Magda Borges

Magda Borges

Intermitências de um Estado de Emergência

     A decisão de avançar com as comemorações oficiais do 25 de abril, bem como de outras efemérides subsequentes, em pleno estado de emergência, tomou de enorme espanto e incredulidade todo e qualquer cidadão de bom senso. 

     Não só pelo mau exemplo que é dado pelas mais altas instâncias democráticas do nosso país, como pela falta de solidariedade demonstrada para com o português comum. Os tempos não são de festa nem de fausto. E Abril não é uma história de engravatados e de discursos. Abril está a acontecer todos os dias, desde há umas semanas a esta parte, em todas as unidades de saúde, em todos os lares de idosos, em todas as ruas e casas deste país. Abril está a ser reinventado por cada pessoa que teima em não baixar os braços, em não ceder ao cansaço, em não deixar de acreditar que todos juntos vamos derrotar mais um Adamastor. Abril somos nós. Todos. Quem ainda não compreendeu isto, nesta fase de uma catástrofe sanitária, social  e económica sem precendentes, não percebeu nada. 

Os portugueses estão neste preciso momento a reescrever abril. Lamento a visão curta e limitada da nossa classe política, na sua generalidade. Já muitas vozes, sensatamente, vieram a público dizer que não concordam ou que não permitirão qualquer alteração ao estado atual para se fazer a festa dos cravos. Ou outra qualquer. 

Adicionalmente, deve ser por excesso de idiotice minha, mas de repente, surgem-me uma série de ideias diferentes, que permitem comemorar Abril, sem pôr em causa a saúde dos que encarnam Abril. O Povo Português. Deixo como recomendação de apontamento musical: "Acordai", de Fernando Lopes Graça. 

Cumpra-se Abril, com recolhimento, máscaras, distanciamento social, sensatez e saúde. 


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