavelmente, ninguém fala da defesa nacional e dos seus problemas, abundando os generais e escasseando os soldados e o material de defesa e combate.
Finalmente, qual é a autoridade do Estado para pedir aos privados ordenados mínimos de 900 euros e médios de 1400 se ele próprio tem metade dos seus colaboradores a ganhar menos de 1.000 euros, chegando ao ponto de pagar técnicos superiores com 1300 euros mensais? Há que ter a noção do estado do país e fazer esforços para controlar os preços. Ouve-se falar pouco de como desenvolver a economia e aumentar a produtividade.
Assim, não vamos lá!