Teresa A. Ferreira

Teresa A. Ferreira

Jeremias: Um Cavalo Biqueiro! (Port.) / Que Cabalho Tan Biqueiro! (Mir.)

 

JEREMIAS: UM CAVALO BIQUEIRO    (Português)

 

– Anita, ó Anita! Esperem por mim.

– Dá corda aos sapatos, rapaz. És sempre o mesmo. Como de costume, atrasado! Sr. José, espere mais um pouco, se faz o favor. O Jorge está quase a chegar.

O rapaz corria tanto que até lhe batiam os calcanhares no traseiro. Tinha de alcançar o autocarro que fazia o transporte dos alunos entre a cidade e a Escola Profissional de Agricultura, localizada numa aldeia das cercanias.

– Obrigado, Sr. José. Desculpe lá. Atrasei-me.

– Vá, entra e senta-te, rapaz. Falta alguém?

– Dos que estão, não falta ninguém. – retorque o Carlos, sempre pronto para uma chalaça.

– Vamos embora, rapaziada! – diz o Sr. José.

– Então o que te aconteceu, Jorge? – pergunta-lhe a Anita.

– O mesmo de sempre.

– Se quiseres contar…

– Coisas do meu pai.

– E o que foi desta vez?

– Depois, falamos. Está bem?

– Quando quiseres. Sou toda ouvidos. Fizeste o trabalho de Matemática?

– Sim, fiz.

– Ontem, andei toda a tarde a pensar nele. Pareceu-me demasiado fácil. Cá para mim, o Store passou-nos uma rasteira.

– Já tiramos isso a limpo na aula. Também me pareceu muito fácil. Mas não tive tempo para pensar nele. O meu pai… deixou-me tantos recados para fazer que nem tive tempo para respirar.

– Eh pá! O teu pai é como o meu. Sempre que lhe parece, é um fartote de pedidos. E, depois, é a minha mãe. Ora lá vem um, ora o outro e eu com os trabalhos da escola por fazer. Nem tenho tempo para andar por aí, a passear as pernas e a ver as montras na cidade.

E, mudando de assunto, diz-lhe a Anita:

– Escuta: depois das aulas, quando puderes, vamos ver o que se passa com o Jeremias. Ali está um caso bicudo. O cavalo está cada vez mais magro! Não deste conta?

– Por acaso, também reparei nisso.

Entretanto, terminada a viagem, uma voz avisa:

– Meninos! Podem sair do autocarro. Ó Joaquim, vê lá se tens maneiras, rapaz. Não empurres os teus colegas. – recomenda-lhe o motorista.

– Desculpe, Sr. José, estou aflito para ir à casa de banho.

– Esta malta até são bons moços... Quem me dera no tempo deles e saber o que sei hoje! Dava um pulo numa estrela. Ai, vida, vida!...

E o malandro do Carlos…

– Que é mais curta do que comprida.

– Diachos do rapaz! Está sempre com a resposta pronta na ponta da língua. Um dia faço-te a cama. Olé, se faço. Deixa-te estar que não perdes pela demora, cuco da ribeira. – diz o motorista lá com os seus botões.

– Está a tocar para as aulas. Vamos pessoal. – apressa a Anita.

– Bom dia, Store.

– Bom dia a todos. Tomem os vossos lugares. Maria de Lurdes, falta alguém?

– Deixe ver, Store.

A delegada da turma percorre, com o olhar, todas as mesas da sala de aula e, a seguir, dá conta das ausências ao professor Pedro para marcar as faltas.

– Vamos lá tomar nota do sumário: “Álgebra – operações com polinómios. Revisão dos trabalhos de casa.”.

Store?!

– Sim, Carlos, podes falar.

Store: não sei o que quer dizer polinómios! Nunca ouvi essa palavra.

– É matéria nova, Carlos. A delegada da turma, se faz o favor, pode recolher os trabalhos de casa.

Store?! O problema era muito fácil! – exclama a Anita.

– Quem mais achou o problema fácil?

Quase toda a turma tinha a mão no ar.

– Bom… das duas uma: ou vocês não perceberam o problema, ou estão uns ases nesta matéria. O problema tinha tudo, menos ser fácil.

– Viste, Jorge. Eu não te disse que ali havia marosca!? – reafirma a Anita, parceira de carteira do Jorge.

– Caríssimos: para ser bom aluno a Matemática, há que ser, em primeiro lugar, bom a Português. Como querem perceber o que vos é pedido no enunciado do problema, sem dominarem a nossa língua?

Os alunos entreolhavam-se com ar desconfiado. Suspeitavam que tinham sido apanhados na curva do facilitismo.

– Quem quer vir ao quadro resolver o problema?

– Posso ir eu.

– O quadro é seu, Jorge. Mostre-nos como resolveu o problema.

O Jorge desenvolvia o seu raciocínio; e os colegas, em silêncio, seguiam o desenrolar da resposta. Agora, não se sentiam seguros de nada.

– Terminei, Store.

– Então, comecemos pela leitura do enunciado do problema. Rita, faça o favor de o ler, pausadamente, em voz alta.

Terminada a leitura, questionou a turma:

– Todos perceberam o que vos é pedido?

A turma, cada vez mais baralhada, nem mugia, nem tugia. Agora, eram mais as dúvidas que as certezas. Afinal, o simples problema, não era assim tão simples. Havia que construir um elaborado raciocínio para desenrolar o fio da meada.

Com toda a calma, o professor explicava o conteúdo do texto; disse para tomarem nota das variáveis e das constantes, que entravam no problema; e, a seguir, pediu ao Jorge para voltar a resolvê-lo.

– Já está, Store.

– Ora então, vamos lá ver. Está certíssimo, Jorge! Muito bem, rapaz! Estão a ver como a nossa língua é muito importante para nos ajudar a perceber outras disciplinas?

A aula prosseguiu, assim como todas do período da manhã, com entusiasmo pelas novas matérias que ali se ensinavam.

Depois do almoço no refeitório, o Jorge e a Anita foram visitar o Jeremias. Gostavam de cuidar do cavalo. Construíram uma forte amizade entre os três.

A visita ao estábulo obedecia a rituais que cumpriam a preceito. Punham água fresca e comida, escovavam, davam banho, montavam-no, festas e muitas festas, e as guloseimas do costume: cenouras e maçãs.

Jeremias, quando os via chegar, desatava a relinchar à espera de umas cenouras. Depois, dava umas turras nas cabeças dos jovens, para ser libertado e escovado. Sabia explicar-se muito bem. Havia, aqui, algo que os jovens não compreendiam. O Jeremias não comia como habitualmente; ficou biqueiro. Se lhe deitassem ervas verdes, comia-as; se fossem forragens secas, tal como feno e silagem de cor amarela, recusava-se. Ficara com a mania de só comer forragens verdes ou maçãs, cenouras, milho, cevada e aveia. Bem sabemos que a dieta principal de um cavalo consiste nas forragens, frescas ou conservadas. No caso de não haver frescas, tem de se recorrer às forragens secas.

Quando se via contrariado, sabia demonstrá-lo muito bem: batia com a pata dianteira direita no chão, três ou quatro vezes; e, depois, punha-se a raspar o chão com a pata, relinchava, abanava a cabeça e dava chicotadas com a cauda. 

Os jovens, vendo que o cavalo emagrecia, decidiram arranjar uma solução, com urgência. Tinham bem presente o que haviam aprendido na aula de Matemática, não pela matéria, mas pela abordagem que deviam usar para compreenderem um problema. Os dados estavam todos lá: o Jeremias só queria comer forragens verdes; tal alimentação era a base da sua dieta; na falta de forragens verdes, recusava-se a comer feno e palha.

A Anita deu um pulo como quem encontrara a luz ao fim do túnel.

– Jorge, preciso da tua ajuda. Já sei o que faremos.

– Conta lá isso?

– Anda daí.

– Aonde vamos?

– Confias em mim, ou não?

– Ainda perguntas?

– Então, anda.

Dirigiram-se à garagem onde eram recolhidos o autocarro e as alfaias agrícolas. Foram ter com o mecânico que mantinha tudo em bom funcionamento.

– Boa tarde, Sr. Aníbal!

– Boa tarde, moços. O que vos traz por cá?

– Precisamos da sua ajuda.

– Ora essa! Eu sou mecânico, não sou professor.

– Por isso mesmo, precisamos de si.

– Então, digam lá ao que vêm?

– O caso não é bem para nós, é para o Jeremias.

– Mau! Querem lá ver que avariou o motor ao cavalo?!

– Não brinque, Sr. Aníbal! Olhe que o caso é muito sério. – disse a Anita.

– Então, a menina, faça o favor de se explicar.

– O Jeremias só quer comer ervas verdes; as forragens secas, porque não são verdes, não as come.

– E onde é que eu entro nisso? – questiona o Sr. Aníbal.

– Tive uma ideia.

– As meninas quando se põem com ideias…

– Escute-a, Sr. Aníbal. – pede o Jorge.

– Diga lá, menina.

– Pensei em que nos podia ajudar a fazer uns óculos para o Jeremias. Uma coisa à medida dele!

– Uns óculos para o cavalo?

– Sim, sim. Depois, com papel celofane verde, fazemos as lentes.

O Sr. Aníbal, coçando a meia-dúzia de cabelos que tinha na cabeça, procurava compreender a situação.

– Bom… tenho ali arame… mas não tenho o papel celofane.

– Nós vamos buscá-lo à sala de trabalhos manuais. Ajuda-nos?

– Vá, lá, a menina enquanto eu e o Jorge tiramos as medidas ao cavalo.

A Anita voava, numa radiante alegria, por se ver envolvida numa ideia tão extraordinária. Num ápice, estava de volta à oficina onde decorriam os trabalhos de dobragem do arame.

– Então, vamos lá ao celofane. Como o seguramos no arame?

– Com cola, ou fita-cola, não sei… – diz o Jorge.

– Veremos o que calha melhor. – adverte o Sr. Aníbal.

– Os óculos estão uma perfeição. Digam lá, da vossa justiça, se não estão uma beleza?! – afirmava a Anita.

– Vamos pô-los ao Jeremias. Venham daí. – adianta o Jorge, numa alegria incontida.

Ajustaram-se os óculos e… ficaram um espanto! Logo a seguir, os jovens colocaram forragens secas na manjedoura e… Diz a Anita:

– Olha para ele, Jorge! Está a comer! – e dirige-se ao cavalo – "Seu malandro! Com que então só comes erva verde?!..."

– Ó menina, quer saber? Já o meu paizinho dizia: “Todo o burro come palha, a questão é saber dar-lha.”

O Jorge e a Anita deram um abraço arrochado de agradecimento ao Sr. Aníbal, que ria com eles.

 

Conto:  © Teresa do Amparo Ferreira, 12-03-2022 

Natural de Torre de Dona Chama, Mirandela, Bragança, Portugal. 

 

 


 

JEREMIAS: UN CABALHO BIQUEIRO   (Mirandés)

 

– Anica, à Anica! Sperai por mi.

– Bei se dás a la pierna, Jorge. Sós siempre l mesmo. Cumo de questume, sempre atrasado! Bá, Tiu Zé, sperai mais un cachico, se fazeis fabor. L rapaç stá quaije a chegar.

Jorge corrie tan delgeiro q’até batie culs carcanhares nas nalgas. Tenie q’apanhar la carreira que lhebaba ls studantes de la cidade pa la Scola Porfissional de la Lhaboura, nũa poboaçon de ls alredores.

– Dius bos lo pague, Tiu Zé. Çulpai-me alhá. Atrasei-me un cachico.

– Bá, entra i senta-te, rapaç. Falta algun?

– De ls que stan, nun falta naide, Tiu Zé. – respunde Carlos, siempre c’ũa gracica pronta.

– Bamos anton ambora, r­­­­­­­apaziada! – remata l cundutor.

– Que se passou hoije cuntigo, Jorge? – pregunta-le Anica.

– L mesmo de siempre.

– Se quegires cuontar...

– Cousas de miu pai, Anica.

– Que fui desta beç?

– Apuis, falamos. Stá bien?

– Quando quegires, stou a la scuita. Olha, faziste l trabalho de Matemática?

– Si, fiç.

– Onte, andei toda la tarde a pensar nel. Ye que me parciu fácel demais. Acá para mi, l porsor passou-mos ũa rastreira.

– Yá bamos a tirar isso a lhimpo na sala. Tamien me parciu mi fácel. Mas nin sequiera tube tiempo pa pensar bien nel. Miu pai mandou-me fazer tantos recados que nin tiempo tube pa respirar. – lhastima-se Jorge.

– À tu! Tou pai ye tal i qual l miu. Siempre que le dá na gana, manda-me fazer un fartote de recados. I mie mai nun le queda nada atrás. Ora un, ora l’outro... i you culs trabalhos de la scola por fazer. Que nin tiempo tengo par’andar por ende a passear las piernas i a ber las montras na cidade.

I, mudando d’assunto, cuntina Anica:

– Scuita, Jorge: apuis de la scola, lhougo que podires, bamos a ber l que se passa cul Jeremias? Tenemos eilhi un causo bicudo. L cabalho stá cada beç mais franzinico! Nun te deste de cunta?

– Por acauso, tamien reparei nisso.

Antretanto, acabada la biaige, ũa boç abisa:

– Bamos alhá, moços! Yá podeis salir de la carreira. Joquin, bei alhá se tenes maneiras, rapaç. Nun ampurres ls tous cumpanheiros. – recumenda-le l cundutor.

– Çculpai alhá, Tiu Zé. Ye que stou mesmo aflitico por ir a la retrete...

– Esta mocidade... até son buonos moços. Quien me dira ne l tiempo deilhes i saber l que sei hoije! Daba un poulo nũa streilha. Ai, bida, bida!...

I Carlos, aquel malandro, cumpleta:

– Sós mais curta que cumprida...

– Dianho de l rapaç! Siempre de respuosta pronta i na punta de la lhéngua. Un die destes inda t’hei de fazer la cama. Olaré, se fago! Deixa star que nun perdes pula demora, sou cuco de la ribeira. – diç l cundutor alhá culs sous botones.

– Yá stá a tocar pa la sala? Bamos alhá, rapaziada! – apressa Anica.

– Buonos dies, Porsor.

– Buonos dies a tod’mundo. Bá, assentabai-nos nas carteiras. Marie de Lurdes, falta algun?

– Deixai ber, Porsor.

La delegada de turma passa ls uolhos pulas carteiras i bai dando cunta de quien falta al porsor Pedro que registra las faltas.

– Bá, toca a tomar nota de l sumairo: “Álgebra – ouperaçones cun polinómios. Rebison de ls trabalhos de casa.”

– Porsor!...

– Si, Carlos! Ora diç alhá...

– Nun sei l que quier dezir polinómios! Nunca oubi essa palabra...

– Ye matéria nuoba, Carlos. La delegada de turma puode arreculhir ls trabalhos de casa, se fai fabor.

– Porsor, l porblema era mi fácil... – diç Anica.

– Quien mais achou q’l porblema era fácel?

Quaije todos pónen la mano ne l aire.

– Pus bien, de las dues ũa: ou nun percebistes l porblema, ou stais uns ases nesta matéria. L porblema tenie todo, menos ser fácel.

– Biste, Jorge! You nun te dixe qu’eilhi habie marosca! – relembra-le Anica.

– À mius caros, pa ser buono a Matemática, hai que, antes de mais, ser buono aluno a Pertués. Cumo quereis perceber l que bos ye pedido ne l einunciado de l porblema, sin dominar la nuossa lhéngua?

Ls alunos antreolhában-se cun aire çcunfiado. Suspeitában q’habien sido apanhados na curba de la facelidade.

– Quien quier benir al quadro a resolber l porblema?

– Puodo ir you...

– Pus l quadro ye todo tou, Jorge. Amostra-mos alhá cumo resolbiste l problema.

Jorge iba zambolbendo l sou raciocínio; i ls sous cumpanheiros, todos an silenço, seguien l zanrolhar de la respuosta. Agora, yá nun se sentien siguros de nada.

– Yá acabei, Porsor.

– Aton bamos a ampeçar por lher l einunciado de l porblema. Rita, fai fabor de l lher, pausadamente i an boç alta.

– Todos percebistes l que bos ye pedido?

La turma, cada beç mais baralhada, nin tugie nin mugie. Agora, éran mais las dúbidas que las certezas. Afinal, l porblema nun era assi tan simple. Habie que fazer un eilaborado raciocínio pa zanrolhar l filo a la meada.

Cun toda la calma, l porsor iba splicando l que dezie l testo; tomórun nota de las bariables i custantes q’antrában ne l problema; i, a seguir, pediu a Jorge pa tornar a resolbé-lo.

– Yá stá, Porsor.

– Bamos anton a ber... Stá cierto, Jorge. Mui bien, rapaç! Stais a ber cumo la nuossa lhéngua ye tan amportante para mos ajudar a perceber outras deceplinas?

La aula cuntinou, tal cumo todas las outras de la manhana, cun antusiasmo pulas nuobas matérias qu’eilhi s’ansinában.

Apuis d’almorçáren na cantina, Jorge i Anica fúrun a bejitar Jeremias. Gustaba-les muito cuidar de l cabalho. Tenien feito grande amisade antre todos trés. La bejita a las loijas seguie rituales qu’eilhes cumprien cumo ye de-lei.

Botában-le auga fresca i quemida, scobában-lo, lhabában-lo, montában-se nel, fazien-le fiestas i mais fiestas...

I Jeremias, quando ls bie chegar, zataba a relinchar a la spera de cenouras. Apuis, daba-le ũas marradicas na cabeça dun i doutro, pa q’l lhibertássen i scobássen. Sabie splicar-se mui bien. Mas habie algo q’eilhes nun cumprendien. Jeremias yá nun quemie qualquiera cousa i staba cada beç mais biqueiro. Se le botássen yerba berde i tienra, si la quemie; mas, se fússen yerbas secas, cumo palha i feno, scusaba-se a quemé-los. Staba agora cula mania de só quemer yerba se fusse berde. Quemie bien maçanas, cenouras, milho, cebada i bena que le botában. Sabemos que la dieta percipal dun cabalho ye la yerba fresca ou bien cunserbada. I, se nun la hai, ten que se cuntentar cun palha i feno. Mas, sendo cuntrariado, sabie amostrá-lo mi bien: batie cula pata delanteira dreita ne l chano, ũas trés ou quatro bezes; i, apuis, ponie-se a raspiar l chano, relinchaba, abanaba la cabeça i daba chibatadas cul rabo. I, p’acabar cula fiesta, só le restraba dar mais ũas patadas.

Ls moços, bendo q‘l cabalho quedaba cada beç mais ruinico, botórun-se de cuntas qu’era ourgente ancuntrar ũa seluçon. Tenien inda bien presente l q’habien daprendido na liçon de Matemática, nun tanto pula matéria, mas subretodo pula maneira de le pegar i que debien seguir pa cumprender un porblema.

Ls dados stában todos alhá: Jeremias só querie quemer yerba berde, l alimento qu’era la base de la sue dieta. Na falta de yerba berde, negaba-se a quemer feno i palha.

Anica dou un poulo, cumo se tubisse ancuntrado ũa lhuç al fondo de l túnel:

– Jorge, perciso que m’ajudes. Yá sei l que bamos a fazer.

– Ora cuonta alhá isso!...

– Anda, ben daí...

– I adonde bamos?

– Cunfias ou nó an mi?

– Inda preguntas?

– Anton, anda.

Fúrun até a la garaige adonde stában arreculhidas la carreira i las ferramientas de la lhaboura. Fúrun, anton, a tener cul mecánico que mantenie todo an orde i a funcionar cumo debe ser.

– Buonas tardes, Tiu Anible!

– Buonas tardes, moços. Que benis eiqui a fazer?

– Percisamos que mos deis ũa ajudica.

– Olhai que bós! You sou mecánico, nun sou porsor...

– Pus ye por isso mesmo que percisamos de bós.

– Aton, dezi-me alhá l que benistes eiqui a fazer?

– La cousa nun ye bien para nós, mas pa l Jeremias.

– Bó! Quereis ber que s’abariou l motor al cabalho?! – ri, meneando la cabeça.

– Nun gozeis, Tiu Anible! Olhai q’l caso ye mui sério. – atalha Anica.

– Anton, moça, nun t’amportas de splicar?

– Ye que, agora, Jeremias só quier quemer yerba berde i fresca; cumo l feno nun ye berde nin fresco, nin sequiera l proba.

– I adonde ye que you entro nisso? – pregunta l mecánico.

– Tengo ũa eideia.

– Las moças quando se pónen cun eideias...

– Scuitai-la, Tiu Anible. – pediu Jorge.

– Anton, diç alhá, moça.

– Pensei que podiedes ajudar-mos a fazer uns ócalos pa l Jeremias.  Ua cousa que seia a la medida del!

– Uns ócalos pa l cabalho?!

– Si, si. Apuis, cun papel celofane berde, fazemos-le las lhientes.

Tiu Anible, coçando ls ralicos pelos de la careca, tentaba cumprender la situaçon.

– Bien, you tengo eilhi arame. Mas nun tengo esse tal de papel celofane.

– Nós bamos a buscá-lo a la sala de Trabalhos. Bós ajudais-mos? – pregunta-le Jorge.

– Bai alhá anton, Anica, anquanto you i Jorge tiramos las medidas al cabalho.

Anica bolaba que nin ũa paixarina, toda cuntenta por se ber ambolbida nũa eideia tan strordinaira. I, nun stantico, staba yá de buolta a l’oufecina, adonde eilhes inda stában a dobrar l arame.

– Bamos, anton, alhá al celofane. I cumo ye q’l bamos a sigurar ne l arame?

– Cun cola, ou fita-cola, nun sei... – respunde-le Jorge.

– Bamos a ber cumo calhará melhor. – remata Tiu Anible.

– Ls ócalos stan mesmo ũa purfeiçon. Ora dezie-me alhá, de buossa justícia, se nun stan bien guapos?! – pregunta Anica, na sue angenuidade, bendo l sou porjeto yá acabado.

– Bamos a poné-los al Jeremias. Ora beni cumigo. – diç-les Jorge todo campante.

Ponírun i amanhórun ls ócalos al cabalho. Quedórun-le mesmo un spanto! De seguida, Jorge i Anica bótan-le ũa manadica de feno na manjadoura i...

– Olha par’el, Jorge! Stá a quemer!... Mas que çafado!... Cun q’anton solo te sirbe yerba berde?!...

– Sabes, Anica, yá miu pai dezie: “Qualquiera burro come palha; l segredo stá an saber dar-la.” – lhembra-le Tiu Anible.

Agradecidos, Jorge i Anica dan cada qual sou abraço bien arrochado a Tiu Anible, que, pul feito i cumo eilhes, se rie que nin un perdido...

 

Traduçon de l cunto:  © António Preto Torrão, 12-03-2022 

 

 

 


Partilhar:

+ Crónicas