Batista Jerónimo

Batista Jerónimo

Lares sinonimo de deposito de …

Filho és  pai serás, como fizeres, assim acharás,

neste caso dos Lares será:

 na cama que fizermos nela nos deitaremos.

Os Lares tal como estão desenhados, são a última morada dos seres (des)humanos, a última estação para a vida eterna. É confrangedor e desumano acordar e ver sair O do lado. Para aonde vai? Para aonde vamos todos - diz a voz que mais logo lhe serve o pequeno-almoço.

Quando nasceram os Lares (havia Asilos), foi para os velhos abandonados terem um fim de vida melhor, sair da solidão da sua casa, sem condições de salubridade, alimentação e acesso aos cuidados de saúde. Depois foi necessário melhorar o depósito dos velhos, até porque apareceram clientes que podiam pagar melhor e para estes apareceram os Hotéis Geriátricos ou Residências da Sabedoria, espaços físicos mais acolhedores, disponibilidade serviços diversificados, mas com mesmo ambiente de morte latente.

Sou de opinião, não de agora, que é necessário reflectir e investir nestes equipamentos para retirar a carga mórbida do espaço físico onde utentes são tratados como os coitadinhos que estão no corredor para preparar a longa e sem retorno, viagem.

Hoje em dia, a grande parte dos Lares está sob o domínio da Igreja, o que a sociedade só tem a agradecer, mas será que os Eclesiásticos, todos eles, estão preparados para estar à frente dos destinos dos Lares? As direcções são escolhidas por estes, quem escolhem estão preparados para esta gestão de pessoas idosas e serem também ecónomos? Nas Santas Casas de Misericórdia difere pouco e nos investimentos particulares idem.

Os Responsáveis Técnicos têm liberdade e são-lhe criadas condições para porem em prática o que absorveram dos estudos? O recrutamento foi pelo conhecimento e humanidade? Ou como é hábito a selecção foi por qualidades colaterais? Teremos os dois casos, certamente.

Então teremos três entidades (Comissões Fabriqueiras, Santa Casa da Misericórdia e Investidores) e dois segmentos de “Clientes” os Idosos ricos e os Velhos pobres. Se as duas primeiras entidades evoluírem (dado que as duas estão na dependência do Prelado) para uma gestão integrada, partilha de conhecimento, formação, adoptar outra tipologia de edifício, com áreas de utilização interiores e exteriores, obrigatoriedade de espaço exterior, promover a alternância na partilha de quarto, mudança de quarto e até de estrutura, salas de convívio menores e temáticas, tudo isto para os utentes não darem pela falta do que foi levado pelas funerárias (obrigatoriamente terem acesso discreto), incluindo para os Bombeiros (na medida do possível em carros descaracterizados e em silêncio). Os Investidores, não havendo lei que os obrigue, por selectividade dos utentes, são obrigados a adoptar estas ou outras medidas humanizadas.

Mais fácil será a entidade que paga e fiscaliza, Segurança Social, ser ela a implementar mudanças, melhorias e fundamentalmente humanizar estes equipamentos fundamentais para as sociedades desenvolvidas.

 Não é pelo Covid-19 que se devem implementar metodologias diferentes, nem mudanças avulso ou impensadas, mas só depois de testadas e validadas. Com o Covid-19 ficou a população em geral e os responsáveis em particular a ter conhecimento de que, o sistema actual foi o melhor que à data se conseguiu mas, obrigatoriamente tem de evoluir nos vários campos identificados, sem prejuízo de outros, os lares não podem continuar a ser depósitos de Velhos indefesos, sem futuro nem ambições.

Aproveitar as fragilidades identificadas e o diagnóstico acumulado é o tempo de agarrar a oportunidade para melhorar, tanto nos edifícios caracterizados e desumanizados, como nos Recursos Humanos e na relação com a comunidade dos futuros utentes.

Bragança, 12/08/2020

Baptista Jerónimo


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